Rifas sem limites: sorteio ilegal tem até caminhão recheado de carros
Sete meses após a deflagração de duas operações policiais que investigavam rifas ilegais promovidas por influenciadores da área automotiva no Distrito Federal e em São Paulo, perfis continuam vendendo "números da sorte" e sorteando veículos em suas redes sociais, em as ações cada vez mais ousadas. Em uma delas, realizada no último sábado (22) pelo influenciador conhecido como Diogo 305, foi sorteado um caminhão-cegonha com dez carros.
Em seu perfil no Instagram, que conta com quase 2 milhões de seguidores, Diogo se define como youtuber e criador de conteúdo, mas desde junho a maior parte dos seus posts é sobre os carros e motos sorteados em suas rifas.
Entre os prêmios do sorteio estão um depósito por Pix de até R$ 10 mil, iPhones, carros populares, motos e até Porsche. A principal ação do ano, segundo o próprio influenciador, foi o sorteio do caminhão-cegonha carregado com dez carros populares.
Além do caminhão Mercedes-Benz Axor 2040 ano 2008, avaliado em R$ 160.426 pela Tabela Fipe, o vencedor do sorteio levaria outros dez veículos: Chevrolet Celta 2015, dois Chevrolet Onix (ano 2014 e 2015), dois Fiat Palio (2015 e 2020) e cinco Volkswagen Gol (2013 - duas unidades, 2014 , 2015 e 2017).
O influenciador não revelou as versões de cada carro, mas a soma de todos os prêmios chega ao mínimo de R$ 480 mil se considerarmos os valores das configurações mais baratas de cada modelo na Tabela Fipe. Cada número da sorte era vendido por R$ 18,90.
Apesar dos prêmios serem comumente entregues após o sorteio, esse tipo de ação é ilegal no Brasil. Chamados pelos próprios realizadores de rifas, sorteios deste tipo não têm registro nos órgãos competentes e se tornaram uma prática extremamente rentável.
Muitos organizadores até tentam passar a impressão de legalidade ao dizer que as rifas promovidas são filantropia premiável e os sorteios, realizados pela Loteria Federal. De fato, essa modalidade de sorteio existe e nada mais é do que um título de capitalização emitido por instituições financeiras sob autorização da Susep (Superintendência de Seguros Privados), cujo resgate é destinado a entidades beneficentes.
Contudo, a prática não prevê a venda de cotas individualmente, e sim a aquisição do título, que dá direito a um ou mais "números da sorte" para concorrer a prêmios. Além da filantropia premiável, sorteios também podem ser realizados mediante certificado de autorização da Secap (Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria), órgão do Ministério da Economia. Nesse caso, a comercialização de números, como é o caso de Diogo 305, também é proibida.
Conforme a Secap, é permitido a uma empresa sortear veículos e outros bens "por meio da venda de seus produtos" - ou seja, uma determinada quantia gasta dá direito a um ou mais números para concorrer aos prêmios. É o que costuma acontecer em ações promocionais de shoppings, por exemplo. Cabe às entidades citadas fiscalizar as empresas e investigar eventuais suspeitas ou denúncias de irregularidades.
Ganhador desconhecia ilegalidade da rifa
Vencedor do sorteio, Evandro Carrer conta que viu o anúncio nas redes sociais e decidiu comprar cem números, mas não ficou com os carros que ganhou.
"Como sou investidor, acabei negociando a venda dos carros direto com ele e optando pelo dinheiro. Já investi em outro meio, sem ter recebido o prêmio pessoalmente. Achei melhor ficar com o dinheiro, mesmo negociando com valor abaixo", informou ao UOL Carros.
Carrer afirma não saber que a rifa era ilegal e que não conhecia Diogo antes da ação. "Nunca tinha ouvido falar dele, cheguei até ele por um story no Instagram. Foram bem atenciosos, em nenhum momento desconfiei", disse o ganhador.
UOL Carros tentou entrar em contato com Diogo pelas redes sociais e e-mail, mas não teve retorno até o fechamento desta reportagem. Em seu site, há mais sete rifas em andamento, uma delas sorteando quatro veículos Toyota Corolla de uma vez. O influenciador não revela a quantidade de "números da sorte" comercializada.
Ações policiais contra rifas
Em março foram realizadas duas operações policiais contra rifas ilegais. Deflagrada pelos policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), a operação Cardano, contra esquema de lavagem de dinheiro e jogos de azar utilizando sorteio de carros de luxo, cumpriu mandados de busca e apreensão na cidade de São Paulo e nos municípios paulistas de Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santa Bárbara D'Oeste, Sorocaba e Votorantim.
O objetivo da operação foi apreender veículos, equipamentos e documentos de diversos influenciadores por suposto envolvimento em esquemas de rifas ilegais - dentre eles, Leonardo Pires, conhecido como Leo Avent, e Bruno Alexander, o Buzeira. Ao todo, foram apreendidos 24 veículos, 27 motocicletas, uma moto aquática e uma lancha.
De acordo com a Polícia Civil, os inquéritos investigam organizações criminosas que se dedicam à exploração de jogos de azar e lavagem de dinheiro.
"Foi criada uma modalidade de jogo de azar por meio digital. Os envolvidos utilizam plataformas de redes sociais, como Instagram e Facebook, para anunciar rifas e sorteios de diversos bens, principalmente veículos de luxo, obtidos com dinheiro de origem obscura. Os investigados multiplicam o dinheiro ilícito investido nas rifas. Os valores obtidos são posteriormente aplicados em outros investimentos, tudo com o intuito de lavar e multiplicar o dinheiro de origem ilícita", explicou a polícia, por meio de nota.
Na ocasião, o delegado do Deic Fabio Pinheiro Lopes afirmou ao SBT que, nesse esquema, não há recolhimento de impostos. "O dinheiro não tem origem, eles compram carro de leilão por 30% ou 40% do valor original. Um carro de R$ 100 mil é vendido por R$ 1 milhão", explica o delegado.
A outra operação aconteceu no Distrito Federal. Chamada de Huracán, levou à apreensão de nove carros de luxo, como Ferrari, Lamborghini e Mercedes, além de uma mansão no Park Way avaliada em R$ 4 milhões. Todos os bens pertenciam ao youtuber Klebim, que tem mais de 4 milhões de seguidores em suas redes sociais, e acabou preso suspeito de exploração de jogos de azar, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A ação ainda deteve outras três pessoas.
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