Vítima de racismo, Seu Jorge cria Fusca em protesto contra preconceito
Vítima de vaias e ofensas racistas durante show na última sexta-feira (14) em Porto Alegre, Seu Jorge é dono de um Volkswagen Fusca personalizado para exaltar a pele negra e protestar contra o preconceito.
Desde maio passado, o cantor e ator tem na garagem um exemplar pintado exatamente com a cor da própria pele. Foi o próprio Seu Jorge quem teve essa ideia, concretizada no VW Fusca 1979 que ele mandou restaurar e batizou como Black Service.
A expressão na língua inglesa pode ser traduzida como serviço de preto, termo de cunho racista ao qual o músico e ator quis dar novo significado.
Ele explicou a intenção ao receber o veículo pronto no condomínio onde mora, na Região Metropolitana de São Paulo.
"Black Service é o melhor serviço da praça. Chamar o carro assim busca ressignificar algo pejorativo que se fala, esse comportamento preconceituoso de julgar as pessoas pela cor da pele e sua etnia. É deslocar a gente desse lugar ruim", disse o cantor durante a entrega do Fusca, registrada em vídeo pela Trocar Autos Antigos - responsável pela execução do projeto.
UOL Carros conversou com Bruno Bertoli Almeida, diretor da Trocar, empresa especializada na restauração de carros antigos da Volkswagen com sede em Campinas (SP). Bruno, que administra o negócio ao lado do pai e do irmão, conta que o desafio de concretizar as ideias do cliente famoso começou em 2021.
"Nós fizemos o Fusca que pertenceu ao tio dele e apareceu no 'Domingão' [TV Globo] em novembro do ano passado. A ideia com esse primeiro Fusca foi manter a originalidade do visual externo e da mecânica. Com o Black Service, Seu Jorge quis algo totalmente customizado, da pintura ao motor", diz Almeida.
Segundo ele, o novo Fusca do músico trazia pintura verde e estava maltratado e enferrujado quando a transformação começou. A restauração envolveu a desmontagem completa do veículo e a remoção de toda a tinta original.
O processo levou cerca de sete meses para ser concluído, mais outros cinco referentes à parte mecânica, que ficou a cargo de uma empresa especializada na preparação de motores.
Os procedimentos de preparação, funilaria e pintura tiveram as parcerias da 3M e da Sikkens, marca de tintas que abraçou a ideia de reproduzir com exatidão o tom da pele de Seu Jorge na carroceria de um automóvel.
De acordo com Ozinei Manzano, gerente de vendas da AkzoNobel, proprietária da marca Sikkens, esta foi a primeira vez que a empresa fabrica uma tinta feita a partir de pele de alguém. A "digitalização" da cor de Seu Jorge foi realizada por meio de um equipamento denominado espectrofotômetro, utilizado no antebraço do coautor de "Burguesinha" e outros sucessos. Algumas tentativas foram necessárias por se tratar de algo nunca antes feito pela companhia.
"O espectrofotômetro foi projetado para leitura de superfícies plásticas e metálicas e não em seres vivos. Acredito que foi a primeira vez que o aparelho é utilizado dessa forma. Estamos muito orgulhosos de participar de um projeto como este, de ajudar a criar algo que represente a identidade de Seu Jorge", afirma Manzano.
Ele acrescenta que outra tinta foi criada a partir da leitura da palma da mão do ator de filmes como "Cidade de Deus" e "Marighella" para pintar o interior do Black Service. O couro legítimo que reveste a maior parte da cabine foi selecionado para ficar o mais próximo possível dessa tonalidade mais clara - destaca Bruno Almeida.
Bruno diz que foram produzidas duas amostras de cada tinta para o cantor escolher. As cores utilizadas no Fusca já integram o sistema online de busca e identificação de cores da AkzoNobel, podendo ser baixadas de qualquer lugar do mundo. Uma máquina da empresa produz a tinta misturando diferentes pigmentos, com base nos parâmetros obtidos pelo espectrofotômetro.
"A pedido de Seu Jorge, a cor externa é metálica para trazer variações conforme o ângulo e a intensidade da luz, como acontece com a própria pele. Ficou como se fosse um espelho e o carro tivesse saído da concessionária. Essa era a expectativa dele".
O diretor da Trocar aponta que foram necessários quatro meses somente com preparação, funilaria, pintura e polimento, envolvendo o trabalho de 50 pessoas.
Como é o Fusca Black Service
A pintura não poderia deixar de ser o grande destaque do projeto, mas o Black Service tem outros detalhes que vale a pena mencionar.
Bruno relata que seu cliente quis dar ao Fusca um aspecto mais esportivo. Para o veículo ficar mais imponente, os para-lamas originais foram substituídos por peças mais largas, que foram soldadas à carroceria.
Os piscas dianteiros foram integrados aos faróis de LED, enquanto as lanternas traseiras têm lente fumê;
A parte externa conta, ainda, com estribos e retrovisores personalizados, bem como rodas de liga leve de 17 polegadas com acabamento diamantado e o mesmo visual das peças que equipam o Porsche 914.
Por dentro, como não poderia deixar de ser, considerando o ofício de Seu Jorge, o VW recebeu sistema de som potente da JBL com subwoofer, conectado a uma central multimídia com câmera de ré.
Como mencionado acima, o habitáculo não economiza nos revestimentos de couro. Já o painel conta com mostradores individuais cuja serigrafia exibe o nome do proprietário.
A lista de modificações inclui volante com quatro raios, alavanca de câmbio com engate rápido, para-brisa degradê, console central com apoio de braço e porta-objetos, duas tomadas para carregamento de celulares e vidros dianteiros elétricos - os traseiros são basculantes.
Atrás, o Fusca recebeu dois bancos individuais do tipo concha e uma geladeira de oito litros - mais o logotipo Black Service iluminado entre os assentos, desenhado a mão por Seu Jorge.
Na dianteira, a suspensão é independente do tipo duplo A e o motor é um boxer 2.0 de quatro cilindros da Subaru, com cerca de 200 cv.
Ao receber o veículo, Seu Jorge deixou escapar que "essa é a primeira viatura Black Service". Pelo visto, virão outras.
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