Influencer morto em acidente já havia batido e sofrido perrengues com Fusca
Antes de morrer na batida do seu VW Fusca 1978 nos Estados Unidos, o viajante brasileiro Jesse Kozechen já tinha sofrido pelo menos outro acidente com o mesmo carro durante sua jornada rumo ao Alasca - iniciada no Brasil em maio de 2017.
Kozechen e Shurastey, seu cachorro de estimação, faleceram na última segunda-feira (23), quando o Fusca e um SUV bateram de frente em uma rodovia do Oregon. As circunstâncias da colisão são investigadas pelas autoridades locais.
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Em outubro de 2019, o influenciador perdeu o controle do Volkswagen na Costa Rica, quando a coluna de direção quebrou e os freios falharam embaixo de muita chuva.
"Em uma curva, a direção sumiu, o freio falhou e nós fomos direto contra a cerca de uma casa! Estávamos devagar, a estrada era muito ruim e cheia de buracos. Na curva, passamos direto, eu tentei frear sem entender o que tinha acontecido porque segui tentando girar o volante, mas de nada adiantou. A barra que encaixa na caixa de direção havia se rompido! ", disse o influenciador na época, em publicação no Instagram.
Esse foi um de muitos perrengues que Kozechen e Shurastey enfrentaram durante a viagem, que já tinha percorrido mais de 85 mil km e atravessado 17 países até ser interrompida de maneira trágica.
Em seu perfil no Instagram, o influenciador aparece em muitas fotos consertando o veículo antigo, que apelidou de Dodongo e aprendeu a reparar "na marra" - ele dizia não ter nenhuma experiência com mecânica até iniciar a aventura. As diversas panes incluíram outra quebra na coluna de direção e eram assunto recorrente das suas postagens.
Ciente do risco que ele e seu cão corriam a bordo do carro antigo, no fim de 2019, logo após o acidente na Costa Rica, Jesse iniciou a reforma do veículo no México para deixá-lo mais seguro, custeada com recursos de uma rifa realizada entre seus seguidores. Em março de 2020, com a restauração ainda em andamento, Kozechen revelou preocupação com a segurança do veículo, a ponto de ter considerado interromper a viagem que fazia a bordo do VW.
Devido ao fechamento da fronteira com os Estados Unidos causada pela pandemia do coronavírus, Jesse e Shurastey deixaram o Fusca no México e voltaram ao Brasil em setembro de 2020 - a viagem só foi retomada em janeiro deste ano, já com o Volkswagen reformado, com o qual a dupla deixou o México e começou a cruzar os EUA.
Isso não impediu, contudo, novas panes no automóvel.
"O rolamento interno da roda traseira tinha estourado por completo e já não dava mais pra andar com o Fusca daquele jeito. Eu levei mais de cinco horas pra terminar o serviço, mas economizei cerca de US$ 300 de mão de obra", disse o aventureiro no dia 26 de abril, quando estava em Spingfield, no Missouri.
Antes da restauração, a coleção de problemas mecânicos era extensa. Jesse contou no Instagram que já teve de trocar cabos de embreagem e acelerador e até retirar o motor do carro.
Foi o que aconteceu em abril de 2019, quando ele e seu golden retriever estavam em Iquique, no norte do Chile.
"Demorei umas três horas até conseguir tirar o motor, apertei o que pude apertar, ajeitei o eu pude ajeitar. Agora vem a pior parte: montar tudo ajustar e colocar para andar! Até onde vai aguentar? Não sei, mas gostaria que aguentasse mais 500 km até o Peru, onde as peças e mão de obra são mais baratas e fáceis de se conseguir", disse na época.
Naquele mês, em San Pedro de Atacama, também no Chile, ele precisou regular as válvulas do seu velho guerreiro - e contou com a "ajuda" do seu companheiro inseparável.
Mesmo reformado, Fusca continuava inseguro
Segundo especialista consultado por UOL Carros, mesmo após a restauração, o Fusca não seria capaz de proporcionar a segurança da qual Kozechen e Shurastey tanto precisavam na colisão frontal do Volkswagen contra um Ford Escape na Rodovia US-199, perto da cidade de Selma.
Na batida, Dodongo ficou completamente destruído e seus ocupantes morreram no local. No SUV, todos sobreviveram: a motorista de 62 anos, que precisou ser hospitalizada, e uma criança, que saiu ilesa da batida.
Somente a perícia irá esclarecer a causa do acidente, mas a diferença de idade entre os carros envolvidos ajuda a explicar por que Jesse e seu golden não resistiram ao impacto enquanto aqueles a bordo do utilitário esportivo escaparam da morte.
Não sabemos o ano de fabricação do Escape, mas fotos do acidente evidenciam que se trata de um projeto moderno na comparação com o Fusca, produzido há 44 anos.
"A diferença entre os dois veículos quanto a itens como tecnologia construtiva, disponibilidade de equipamentos de segurança, materiais empregados e exigências para homologação é enorme tanto na prevenção contra o impacto quanto na redução dos danos causados pela batida aos ocupantes", informa Michel Braghetto, membro da Comissão Técnica de Segurança Veicular da SAE Brasil.
De acordo com o engenheiro, de 1978 para os dias de hoje os automóveis ficaram muito mais seguros, não apenas devido à evolução das técnicas para fabricá-los, como também a reboque de normas regulatórias cada vez mais rígidas impostas pelos governos às montadoras.
"No passado, a legislação era mais flexível. Além disso, há algumas décadas não existiam, como hoje, institutos independentes de segurança veicular, que realizam testes de impacto para informar o consumidor quais são os modelos mais seguros e inseguros disponíveis no mercado".
Braghetto destaca alguns fatores que evidenciam essa evolução, dentre eles o conceito de estrutura deformável: se no passado a resistência a impactos era vista como sinônimo de qualidade, há alguns anos a regra é construir veículos com carroceria deformável, capaz de absorver e distribuir a energia proveniente do impacto antes que ela chegue ao motorista e passageiros.
É como se o próprio carro funcionasse como um amortecedor. Assista ao vídeo abaixo, comparando o teste de colisão de diferentes gerações do Toyota Corolla, para ter uma ideia das diferenças.
"A tecnologia evoluiu com o uso de diferentes materiais na estrutura do veículo para dissipar e distribuir essa energia em locais estratégicos, enquanto outras partes mais rígidas compõem uma célula de proteção no habitáculo", explica o engenheiro.
Michel Braghetto esclarece que a filosofia hoje é combinar tecnologias de proteção passiva, feitas para mitigar os danos causados pelo impacto, com dispositivos de proteção ativa - projetados para evitar a colisão.
Os airbags, os cintos de segurança, a carroceria deformável e até os bancos pertencem ao primeiro grupo, enquanto recursos como freios ABS, controles de tração e estabilidade e assistentes à condução, como frenagem automática de emergência, detecção de pedestres, sensor de ponto cego e alerta de saída involuntária da faixa, integram a segunda categoria.
"O Fusca é um projeto da época da Segunda Guerra e não traz nada disso. Se tivesse recursos como freios a disco e direção assistida e mais precisa, o risco de acidente poderia ter sido minimizado".
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