'Mulher da Casa Abandonada': carro que apodrece há 20 anos tem salvação?

Margarida Bonetti, tema do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", quer devolver à vida o Voyage que está enferrujando há cerca de 20 anos na garagem do imóvel de sua família em Higienópolis, na capital paulista.

Segundo um vizinho contou ao jornalista Chico Felitti, autor do podcast do jornal "Folha de S.Paulo", Bonetti recentemente manifestou o desejo de colocar o sedã para rodar. Coberto por ferrugem e sujeira, o Volkswagen tem pneus arriados e praticamente não é utilizado desde 1998, quando morreu Geraldo Vicente de Azevedo - pai de Margarida e antigo proprietário do veículo.

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"Outro dia, ela perguntou se não dava para encher os pneus desse carro. [Respondi que] não tem como tirar esse carro daí mais. Não liga mais", disse Francisco, zelador de um prédio ao lado da mansão que pediu para não ter o sobrenome publicado.

Segundo ele, Margarida, que prefere ser chamada de Mari, contou que gostaria de deixar o veículo em frente à casa para impedir o estacionamento de caminhões ali. Devido ao podcast, a residência tem atraído diariamente uma multidão de curiosos e era ocupada por Bonetti em condições precárias, sem água nem esgoto - ela teria deixado o imóvel há alguns dias após uma das janelas supostamente ser atingida por um tiro.

UOL Carros consultou especialistas em automóveis antigos para saber se o Voyage 1988/1999 a álcool tem salvação e o que seria necessário para deixá-lo novamente em condições de rodar.

Para começo de conversa, nossas fontes dizem que itens como borrachas, tubulações e pneus, sem mencionar a parte elétrica, teriam de ser substituídos ou reparados.

Dois lojistas acostumados vender carros antigos detalham os itens que requerem atenção para "reativar" o velho VW.

"Carro na loja às vezes fica um mês, dois meses parado no mesmo lugar. Mesmo com o freio de mão abaixado, você vai empurrar e o freio está grudado. Você tem de dar uma volta para soltar. Você imagina 20 anos parado", opina Robson Cimadon, o Alemão, dono da loja Século 20, localizada em Santo André (SP).

De acordo com Alemão, o correto, antes de mais nada, é colocar o carro em um cavalete ou elevador e tirar as rodas para ver como estão os freios. Ele também recomenda trocar todas as mangueiras porque, mesmo sem exposição ao sol, elas provavelmente estão ressecadas e o risco de uma delas estourar é grande.

'Caixa de surpresas'

Além disso, Cimadon diz que não se deve tentar ligar o motor antes de revisar a parte mecânica, bem como esgotar todos os fluidos, como combustível, óleo lubrificante e os liquidos de freio e do sistema de arrefecimento - sem mencionar os filtros. Outra dica importante é limpar o tanque de combustível.

"Aí sim você põe óleo novo, combustível novo, bateria nova, bate a chave e vê no que dá. Mesmo com todos esses cuidados, pode estar batendo tudo. É um risco que você corre", alerta o empresário, que diz já ter recusado uma Ford Ranger 2001 diesel zero com cerca de 30 km rodados.

"Fiquei com medo de comprar, o dono não batia a chave havia dez anos. Resolvi não arriscar, para revender você não sabe o que vai ter de gastos e não dá para contar com a sorte. Já peguei um VW Gol com 600 km rodados e foi lavar, bater a chave e o motor pegar. Estava parado, mas o proprietário ligava dia sim, dia não. Mas ficar tantos anos parado é uma caixinha de surpresas", relata.

Segundo o zelador Francisco, o carro estaria pouco rodado, o que pode ajudar a ressuscitá-lo.

"A edícula [onde está o Voyage], às vezes eu vejo ela subir, só usa um tanque que tem lá atrás e tem o carro que é um Voyage que era do pai dela. Até os meninos falavam que ele comprou esse Voyage bem novinho na época e saiu pouquíssimas vezes com esse carro".

'Leva um tempo para ficar bom e confiável'

Silvio Luiz, proprietário da loja Old is Cool Motors, na cidade de São Paulo, segue a mesma linha de raciocínio.

Ele destaca que o ideal, considerando carros tanto tempo parados, seria rodar com eles à caça de problemas, após realizar os procedimentos básicos descritos acima.

"É um buraco negro, não dá para saber. Digo para meus clientes: se está pegando um carro que ficou muito tempo parado, tem de andar. Leva um tempo para o carro ficar bom e confiável. Não dá para precisar quanto custaria", analisa

Luiz salienta que o Voyage poderia ser adquirido por um colecionador, dependendo do estado de conservação e da respectiva quilometragem.

Nesse caso, explica, há quem reforme o carro inteiro."Tem outros que só fazem o motor funcionar, reativam o veículo e guardam. Não trocam nem os pneus para não tirar a originalidade".

Vale destacar, por fim, que o Voyage ainda tem placas amarelas, que deixaram de ser emitidas em 1991 em São Paulo, onde o sedã está registrado. O processo para regularizar a documentação do veículo não costuma ser rápido nem fácil.

Segundo o Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), o sedã não tem pendências nem dívidas. Para receber as placas Mercosul e voltar a rodar legalmente em vias públicas, teria de ser registrado como carro zero-quilômetro pela Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), acrescenta o departamento.

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