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Caixa-preta dos carros registra detalhes e ajuda a decifrar acidentes

"Cérebro" do air bag é capaz de gravar até a velocidade em que o motorista estava no momento do acidente - Foto: Shutterstock
"Cérebro" do air bag é capaz de gravar até a velocidade em que o motorista estava no momento do acidente Imagem: Foto: Shutterstock

Colaboração para UOL

30/09/2022 04h00

Componente principal em uma investigação de acidente de avião, a caixa-preta é um equipamento que grava todas as informações da viagem: velocidade, altitude, trajetória e até o áudio da cabine do piloto. Em uma versão mais simples, os carros também possuem uma ferramenta parecida, sendo que está disponível em quase todos os veículos norte-americanos e será obrigatório na Europa a partir de 2024.

A caixa-preta dos carros fica presa ao chassi e está conectada à centralina, que controla diversos aspectos do carro. Ela coleta dados de momentos antes e depois de um acidente, identificado por sensores. Com base nessas informações, é possível saber a velocidade do veículo na hora do sinistro, se o motorista pisou no freio ou acelerador - e com qual pressão -, se os passageiros estavam usando cintos de segurança, entre outros dados importantes para uma investigação.

Para se ter uma ideia da relevância disso, em março de 2021 o golfista Tiger Woods sofreu um acidente de carro grave. Ele afirmou que não se lembrava nem de ter dirigido naquele dia. Durante a investigação, a polícia pediu acesso às informações da caixa-preta do veículo, que fez com que os técnicos acreditassem que o esportista não pisou no freio quando saiu da estrada. Também não há evidências de que ele tenha tirado o pé do acelerador.

Caixa-preta escondida no airbag

Apesar desse equipamento não ser obrigatório no Brasil, o gerente sênior de engenharia da ZF - sistemista que produz desde transmissões até equipamentos de segurança ativa e passiva -, Plínio Casante, explica que todos os airbags saem de fábrica com um equipamento que têm função semelhante ao da caixa-preta. No entanto, alguns só gravam informações se o airbag for acionado.

Ele explica que a ACU, sigla para "Airbag Control Unit", funciona como o cérebro dos airbags, pois é o componente responsável por comandar em que momento eles serão acionados.

"Quando o veículo sofre uma desaceleração súbita, os sensores internos e externos transmitem os dados para o módulo eletrônico que, através de um algoritmo, determina se há a necessidade ou não de abertura das bolsas. O módulo age comparando o sinal a um conjunto de curvas-limite características de dados que são calibrados em diversos testes de impacto", explica o engenheiro.

Em cerca de 15 milissegundos, o ACU aciona as bolsas de ar, que protegem o ocupante do veículo de ferimentos graves. Além de acionar o equipamento, esse módulo armazena dados a partir do momento em que o acidente é detectado (na desaceleração súbita), funcionando como uma caixa-preta, com informações como velocidades, desacelerações nos eixos X e Y, acionamento do acelerador e freio e atuação do ABS ou controle de estabilidade durante e após o acidente.

Segundo Plínio Casante, os dados ficam mantidos no módulo eletrônico, que pode gravar até mesmo informações de um novo acidente.

"Se houver uma segunda batida, é possível ter acesso às condições do carro no momento dos dois sinistros. E isso não fere a Lei de Proteção de Dados, pois não registra o local e nem o condutor, apenas o fenômeno", esclarece. Segundo ele, o módulo já é utilizado em perícias após acidentes.

Cérebro do airbag também facilita resgate

Além de registrar informações do acidente, a ACU tem a capacidade de facilitar um resgate. Isso porque ela "avisa" aos outros módulos eletrônicos que o carro passou por um acidente. O sistema envia um sinal através da rede CAN e/ou através de um canal de comunicação específico, para que os demais módulos possam realizar funções como abertura das travas elétricas para facilitar o resgate, desligamento da bomba de combustível e, em alguns casos, acionamento de pedido de socorro pelo sistema de concierge, serviço de assistência pessoal que já existe em alguns carros no Brasil.

A ACU feita no Brasil pela ZF também atua em conjunto com os cintos de segurança, que são equipados com pré-tensionadores acionados pela unidade poucos instantes antes da abertura do airbag. A solução remove eventuais folgas no cinto e permite que ele atue de forma adequada.

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