Renault Kwid E-Tech é o carro elétrico acessível com o preço de SUV
Os carros elétricos estão se popularizando no Brasil, mas ainda não viralizaram. Chamar de popularização é algo que ainda é prematuro, uma vez que os preços são bem mais elevados do que os pares a combustão. E poucos carros podem ser melhor comparados a um modelo semelhante do que o Kwid, uma vez que o subcompacto tem uma versão convencional.
Posso afirmar que, sim, teria um compacto elétrico, mas seria necessário seguir a mesma lógica que a maioria dos consumidores particulares adota: a de ter um deles como segundo ou terceiro carro da casa. Enquanto eu me esforço para pagar o meu hatch compacto, a realidade ainda não bateu na minha porta. Ainda?
Os consumidores "pessoas físicas" dominaram as vendas: foram 80% dos compradores contra 20% de pessoas jurídicas.
Seria ótimo usar um carro do tipo no dia a dia, oportunidade que a Renault promoveu no primeiro contato que tive. Foi um passeio tipicamente paulista: sair do parque do Ibirapuera, passar por pontos famosos como a Avenida Paulista e terminar nos bairros chiques de Pinheiros e Vila Madalena, regiões conhecidas pelo trânsito engarrafado. Foi a hora de saber como se porta o hatch importado da China.
O anda e para é um momento em que muitos consumidores se sentem mais conectados aos seus carros. Não foi diferente comigo, mas o problema é que muitos pontos que eu mudaria também foram notados. Como muitos motoristas, adoro ouvir uma boa música enquanto dirijo. Pode ser uma rádio ou por conexão via smartphone. Mas só há dois alto-falantes, algo que me lembrou o meu antigo walkman. Até pensei que poderia ser apenas a interferência das antenas da Paulista, porém foi algo que me seguiu ao longo do trajeto.
Não tem jeito, o Kwid E-Tech é um Kwid em suas qualidades e também defeitos. O meu pé esquerdo buscou por um apoio, mas a única opção foi deixá-lo repousando no assoalho. Muitos compactos dispensam o recurso em suas versões mais baratas, no entanto senti falta de um lugar para acomodar o meu pé tamanho 44. A ergonomia também é atrapalhada pela falta de ajuste de altura e de profundidade da coluna de direção. Sem falar nos bancos com abas laterais discretas demais para segurar o corpo.
Outro toque que poderia ter sido adicionado são os comandos para o som no volante ou na coluna de direção, algo a que estou habituado desde que testei os primeiros Renault da minha carreira automotiva. A tela de sete polegadas tem um senão: são sete polegadas, contra oito do Kwid normal. Ela ainda deve conectividade sem fio com o smarthpone e a interface está datada.
Não dá para exigir muito pelo preço. Se você quiser um compacto elétrico da Renault com cara de hatch compacto refinado, passe logo para um Zoe. O porém dele é o preço, dado que o Kwid E-Tech custa quase R$ 100 mil a menos - são R$ 146.990, contra R$ 239.990.
Para eu não falar que o Kwid E-Tech tem como diferença apenas a propulsão, a verdade é que ele tem evoluções perante o carro convencional. Para começar, há airbags de cortina para todos os passageiros - são apenas laterais dianteiros no primo a combustão. Sim, eu falei certo, visto que só há ocupantes laterais, nada de levar alguém no meio do banco traseiro. O que gera um ponto ironicamente elogiável: ninguém vai roçar os ombros no assento traseiro. O espaço é suficiente para as pernas de pessoas com altura inferior a 1,75 metro. O porta-malas manteve os mesmos 290 litros.
Por sua vez, o painel também é diferente. O mostrador digital concentra informações de autonomia e de carga, cabe aos instrumentos laterais informar o ritmo de economia (à direita) e carga e posição do câmbio (à esquerda). Tudo se soma ao seletor de velocidades do câmbio de apenas uma marcha. Há um comando giratório com as opções drive, neutro e ré.
