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Carro com 'rodão': por que moda polêmica pode te deixar no prejuízo

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Julio Cabral

Do UOL, em São Paulo

17/08/2022 04h00

Pode ser uma questão de estética, vontade de incrementar o desempenho do carro ou puro modismo. O fato é que a substituição de rodas por outras de maior tamanho pode causar prejuízo. Normalmente, a substituição vem acompanhada da troca de pneus, outra prática que pode não ser saudável para o bolso. UOL Carros conversou com especialistas para alertar sobre os riscos.

A prática não é proibida, mas tem que respeitar algumas regras. Segundo a resolução 292 do Contran, de 2008, é proibido "o aumento ou a diminuição do diâmetro externo do conjunto pneu/roda". Também é vetado o conjunto que ultrapasse os limites de largura dos para-lamas. Caso seja parado, o condutor será multado em R$ 195,23, receberá cinco pontos na CNH por ter desobedecido à legislação e terá o carro retido.

Mas o Código Brasileiro de Trânsito Brasileiro, modificado pela lei 14071, de 2020, diz que "veículos classificados na espécie misto, tipo utilitário, carroceria jipe poderão ter alterado o diâmetro externo do conjunto formado por roda e pneu, observadas restrições impostas pelo fabricante e exigências fixadas pelo Contran". Ou seja, há uma exceção para os utilitários, um alívio para aqueles que usam enormes pneus off-road.

No caso dos automóveis, os efeitos sobre os componentes mecânicos e comportamento do carro são enormes. "Quando você compra rodas maiores e instala pneus mais baixos e largos para manter o diâmetro, isso muda o carro em dinâmica, aceleração, manobras e partidas. Os carros manuais são ainda piores, porque você pode estragar a embreagem em saídas", alerta Marco Barreto, docente de engenharia mecânica da FEI.

O professor lembra que é possível substituir rodas e pneus originais por outros que já são certificados pelo fabricante, exemplo da diferença entre os equipamentos de um determinado modelo de entrada e da sua versão top de linha. Isso quer dizer que o equipamento já foi homologado, o que é bem diferente da substituição por conta própria.

"Parece coisa simples trocar por rodas e pneus não homologados, mas há equipamentos que não são de qualidade ou estão fora das especificações exigidas. O carro pode ter uma percepção diferente de dirigibilidade, mas o consumidor não sabe os efeitos negativos", complementa Carlos, que lembra que boa parte das pessoas procura apenas o efeito estético da mudança.

Rodas maiores, pneus mais baixos, tudo prejudica a rodagem do carro. As alterações diminuem a capacidade de absorção desempenhada pelos pneus. Usar um "rodão" e perfil baixo pode ser uma conjugação que pesa no bolso, por mais que a sensação de maior controle e aderência seja um ponto desejado pelos interessados.

"Se você pegar um buraco, um pneu de perfil mais alto e rodas menores podem absorver melhor. Eu raramente vejo um perfil mais alto com uma bolha lateral, mas pneus mais baixos podem ter a trama de aço interna rompida e outros problemas com maior frequência", conta Carlos Rodrigues, docente de engenharia mecânica da FEI. O professor complementa que o desgaste de componentes da suspensão será maior, outro prejuízo para quem deseja fazer a troca.

Ainda devem ser considerados outros fatores. A resistência de uma roda maior é menor, algo causada em parte pela dificuldade de absorção de impactos dos pneus. Cada um deles tem especificações rígidas de performance, parâmetros que incluem a capacidade de carga e velocidade. Colocar um conjunto de rodagem mais pesado influencia na dinâmica desnecessariamente, uma vez que não são recomendados ou necessários para aquele tipo de carro. É um superdimensionamento.

Somado a tudo isso, os freios têm sensibilidade alterada, o hodômetro e velocímetro passam a ter uma margem de erro maior, a eletrônica do ABS e outras salvaguardas pode ser prejudicada, ainda que ligeiramente, enquanto a direção ficará mais durinha.

Os efeitos mecânicos da substituição de rodas e pneus por outros mais avantajados são diversos ou, até mesmo, impactam até na saúde dos ocupantes. "A pessoa que substituiu o pneu por um mais baixo perdeu a característica de frequência entre os componentes e de tudo que está acima do conjunto de rodagem. Isso pode até trazer dores no tórax e na coluna", afirma Carlos.

Fazer bem o cálculo da largura máxima não é o caso da maioria de consumidores interessados na alteração. Preservar o diâmetro não pode ser o caso de "matemágica", é necessário calcular bem. O professor Carlos Rodrigues, docente do departamento de Engenharia Mecânica da FEI, fez uma conta elaborada a nosso pedido.

"Um pneu 175/75 aro 15 tem 131,25 de altura de perfil. Para manter a mesma altura da banda lateral na troca, o pneu precisaria ter 218,75 mm de largura", calcula Carlos. Seria quase impossível manter o diâmetro do jogo.

É uma largura inviável para muitos compactos, pois não é uma medida habitual para carros de passeio pequenos. Resultado: será difícil manter a altura de rodagem do novo jogo e, com isso, muitos parâmetros podem ser alterados. Incluindo aí a dificuldade de manobrar o carro, cujo ângulo de esterço pode ser limitado ao extremo, além de raspar nas caixas dos para-lamas. Há quem altere essa parte para comportar as novas rodas e pneus.

São vários os fatores que devem ser levados em consideração na hora de pensar em deixar o carro mais bonito e/ou esportivo. As alterações podem sair caras sob vários aspectos.

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