Nova onda de assaltos: bandidos roubam motos de luxo só para ostentar
O número de roubos e furtos a motocicletas acima de 500 cilindradas, consideradas de "luxo" ou "alto padrão", aumentou 84% entre janeiro e setembro de 2022 no estado de São Paulo, comparado com o mesmo período do ano anterior.
O que mais chama atenção nesses crimes, no entanto, é a motivação: diferentemente das motos de baixa cilindrada, que são, em sua maioria, furtadas para a venda de peças, o principal motivo das investidas contra os donos de modelos mais caros é usá-los para ostentação nas comunidades e redes sociais.
Quem analisa o cenário é Rodrigo Bouti, gerente de operações da Ituran, empresa de rastreamento de veículos, e responsável por reunir os dados da Secretaria de Segurança Pública do estado paulista. Ele explica que, no cenário geral de crimes contra veículos, há mais furtos a carros e motos populares, com a intenção de usar as peças para abastecer o mercado ilegal. No entanto, quando analisadas apenas as motos de luxo, o índice de roubo é de 80,56%, e aumentou cerca de 7% em relação ao ano anterior.
"Os donos de motos de luxo procuram por concessionárias e peças originais para realizar manutenções. Logo, não há procura em desmanches ilegais de peças para essas motocicletas. A grande motivação para roubos de motos de luxo é a ostentação e também a prática de outros delitos utilizando a moto para fuga do local", afirma o especialista.
Ostentando motos roubadas
Foi devido a publicações ostentativas nas redes sociais que policiais da Delegacia de Itapecerica da Serra descobriram o paradeiro de uma moto roubada na rodovia Regis Bittencourt, além da identidade dos autores do crime.
O assalto aconteceu no dia 20 de outubro e foi registrado por uma câmera instalada no capacete da vítima. As imagens mostram o momento em que um adolescente, na garupa de outra moto, atira contra o dono de uma Harley-Davidson e os estilhaços da viseira do capacete caem sobre o visor da moto.
O adolescente e o dono da moto usada no crime, Guilherme Martins Maria, 22 anos, foram localizados e detidos pela polícia no Capão Redondo, zona sul paulistana, quatro dias após o ocorrido. De acordo com o relatório policial, o adolescente postava em suas redes sociais fotos com motocicletas de luxo, "que não condizem com seu padrão social".
Túlio Augusto Martins Siqueira, presidente da Federação dos Motoclubes do Estado de São Paulo, confirma que os motociclistas já perceberam o aumento da atuação dos bandidos contra modelos de alta cilindrada. "As motos são usadas para rolê e depois desmanche. Para nos proteger, a dica é andar em grupo e evitar lugares que são tidos como perigosos", afirmou ao UOL Carros.
Além da ostentação, há relatos de que as motos são vendidas após remarcação de chassi.
Quando e onde os crimes acontecem
De acordo com os dados reunidos pela Ituran, quase metade (998) dos crimes registrados nos primeiros nove meses do ano contra as motos de luxo aconteceram na cidade de São Paulo, seguida por São Bernardo do Campo (149 casos), Santo André (105 casos) e Guarulhos (101 casos).
Na Capital, as regiões do Centro, Vila Andrade, Butantã, Santo Amaro e Vila Matilde são as mais visadas pelos bandidos. Entre as rodovias, a dos Imigrantes, Presidente Dutra, Anchieta e Fernão Dias também são pontos de cautela.
Um dado que chama muita atenção é que a maior parte dos roubos e furtos acontecem no fim de semana, com destaque para o domingo, com 600 registros entre o mês de janeiro e setembro.
"Os roubos em ambos os períodos (2021 e 2022) aconteceram mais aos domingos e na parte da noite, ou seja, o momento em que os proprietários deste tipo de motocicleta estão voltando do passeio. Eles acabam sendo vítimas de assaltos, geralmente próximo ou nas rodovias que chegam até São Paulo", analisa.
Segundo Bouti, também não se pode desprezar o alto número de registros de assaltos aos sábados, foram 385 casos em 2022. "A maior parte acontece aos sábados e domingos à noite, o que reforça ainda mais o roubo para ostentação em bailes funks das comunidades."
As motos mais visadas
Os dados da Ituran ainda mostram os modelos de motos mais roubados e furtados no período. Honda CB 500 e CB 600 Hornet aparecem na frente com 258 e 127 ocorrências cada, respectivamente. As japonesas são seguidas por BMW F800, BMW F650, Triumph Tiger 1200 e Kawasaki Versys 650.
A Secretaria de Segurança Pública não comentou os dados reunidos pela Ituran, mas afirmou que a Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (DIVECAR), do DEIC, realiza diversas ações para coibir não somente os roubos e furtos de veículos, incluindo motocicletas, mas também para combater a receptação e a venda ilegal de peças automotivas.
"Desde o início do ano, a especializada registrou 74 ocorrências sobre localização de motos de diversas marcas. No mesmo período, foram apreendidas 19.379 peças de motocicletas, incluindo de 'motocicletas de luxo'. A Polícia Militar realiza a Operação Hércules, para ampliar a sensação de segurança no trânsito e coibir crimes patrimoniais contra veículos. A ação já fiscalizou mais de 73 mil motocicletas e apreendeu cerca de 12 mil em situação irregular", afirmou por meio de nota.
* Com informações de Folha de S. Paulo
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