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Museu Fittipaldi faz 19 anos sem público e com acervo escondido de credores

Emerson Fittipaldi ao volante de Copersucar que pilotou na F-1; advogados dizem que ex-piloto usa museu para blindar patrimônio - Reprodução
Emerson Fittipaldi ao volante de Copersucar que pilotou na F-1; advogados dizem que ex-piloto usa museu para blindar patrimônio Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL

21/09/2022 04h00

Criado em 2003, o Museu Fittipaldi, espaço que seria dedicado à vitoriosa carreira do ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi no automobilismo, com exposição de carros, troféus e outros objetos que marcaram sua trajetória, nunca foi aberto ao público.

Isso não impediu a iniciativa de virar notícia: atualmente, não se sabe o paradeiro do seu acervo, pois é alvo de pedidos de penhoras feitos por credores do bicampeão da Fórmula 1 e das 500 Milhas de Indianápolis.

O Museu Fittipaldi possui CNPJ ativo, inscrito para "atividades de museus e de exploração de lugares e prédios históricos e atrações similares" e tem como endereço a Avenida Rebouças, região nobre de São Paulo, onde fica uma mansão que seria pertencente a Emerson. O museu tem como único sócio o próprio ex-piloto.

Apesar de ter quase 20 anos de existência no papel, o museu só virou assunto na imprensa em 2016, quando a Justiça penhorou e determinou a apreensão do Fittipaldi FD-04, carro em que Emerson disputou as temporadas de 1976 e 1977 da Fórmula 1; e do Penske número 20, com o qual ele ganhou as 500 Milhas de Indianápolis e o título da Fórmula Indy em 1989.

Também foi alvo de penhora o troféu do primeiro título de Fittipaldi na F-1, em 1972. Na época, representantes do museu alegaram na Justiça que os bens apreendidos eram de sua propriedade, e não do piloto - portanto, não poderiam ser confiscados.

Não há registros de inauguração, eventos ou exposições no museu.

Credores dizem que museu é para blindar patrimônio

O Copersucar amarelo já chegou a ser penhorado - Claudio Larangeira/UOL - Claudio Larangeira/UOL
O Copersucar amarelo já chegou a ser penhorado
Imagem: Claudio Larangeira/UOL

Em 2016, após a penhora dos carros, a defesa do Banco ABC, que cobrava uma dívida de R$ 393 mil na Justiça, alegou que há uma confusão patrimonial quanto às empresas de Fittipaldi, o que dificulta a cobrança. Também afirmou que o museu não estava totalmente regularizado para desempenhar sua finalidade específica.

Ainda assim, o juiz Rogério Marrone de Castro Sampaio entendeu que "há uma prova documental idônea (...) da composição de um acervo em homenagem à vitoriosa carreira do piloto" e determinou a devolução dos itens.

O magistrado disse, ainda, que o museu poderia vir a se regularizar e que, de qualquer forma, tinha "existência autônoma e personalidade jurídica própria. Isso lhe dá legitimidade para possuir bens". Segundo o juiz, grande parte dos carros só teve sua nacionalização admitida pela Receita Federal em razão de seu vínculo ao museu.

Alguns meses atrás, decisão da juíza Fabiana Marini, em processo movido pela empresa Sax Logística de Shows e Eventos, a Justiça penhorou novamente os carros históricos.

Em documento enviado à Justiça, os advogados do ex-piloto contestaram a penhora, sob o argumento de que os bens pertenciam ao museu. A Sax Logística declarou à Justiça, no entanto, que as alegações da defesa de Fittipaldi eram uma "nítida manobra [do ex-piloto] para ocultar seus bens e fraudar credores".

Fittipaldi respondeu à acusação dizendo que o espaço foi constituído anos antes da assinatura do contrato com a referida empresa. Contudo, a juíza manteve a decisão da penhora, ressaltando que o endereço é o mesmo da empresa executada, o que indica, segundo ela, "evidente confusão patrimonial".

