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718 Cayman GT4 RS é homenagem da Porsche ao fã purista dos automóveis

Rafaela Borges

Colaboração para o UOL

08/10/2022 04h00

"Se for para comprar um 718 Cayman GT4 RS e não levá-lo para a pista, melhor nem comprar. Nesse caso, fique com algum GTS, ou mesmo o GT4 convencional. Esse carro, o RS, é 90% pista." Assim o instrutor que levou a repórter de UOL Carros para uma experiência no autódromo Velo Città, no interior de São Paulo, com o mais novo integrante da família 718, definiu o carro.

De acordo com o profissional, integrante do time internacional de instrutores da Porsche, o 718 Cayman GT4 RS pode ser usado nas ruas, mas esta não é a melhor das ideias. "Mesmo em uma estrada bem pavimentada, ele balança tanto que seu companheiro de viagem vai acabar ficando estressado. E o barulho do motor, depois de longos trechos rodados, pode ser cansativo."

O 718 Cayman GT4 RS acaba de ser lançado no Brasil e tem preço sugerido de R$ 1.157.000. O modelo é baseado no 718 Cayman GT4, que chegou ao mercado nacional no ano passado - porém, momentaneamente a Porsche não está aceitando novos pedidos para esse produto. O RS recebeu mudanças para ficar mais leve e mais aerodinâmico.

Enquanto o GT4, que já é um modelo brutal, é classificado pela Porsche como um automóvel extremamente esportivo, o GT4 RS, de acordo com a marca, é um modelo para a pista. 35 kg mais leve, ele converteu uma volta no circuito alemão de Nurburgring em 7min9seg, 24 segundos mais rápido que o carro em que é baseado.

Design, acabamento e aerodinâmica

Os diferenciais do RS em relação do GT4 convencional são, principalmente, no uso de fibra de carbono. O material está na tampa do capô, nas entradas de ar do motor 4.0 aspirado, na capa dos retrovisores e no aerofólio. A asa, aliás, é presa à carroceria em uma solução chamada de "pescoço de cisne", para favorecer a aerodinâmica.

É o aerofólio o principal responsável por o RS ter carga aerodinâmica 25% superior à do GT4. Já o abundante uso de fibra de carbono é o que contribui para a redução de peso. O carro preparado para as pistas tem apenas 1.415 kg. O material também está nos bancos do tipo concha.

Revestidos de Alcântara, eles têm ajuste elétrico de altura. Mas, mesmo na posição mais alta, o motorista ainda fica bem grudado no chão. A profundidade é ajustável manualmente, enquanto o encosto não pode sofrer mudança de posição.

Ainda no capítulo redução de peso, as rodas (com 20 polegadas na frente e atrás) são de alumínio, de série, e opcionalmente de magnésio. Bem abertas, expõem imensos discos de freios e pinças que, no exemplar avaliado, eram na cor vermelha. Embora essa unidade, trazida temporariamente da Alemanha, não estivesse com freios de carbono-cerâmica, o item é de série nos 718 Cayman GT4 RS vendidos no Brasil.

Outra solução que contribui para a redução de peso é a ausência de maçanetas externas nas portas, substituídas por puxadores de tecido. O revestimento interno é dominado pelo uso de Alcântara (material que está até no teto), mas tem também couro com costura aparente e muita fibra de carbono.

Tecnologia e equipamentos

Porsche 718 Cayman GT4 RS - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O 718 Cayman GT4 tem suspensão 30 mm mais baixa. Porém, como no 911 GT3, traz um sistema comandado por meio da cabine que permite ao eixo dianteiro ficar 30 mm mais alto, conforme demanda. Isso facilita a passagem por valetas, lombadas e até a entrada em garagens com rampas muito íngremes.

Por falar em suspensão, ela é ajustada automaticamente de acordo com os gostos de direção do motorista - em relação a aspectos como barra e convergência. Outra tecnologia é o assoalho preparado para facilitar a passagem de ar sob o carro, deixando o RS ainda mais grudado no chão.

O painel de instrumentos ainda não incorporou os elementos virtuais presentes no Cayenne, Panamera e até no 911. Isso porque a linha 718 é de uma geração mais antiga de modelos da Porsche. O conta-giros fica no centro e o velocímetro, à esquerda. O terceiro mostrador, do lado direito, é configurável, podendo expor as informações que o motorista deseja.

Outro reflexo da gama 718 é o multimídia simples, que comanda poucas funções do carro. Quase todos os ajustes são feitos não na tela, mas nos botões no console central. Entre eles, as alterações de respostas de suspensão e conjunto motor-câmbio, por exemplo.

Diferentemente do que ocorre em modelos mais modernos da Porsche, não há um botão giratório no volante que concentra os modos como confortável, Sport e Sport Plus. No RS, ajusta-se cada componente separadamente.

Desempenho

Porsche 718 Cayman GT4 RS - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O 718 Cayman GT4 RS é o carro mais brutal da atual linha Porsche à venda no Brasil. O motor 4.0 aspirado boxer, de seis-cilindros, é central traseiro. Mesmo propulsor do 911 GT3, ele tem 10 cv a menos, por causa de ajustes realizados devido à disposição diferente - o do GT3 é traseiro.

Ainda assim, tem nada menos que 80 cv a mais que no GT4 convencional. A relação peso-potência impressiona: são apenas 2,8 kg/cv. Inúmeros superesportivos consagrados têm a partir de 3 kg/cv. O torque é de 45,5 mkgf e o câmbio, automatizado de sete velocidades e duas embreagens.

Essa transmissão tem o mesmo conjunto de embreagens do 911 GT3 RS e, de acordo com a Porsche, a relação de marchas mais curtas de toda a linha GT. Isso favorece e melhor saída de curvas. E que saída.

O RS é puro equilíbrio em uma distribuição perfeita de seu baixo peso. É pisar forte no pedal do acelerador para ter retomadas brutais, sem precisar brigar com a direção para que o carro cumpra sua trajetória.

Sair de curvas rapidamente é a especialidade do GT4 RS, cujo seis-cilindros grita alto e instiga, em um som real de esportividade, sem turbinas para abafar, soluções para criar um som artificial ou mesmo amplificadores. É uma perfeita conexão entre humano e máquina.

Nas três voltas na pista do autódromo, o RS mostrou que o equilíbrio é, mais que a redução de peso, a razão de ter cumprido em tempo tão baixo seu circuito em Nurburgring. Apenas em uma das curvas a reportagem exagerou e o carro deu uma leve escapada de traseira, mas voltar ao curso foi fácil - os sistemas de auxílio à estabilidade, entre eles a vetorização de torque, nem precisaram se intrometer demais.

Na reta principal do autódromo, o RS é aquele carro de levar o coração à boca e gruda o corpo nos bancos. Sua velocidade máxima é de 315 km/h e a aceleraçao de 0 a 100 km/h, feita em 3,4 segundos. Surpreende também a força dos freios. Nem é preciso acioná-los com muita força para o cupê começar a perder velocidade.

Após uma volta, a confiança já estava nas alturas, para postergar mais e mais o início da frenagem antes das curvas. Pisando forte no pedal, o carro reduz quase tudo com eficiência, e sem balançar. A conjunção de fatores que leva ao empolgante desempenho faz do RS uma verdadeira homenagem da Porsche ao fã purista de automóveis.

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