Como união com Fiat e Jeep ajudou a reerguer Peugeot e Citroën no Brasil
Peugeot e Citroën são marcas que estão em uma nova fase no mercado brasileiro. Não se tratou de autoajuda: na verdade, os fabricantes são os maiores beneficiados pela formação da Stellantis, grupo automotivo que engloba marcas como a Fiat e Jeep.
A união de diferentes grupos sob o mesmo guarda-chuva não é uma novidade, o próprio Brasil já viu isso há mais de 30 anos com a Autolatina, junção entre a Ford e a Volkswagen. Mas o que muda em relação às marcas francesas? Conversamos com o especialista Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, para entendermos como é esse novo momento e o que podemos esperar.
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O primeiro ponto é a posição privilegiada que a antiga FCA ocupa nacionalmente. "Ao contrário da Europa, a antiga FCA é muito mais forte, a Peugeot e Citroën tinham uma participação diminuta no Brasil, enquanto a Fiat e Jeep estavam mais poderosas do que nunca. A presença da Stellantis deu uma vida muito maior para a antiga PSA", disse Pagliarini.
"Era uma determinação do chefe Carlos Tavares, que proibiu os fabricantes de terem prejuízos. As francesas estavam com uma escala de produção muito diminuta, com isso, tudo que eles faziam era mais caro, peças, publicidade, tudo. Nada era viável, incluindo ações comerciais fortes. Com a Stellantis, foi dado um tratamento comercial muito parecido com Fiat e Jeep, publicidade digital mais eficiente, financiamentos, escala, tudo isso entrou na conta e facilitou", completa.
Foi esse esforço comercial redobrado que ajudou as francesas a ganharem mercado nos últimos tempos. A Citroën divulgou que as suas vendas saltaram em 143% em maio em relação a abril. O Cactus é o único carro de passeio vendido pela companhia, e o SUV alcançou 4,1% de share do segmento, um incremento de 1,5%. As vendas no mês passado foram boas, ele alcançou 1.590 unidades, face 570 em abril.
No entanto, será o novo C3 o responsável pela explosão no número de concessionárias. A rede passará a ter mais de 170 lojas no final deste ano, um aumento de 70%.
A recuperação da Peugeot foi facilitada pela oferta de mais carros de passeio, que inclui o 2008 e o 3008. Vamos tomar o 208 como exemplo. O hatch vendeu 2.812 unidades em maio, ficando à frente do Renault Kwid, contra 1.736 em abril. A marca alcançou 2,81% de participação geral no mercado.
Nada mal para um modelo que desagradou a rede no início da sua comercialização. O motivo seria o baixo número de vendas. Contudo, parece que a maré virou, e a rede também deve ser ampliada - o número atual fica próximo do previsto para a Citroën. A Peugeot foi a marca que mais cresceu em 2021: 126% em relação a 2020. E já conseguiu expansão de 122% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.
Como é o processo de casamento
A primeira fase da união é a comunalização de produtos e componentes. Não se trata de um rebranding, nome que se dá quando apenas se reempacotam o mesmo carro e mudam os emblemas e detalhes. São automóveis e utilitários quase que completamente diferentes, todos com ganho de escalas e economias de desenvolvimento. O quase é justificado pelo fato que há muita coisa em comum, porém, sem perder o que diferencia cada um dos fabricantes.
"Os desenvolvimentos de engenharia foram facilitados. O 208 tem motor 1.0 que vem da Fiat e permite ampliar a cobertura de mercado do hatch. O novo C3, que deveria ter sido lançado em outubro de 2021, mas teve que passar por alterações, é outro veículo que permitirá ao pessoal da antiga PSA alcançar o volume de consumidores que já deveriam ter", explica Cassio.
O consultor também lembra dos maus bocados que passaram os concessionários da Peugeot e da Citroën. Em 2020, eles chegaram a pedir a anulação da fusão entre a PSA e FCA, tudo por causa dos percalços que afligiam a rede de lojas, que se sentiu aflita com a queda das vendas de ambas marcas.
A ampliação no número de concessionárias das marcas do grupo Stellantis ainda tem um outro problema à vista: conflitos entre grupos de ambos os lados.
"Um ponto positivo é que você tem quatro marcas fortes, o que permite trabalhar grupos de concessionários fazendo investimentos na Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën. Os showrooms devem ser separados, mas o back office todo pode ser unificado, incluindo seguros, financiamentos, assistência técnica e depósito de peças. Mas tem o lado ruim: você pode ter concessionários que estão há muito tempo com as marcas francesas. Eles têm uma preocupação se vão sobreviver quando grandes grupos de concessionárias investirem pesado", ressalta Cassio.
O próprio C3 gerará outros dois derivados: um sedã compacto e um utilitário um pouco maior, modelo que ficará logo abaixo do C4 Cactus, o único carro produzido pela marca em Porto Real, no Rio de Janeiro.
A despeito de terem adotado componentes da Fiat e Jeep em um primeiro momento, a Peugeot e Citroën também servirão de base para as parceiras. É o caso da plataforma CMP, arquitetura modular que está no novo baby Jeep, modelo abaixo do Renegade que está longe do Brasil, mas representa um primeiro passo da união para o outro lado.
"É apenas um sonho, mas estamos torcendo muito", afirma fonte ligada à Jeep. Sem falar no expertise da extinta PSA em veículos elétricos. Seria um movimento que fecharia a corrente de colaboração e compartilhamento entre as casas. Não é mais noivado, agora é casamento.
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