UOL Carros teve acesso aos carros

Em dezembro de 2019, UOL Carros conferiu de perto os veículos, que na época estavam reunidos por Paulo "Loco" Figueiredo, colecionador de carros antigos e amigo da família Fittipaldi, em um imóvel na região central da capital paulista.

A visita ao museu informal, denominado "Espaço Fittipaldi", contou com as presenças do próprio Emerson, do irmão Wilson e de outros familiares - e rendeu reportagem publicada em 5 de fevereiro do ano seguinte.

Na ocasião, Figueiredo disse à nossa reportagem que havia reunido e restaurado os carros e que buscava patrocínio para levar a coleção para visitação pública em outro endereço. Porém, logo após a publicação da matéria, os veículos e outros objetos históricos foram retirados do endereço.

A mais recente informação que UOL Carros obteve sobre o paradeiro dos carros é que eles estiveram em um galpão da fábrica de veículos Athos by Chamonix, que produz réplicas autorizadas de veículos da Porsche no interior de São Paulo.

Em abril passado, procuramos o empresário Newton Masteguin, proprietário da Athos, para confirmar a informação, e a resposta foi de que os carros "estiveram [na fábrica] por algum tempo e já retornaram para ele [Fittipaldi]".

Atualmente, diversos credores buscam saber a localização desses modelos.

Emerson está pagando as dívidas?

Recentemente, Emerson Fittipaldi afirmou que 90% da sua dívida está paga. No entanto, segundo informações do UOL Esporte, a declaração não é exatamente verdadeira. As dívidas teriam apenas mudado de mãos. Isso porque a empresa AF Serviços Financeiros estaria comprando dívidas de Fittipaldi por valores menores.

"É comum em situações assim comprar dívidas ajuizadas em R$ 1 milhão por R$ 100 mil, por exemplo. Se a empresa recuperar R$ 150 mil, o lucro é dela", diz a reportagem. Segundo a apuração, a massa falida da Manchete, por exemplo, aceitou receber R$ 5 milhões, em seis parcelas de R$ 833 mil, para dar quitação da dívida que, naquele momento, já girava em torno R$ 30 milhões.

UOL Esporte também apurou que o colecionador de carros antigos Paulo Figueiredo, o Paulo Loco, estaria por trás da compra dos débitos, o que ele e Emerson negam. Paulo é curador de uma coleção de veículos antigos que ocupa cinco galpões em São Paulo (as fotos abaixo são de uma visita do UOL Carros ao local em 2019), mas cujo dono é mantido em segredo.

"Não tenho nada com o Paulo Loco. Ele é um amigo que ajuda a cuidar dos carros", afirma Emerson Fittipaldi.

Com boa parte das dívidas do ex-piloto equacionada, o prédio na Rebouças poderia ser negociado.

Com o dinheiro dessas vendas, o ex-piloto poderia quitar as pendências com a AF e ainda sair no lucro. Emerson, porém, despista sobre a estratégia.

Marcelo Magalhães, dono da AF, diz que, como é credor do ex-piloto, não pode dar entrevistas - sob pena de prejudicar a estratégia de recuperação do crédito. Mas confirmou que fez pagamentos para se tornar credor de dívidas.

Fittipaldi lucra com os carros?

Fittipaldi surgiu em Spa Francorchamps, na Bélgica, com um dos carros históricos, o Copersucar F5 - Reprodução - Reprodução
Fittipaldi surgiu em Spa Francorchamps, na Bélgica, com um dos carros históricos, o Copersucar F5
Imagem: Reprodução

O advogado de uma das empresas credoras de Fittipaldi, que preferiu não se identificar, informa que, apesar de não poder vendê-los, Emerson lucra com a exposição de veículos que marcaram a sua carreira.

"Em nenhum momento, a defesa do Fittipaldi apresentou provas de que os carros foram doados ao museu. Na verdade, a gente acredita que é mais uma tentativa de blindar o patrimônio, caso contrário, ele doaria os veículos para a F-1 ou para o Estado de São Paulo, por exemplo. A população não tem acesso a esses carros, pois eles só aparecem em locais que pagam bem", diz a fonte.

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