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ANÁLISE

Carros elétricos vão promover onda de demissões em montadoras?

REUTERS/Babu
Imagem: REUTERS/Babu

Do UOL, em São Paulo

24/08/2022 08h00

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A Ford vai demitir cerca de três mil funcionários nos Estados Unidos, segundo indica matéria da revista Fortune. A maioria deles está ligada ao projeto de motores e transmissões, áreas que serão duramente afetadas na transição na fabricação de carros elétricos. UOL Carros conversou com especialistas para saber até que ponto o movimento de demissões será considerado uma nova pandemia na indústria automotiva.

Em relação ao fabricante americano, os demitidos são os chamados empregados white collar (colarinho branco), funcionários que se distinguem dos blue collar (colarinho azul), os responsáveis pela produção direta dos veículos.

"Estão cortando os funcionários de desenvolvimento de veículos a combustão, motores, transmissão e plataformas, basicamente estão demitindo os engenheiros de desenvolvimento'', afirma Cássio Pagliarini, sócio da Bright Consulting.

Ainda de acordo com a Fortune, são três mil funcionários a menos no Canadá e Estados Unidos, sendo 2 mil assalariados em tempo integral e mil sob contrato determinado. Somente o primeiro grupo representa 6% dos 31 mil funcionários de tempo integral, mas não estamos incluindo os 56 mil trabalhadores sindicalizados destes territórios.

A justificativa é diminuir custos em um momento em que a marca segue o caminho da revolução dos carros elétricos. Não será diferente com os outros grupos automotivos.

O carro elétrico pode ser mais simples em termos de powertrain, mas não chega a ser mais básico do que um a combustão interna em relação a outros fatores. "De fato, os sistemas de propulsão têm menos peças nos modelos elétricos e pode exigir menos pessoas para projetar ou produzir, mas isso não significa que vai gerar um desemprego em massa quando vier a eletrificação. A maior parte do restante do carro é igual, tem a carroceria, montagem, interior e eletrônica", analisa Marcelo Alves, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP e membro do Centro de Engenharia Automotiva da instituição.

Conforme indica o professor, "existe um aumento nas áreas de eletrônica, circuitos de gerenciamento e baterias, coisas que podem ser menos demandantes em mão de obra". Ele também lembra que os cortes não devem responder por percentuais muito elevados, embora cada emprego perdido seja uma tragédia pessoal para o ex-funcionário.

Há quem seja pouco positivo com a questão dos níveis de emprego da indústria pós-eletrificação. Um dos nomes mais relevantes é Carlos Tavares, chefão do grupo Stellantis. O executivo já alertou que a obrigatoriedade da eletrificação total europeia até 2035 pode causar muito mais demissões do que o projetado.

Outros mercados seguem a mesma escala de proibição, algo que deixa alguns fabricantes alarmados, enquanto outros apostam em metas próprias de eletrificação total e nem precisarão se adequar ao ultimato de alguns governos. A MINI é um exemplo de marca que será inteiramente elétrica até 2030. Já o gigante grupo General Motors promete fazer o mesmo até 2035. A grande questão a ser respondida é a demanda por elétricos, que tem que subir no mesmo ritmo da transição.

O que também está acontecendo é uma readequação do perfil dos veículos. Muitos fabricantes preferiram abandonar carros de menor lucratividade para focar nos que têm maior faixa de lucros.

Há outras áreas que podem sentir o impacto dos elétricos puros, aqueles que funcionam somente com baterias. Segundo fonte da indústria automotiva brasileira, que preferiu não se identificar, a cadeia de fornecedores e os serviços disponíveis nas concessionárias e pós-venda em geral deve ser impactada pelos motores e transmissões mais simples. Ao mesmo tempo, a exploração e fabricação de elementos necessários para baterias (e as próprias) tornará a cadeia mais complexa em termos de funcionários.

E quanto ao panorama de emprego da indústria nacional? Cássio explica que a expansão dos modelos elétricos será mais lenta em nosso mercado. Segundo estudo da Bright Consulting, as vendas de veículos eletrificados devem chegar a 15% em 2027, porém, apenas 4% serão elétricos.

"Não deve acontecer a redução a curto prazo, o que deve acontecer é o aumento do emprego, pois o Brasil está investindo na eletrificação híbrida. É algo que adiciona complexidade aos carros. As empresas passarão a precisar de mais especialistas", projeta o consultor, que também relembra que a solução do etanol vai retardar mais a eletrificação total no nosso mercado, algo que não será possível em outros países.

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