Policial seria 3ª vítima dos airbags mortais no Brasil; morte é investigada
A morte de um policial civil no último dia 12, em acidente de trânsito na cidade de Belo Horizonte (MG), é investigada como a possível terceira fatalidade causada pelos "airbags mortais" da Takata no Brasil.
Alexandrino Guilherme Ferreira Junior, de 40 anos, dirigia um Honda Civic 2008 descaracterizado quando bateu em outro veículo na capital mineira. Segundo testemunhas, ele foi retirado do automóvel com ferimentos no peito e, no momento da batida, ouviu-se um barulho semelhante a disparo de arma de fogo - a perícia descartou essa hipótese.
De acordo com o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais, o ruído relatado seria proveniente do acionamento do airbag do motorista - alvo do maior recall da história automotiva no mundo. Bolsas infláveis da fornecedora Takata podem apresentar um defeito em uma peça denominada insuflador, que projeta fragmentos metálicos na direção dos ocupantes do carro.
Wemerson Oliveira, presidente do sindicato, diz que há fortes indícios de que essa falha tenha vitimado o investigador. O sindicalista também afirma que o Civic acidentado é de um depósito judicial e era utilizado para diligências por falta de viaturas.
"Tudo indica que foi o airbag. Temos essa certeza já. Não temos como confirmar que o carro estava no recall na Honda, porque não estão divulgando o chassi do veículo. A forma como explodiu o airbag reforça essa impressão e não teve disparo de arma de fogo. A perícia confirmou a ocorrência de estilhaços ainda no local da batida".
Vítima tinha estilhaços nos pulmões
Fontes ligadas ao IML (Instituto de Medicina Legal) de Belo Horizonte, que falaram a UOL Carros sob condição de anonimato, disseram que foram encontrados estilhaços do airbag nos pulmões de Alexandrino. Wemerson Oliveira revela que as viaturas usadas pelos policiais não passam por manutenção.
"O Estado não fornece viatura para trabalhar e os policiais precisam de veículo para as investigações. Quando há disponibilidade de veículo em condições de rodar, a gente solicita", conta.
O sindicato acrescenta que acompanha a investigação da Polícia Civil e está dando apoio jurídico à família do investigador. Nossa reportagem conversou com Luciene Oliveira, viúva de Alexandrino.
"Tem sido muito difícil para todos nós. Ainda estamos aguardando o laudo da perícia. Só temos o laudo médico, o qual informa que a causa da morte foi a perfuração torácica", relata.
Polícia não diz se carro tem recall não atendido
Questionado sobre as alegações do sindicado e também a respeito da possibilidade de o veículo integrar a lista do recall dos "airbags mortais", o Governo mineiro não se pronunciou até agora.
Também procurada, a Polícia Civil informa que "foi instaurado processo investigativo para apurar as causas e circunstâncias da morte do investigador de polícia Alexandrino Guilherme Ferreira, ocorrida em Belo Horizonte, decorrente de acidente de trânsito".
"De acordo com levantamentos periciais preliminares, não foram encontrados vestígios de estilhaços de projétil de arma de fogo no local dos fatos e no corpo da vítima. Outras informações serão repassadas em momento oportuno, com o avanço dos trabalhos", acrescenta a polícia por meio de nota, sem dizer se existe recall de airbags para o Civic batido.
Por sua vez, a Honda destaca que ainda "não há confirmação das informações sobre o veículo, de tal modo que não é possível afirmar se ele está incluído na campanha de recall do airbag Takata".
Segundo a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), a campanha de recall da Honda por causa dos "airbags mortais" compreende 314.945 veículos dos modelos Honda Civic, Fit e CR-V. A Senacon explica que, de acordo com o último relatório periódico de atendimento apresentado pelo fornecedor, foram realizados 204.450 atendimentos até o momento destes carros.
O recalls da Takata, que se estenderam a outras marcas e modelos, começaram em 2015 e afetam mais de 4,3 milhões de veículos somente no Brasil - cerca de 35% dos carros envolvidos ainda não passaram pelo reparo gratuito.
Casos no Brasil
Há quase dez anos, o mundo presenciou um dos maiores escândalos da indústria automotiva. A fabricante japonesa Takata havia produzido e distribuído para diversas montadoras airbags defeituosos, que causaram dezenas de mortes e ferimentos ao redor do mundo.
Em 2020, duas mortes no trânsito do Brasil foram atribuídas aos "airbags mortais". O primeiro caso ocorreu no Rio de Janeiro: em fevereiro daquele ano, a Honda confirmou que o motorista de um Civic 2008 morreu após colidir com o veículo. O automóvel havia sido convocado para recall em 2015 para troca do insuflador do airbag no lado do motorista, mas o reparo não foi realizado.
Já o segundo caso aconteceu em Sergipe. A Polícia Civil sergipana anunciou que a morte do condutor de um Chevrolet Celta 2014 em acidente de trânsito em Aracaju, foi causada por airbag defeituoso da fabricante Takata. A morte levou a General Motors a iniciar campanha para a troca do equipamento.
Também há relatos de pessoas que sobreviveram com ferimentos ao acionamento de airbags da Takata no país - dentre elas, um cliente da Honda cujo veículo tinha recall não atendido para reparo de airbags defeituosos. Esse cliente participou de campanha destacando a importância de comparecimento à convocação para reparo.
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