Carrinho verde na selva cinza
Ao longo da viagem urbana, gostei muito da disposição do Kwid E-Tech. Como se trata de um carro urbano, a Renault se prende ao número de aceleração de 0 a 50 km/h, prova na qual o hatch leva 4,1 segundos. A arrancada de 0 a 100 km/h é cumprida em 14,6 s, número semelhante ao de um Sandero 1.0.
Claro que o propósito do carro é viver na selva urbana e fazer pequenas escapadas para os arredores. Na prática, o carrinho arranca bem mesmo com o modo Eco acionado. Com ele desativado, é possível partir até na frente dos frenéticos motoboys paulistas.
Falando no Eco, o modo é acionado por um botão no painel e limita a potência a 33 kW, contra 48 kW do normal. Somado a isso, a velocidade máxima é limitada a 100 km/h, contra 130 km/h. O modo de regeneração de bateria fica mais forte neste modo.
A potência fica próxima da encontrada em carros populares de pouco tempo atrás. São 61 cv e 11,5 kgfm de torque, números que levam bem os 977 kg do carrinho. Só para você ter um parâmetro de comparação o Kwid convencional tem propulsor 1.0 de 71/68 cv (etanol/gasolina) e 10/0,4 kgfm de torque, sendo beneficiado pelo peso de apenas 820 kg.
A frenagem se aproxima do encontrado em qualquer elétrico, dado que os modelos do tipo possuem freios regenerativos, aqueles que recuperam a energia da frenagem para realimentar as baterias. Aliás, não é necessário nem frear para fazer esse efeito, basta tirar o pé do acelerador. Quanto ao alcance, a autonomia divulgada é de 265 km no ciclo misto e 298 km no urbano, segundo norma do Inmetro.
O comportamento dinâmico tem suas diferenças, algo que é causado não apenas pela propulsão elétrica, mas também pelo peso maior das baterias. Tudo é compensado em parte pelos pneus 175/70 aro 14, medida um pouco mais larga que os 165/70 R14 do Kwid não eletrificado.
O isolamento acústico é um ponto alto. Como elétricos não contam com o ruído do motor - há apenas um baixo aviso sonoro para alertar pedestres em baixa velocidade -, todo o isolamento tem que ser repensado.
Aproveitando que entrei no assunto diferenças, o design tem os mesmos faróis e tudo mais, mas se diferencia, principalmente, pela ausência de grade. Há apenas uma cobertura do plugue de recarga. Detalhes anodizados ficam juntos às entradas de ar e são replicados nas laterais do carro, onde também há a inscrição E-Tech. Quem olhar mais atentamente vai notar que as rodas têm quatro parafusos, enquanto o Kwid normal aposta em três.
Após o teste a autonomia desceu algumas dezenas de quilômetros, algo em torno de 45 km. O amplo uso dos freios ajudou na tarefa de não esgotar a bateria. Já que o assunto é recarga, a Renault informa que a recarga rápida (de 15 a 80%) leva 40 minutos, o wallbox de 7,4 kW consegue fazer o mesmo em 2 horas e 54 minutos e, por último, o carregador portátil exige 8 horas e 57 minutos para cumprir a mesma missão.
Sucesso de mercado
A Renault vendeu o primeiro lote de 750 unidades em menos de dois meses, a previsão é que chegue um novo por volta de dezembro ou janeiro do próximo ano. Nada menos que 280 concessionárias serão responsáveis pelo atendimento, embora algumas serão mais especializadas nos serviços, uma bela vantagem face aos concorrentes. De acordo com o fabricante, o subcompacto é até seis vezes mais econômico do que um similar movido a gasolina/etanol.
E como é manter o Kwid E-Tech? A Renault promete revisões mais baratas do que as do Kwid convencional. As três primeiras revisões (até 30 mil km) custam R$ 506, um belo desconto face os R$ 1.529 exigidos pelo primo. Se levarmos em consideração os 60 mil km, as seis primeiras revisões custam R$ 1.780, cerca de duas vezes menos do que os R$ 3.840 cobrados pelo carro normal. A explicação é que o elétrico tem menos peças e exige menos manutenção.
Ainda há o plano Renault on demand, que tem quatro opções de planos: 12, 24, 36 ou 48 meses, além de quilometragens entre 1.000 e 3.000 km mensais.
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