Bagagem criativa: qual a mágica usada por marcas para aumentar porta-malas
O lançamento do Fiat Fastback trouxe à tona um fato interessante: é possível medir o porta-malas de um veículo de diferentes maneiras. Sem divulgar a metodologia utilizada, a marca italiana afirmou que o bagageiro do SUV cupê tem 600 litros de capacidade, mas no método "tradicional", usado como referência pelas montadoras, a litragem caiu para 516 litros. Afinal, qual é a mágica que amplia o volume dos carros?
O mentor de Design da Mobilidade da SAE Brasil, Ronaldo Lopes, explica que há duas referências utilizadas na indústria automotiva, uma baseada na VDA - de origem alemã - e outra norma da SAE americana. A norma aplicada pela VDA, ISO 3832, é a mais difundida atualmente entre as montadoras de todo o mundo. E é a que utilizamos para comparar modelos de carros aqui no Brasil.
Trata-se de uma metodologia de blocos - normalmente de isopor - que podem ser de dois tamanhos. No tipo A, como explica Lopes, eles têm dimensões de 400x200x100 e 8 litros de volume. No tipo B, as dimensões são menores: 200x100x50 e 1 litro de volume - o tamanho de uma caixa de leite.
"A opção B é a mais utilizada porque é mais fácil encaixar blocos menores. Basicamente, coloca-se no porta-malas a maior quantidade possível, acomodando de diversas formas. Por fim, a quantidade de blocos que couber determinará a litragem do bagageiro", explica o mentor de design. Portanto, se o porta-malas do Fiat Fastback tem 516 litros no padrão VDA, significa que cabem 516 blocos de um litro em seu interior.
Na metodologia da SAE dos Estados Unidos também são utilizados blocos, mas é permitido que eles tenham tamanhos diferentes. Ou seja, se não cabem mais blocos de 1 litro, é possível encaixar pecinhas de 500 ml ou mesmo 100 ml, aproveitando melhor o espaço.
"Nesse sistema, é natural que o volume encontrado para o porta-malas seja maior, pois os espaços que sobram no primeiro caso, são aproveitados nessa opção. Mas se formos pensar na vida real, nas malas e objetos das pessoas, a metodologia VDA faz mais sentido, pois são itens grandes, e não vários bloquinhos pequenos", opina.
"Montadoras são criativas", diz especialista
Além das duas referências baseadas em entidades, Lopes afirma que existem mais três formas de medir o porta-malas utilizadas pelas montadoras. Nessas modalidades, o aproveitamento de espaços "mortos" - onde não seria possível encaixar uma bagagem - pode ser ainda maior, elevando em até 20% o volume aferido em relação à referência VDA.
"O tamanho do porta-malas é determinante para a compra de um carro. Por isso, as montadoras são criativas. Algumas utilizam outras formas de medir, por conta própria, pois não existe uma regra obrigatória de medição", alerta.
Uma das possibilidades é, em vez de utilizar blocos de isopor, substituí-los por sacos plásticos com água. Assim, como os sacos são mais maleáveis, se encaixam melhor nos espaços. Para visualizar a cena, basta comparar como os sacos de leite ocupam menos espaço do que caixas, mesmo com a mesma litragem.
"Outra opção utilizada é colocar uma lona no porta-malas, ou na caçamba, em caso de picapes, e encher com água. O líquido invade todos os espaços. Até mesmo o que sobrou entre um saco e outro no método acima", diz Lopes.
A forma de medição mais recente, que aproveita até os mínimos detalhes, é a CAD. Na prática, utiliza-se um programa de computador para calcular o volume do bagageiro. A questão é que o software contabiliza tudo, até mesmo as fendas dos parafusos, como área útil para bagagem.
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