Como transformar o carro mais vendido do Brasil em um veículo de corrida
O HB20 não tem forração no teto nem nos painéis, não traz banco traseiro e, quando roda, faz um barulho que seria difícil de suportar em uma via pública. Por fora ele é aquele bom e velho Hyundai que vemos por aí, veículo de passeio mais vendido do Brasil. Mas o resto...
Estamos falando do carro da Copa HB20, que está em sua quarta temporada e já tem a quinta confirmada para 2023. O modelo de corrida usa tudo do carro original, mas com modificações que o transformam em um veículo totalmente diferente de dirigir.
O HB20 da Copa é a mostra de que a preparação pode modificar totalmente o caráter de um carro. Do original, ele tem a carroceria, o motor, a suspensão e os freios. Mas tudo com uma alta dose de competição.
Estranhamente o pneu de rua foi mantido. "É porque o carro deve se parecer o HB20. Por isso, a decisão de não modificar os pneus", explica Fabiano Cardoso, diretor técnico da H Racing, empresa responsável pela preparação dos modelos da Copa.
UOL Carros pilotou um HB20 de corrida na pista do Velo Città, em Mogi Guaçu, interior de São Paulo. Confira como foi a experiência.
O que muda
Tudo o que acarreta em peso desnecessário foi retirado do HB20. Por isso não há painel, nem cobertura no teto. É só a carroceria. O modelo perdeu também todos os bancos, substituídos por um único, de corrida.
No exemplar avaliado havia dois, a pedido da reportagem, para que Cardoso pudesse ir ao lado, orientando-nos. Há alavanca do câmbio, mas as mudanças de marcha não são feitas nela, e sim por meio de hastes atrás do volante.
No painel, em vez do multimídia e de botões para o ar-condicionado, estão botões de ignição e de outras funções do carro de corrida. O painel de instrumentos digital traz em destaque informações sobre as marchas que estão sendo usadas.
Motor e suspensão
O motor 1.6 do HB20 de corrida não está mais na gama do hatch, que agora tem o 1.0 turbo e o 1.0 aspirado. Mas ele sobrevive, com seus 130 cv, no Creta com antiga carroceria, que ainda está à venda como versão de entrada do SUV.
No carro de competição, o 1.6 chega a 160 cv. Para obter esse número, foram várias mudanças. O escape foi trocado por um esportivo, que gera mais performance, pois silenciador e abafador do original limitam o motor.
A injeção também foi substituída por uma de competição, para fazer a reprogramação do motor. Os radiadores, por sua vez, são de alta performance. Com isso, o torque foi de 16 para 19 mkgf.
O câmbio é o automático de seis marchas da linha HB20 com eletrônica de competição. Com o novo gerenciamento, fica sequencial e mais rápido, sem suavidade nas trocas.
A suspensão é independente na frente e por eixo de torção atrás, como no HB20 de rua. Para o de corrida, a H Racing retrabalha a carga do amortecedor e coloca novas molas, de competição. "Com isso, o carro fica mais estabilizado", diz Cardoso.
O hatch traz ainda pastilhas de freio de alta performance. Quanto à segurança, é aplicado santantônio na cabine, item obrigatório em carros homologados para competições da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), e cintos de segurança de seis pontos.
Como é
Sabe aquele carro que você modificou inteiro para usar no track day? Ou ainda aquele 718 Cayman GT4 RS que é impossível de usar no dia a dia, mas se dá muito bem em uma pista? Esqueça ambos. O HB20 de corrida é algo completamente diferente.
Feito para competição, é um carro difícil de dirigir, principalmente por causa da resposta da direção. A assistência elétrica que o HB20 de rua tem está lá, mas desligada, para seguir as regras da categoria.
Por isso, o carro tem a direção extremamente dura, que exige "braço" do piloto e muitas correções para colocar o HB20 na trajetória correta. Como o hatch tem tração dianteira, nas curvas é preciso praticamente jogá-lo de lado para obter o melhor desempenho.
O pedal de freio é duro, e precisa ser acionado com muita força para desacelerar o carro, algo que é feito também por meio das hastes da esquerda, que reduzem as marchas.
A alavanca do câmbio só está lá para ser colocada na posição D (Drive) e mostrar que o carro está pronto para ser conduzido. Mas, para que ele comece a se movimentar, o piloto precisa manter puxada para a frente a haste da direita, responsável pelas marchas acima.
Fazendo tudo direitinho, o carrinho voa nas saídas de curvas e retas. Tudo isso com o piloto grudado no chão, sentindo todas as reações do HB20, e escutando um barulho tão instigante quanto ensurdecedor. É o motor gritando na aceleração.
No fim da reta do Velo Città, o HB20 de corrida é capaz de atingir cerca de 200 km/h.
A Copa HB20
Com carros preparados pela H Racing e patrocínio da Hyundai, a Copa HB20 é a competição monomarca com mais pilotos no grid: são 43. Eles estão divididos em três categorias: a de entrada Super, a intermediária Elite e a Pro, para pilotos mais experientes.
Porém, todos vão juntos para a pista. Os carros são idênticos. O que muda é o banco, ajustado para o tamanho e peso de cada piloto. Além disso, eles têm pinturas diferentes, de acordo com o patrocínio (e o gosto) do competidor.
Para correr na Copa HB20 é necessária a carteira PGCB, da CBA. Para obtê-la, é preciso ter algumas aulas teóricas e práticas em carro de corrida - oferecidas em centros de pilotagem, como o Roberto Manzini CP, em São Paulo, e o do próprio Fabiano Cardoso, em Tarumã (RS).
Não é preciso, no entanto, ter nenhuma experiência em competições anteriores. A temporada da Copa HB20 custou R$ 200 mil em 2022. Quem quiser correr em 2023 terá de pagar R$ 240 mil.
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