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Como a eletrificação deve ajudar tanques e veículos militares dos EUA

AbramsX - Divulgação
AbramsX Imagem: Divulgação

Julio Cabral

Colaboração para o UOL

16/11/2022 08h00

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Você já deve ter visto ou ouvido o antigo clichê da nova mobilidade: a eletrificação de veículos é um caminho sem volta. Embora a maioria desses novos meios de transporte sejam ligados ao segmento civil, a tendência vale também para os veículos militares. Enquanto o Brasil se vale de veículos de combate antigos e de maior consumo/poluição, forças militares estrangeiras já estão se movendo para mudar essa tendência.

O caso de maior destaque vai para as Forças Armadas dos Estados Unidos, a maior potência militar do mundo. UOL Carros entrou em contato com representantes do exército norte-americano do Pentágono para saber como é esse movimento que envolve não apenas esse braço, mas também outras forças, exemplos da aeronáutica e dos fuzileiros navais daquele país.

Não é segredo que o governo democrata do presidente Joe Biden tem investido dezenas de bilhões de dólares na eletrificação da indústria automotiva norte-americana, o que inclui o segmento de serviços públicos. Um belo incentivo. Claro que os militares entram na conta, uma vez que movimentam as necessidades de transporte de mais de 1,4 milhão de alistados, afora pessoas à disposição.

De acordo com representantes do Pentágono, os projetos fazem parte de um conjunto de iniciativas amplas. "As mudanças climáticas ameaçam a segurança da América e estão alterando os cenários geoestratégicos como nós conhecemos hoje. Para o soldado que hoje que está operando em ambientes de temperatura extrema, lutando contra incêndios e dando auxílio aos danos de furacões, a mudança climática não será em um futuro distante, já é a realidade", afirma Christine E. Wormuth, secretária do Exército.

O Exército vai mitigar e se adaptar às mudanças climáticas e, fazendo isso, vai ganhar uma vantagem estratégica, especialmente enquanto continuamos a superar nossos concorrentes mais parecidos."
Christine E. Wormuth, secretária do Exército dos EUA

Claro que tudo isso passa pelos veículos. Quando se pensa em veículos militares, a primeira coisa que vem à cabeça são tanques e veículos blindados de transporte, verdadeiras armas ambulantes. No entanto, as forças têm alistado modelos de todo o tipo. Pode ser um caminhão, uma perua, sedan ou um SUV. Todos eles entram no plano de neutralizar as emissões. E também são fáceis de serem encontrados no mercado civil e também se tornarem aptos com poucas modificações. As palavras de ordem são hibridizar e eletrificar.

Todas as instalações militares têm que ter um micro grid de energia até 2035. Não estamos falando de um grid alimentado pelos enormes geradores a diesel a serviço das forças militares, mas de um grid totalmente limpo até 2030. Todas as emissões terão que ter nível zero de emissões de gases formadores do efeito estufa em 2035.

Os veículos leves que não são de combate terão que ser movidos por eletricidade até 2027, enquanto os mais pesados têm até 2035 para girar a chave.

Os treinamentos e táticas de combate também terão que se adaptar às mudanças climáticas pelas quais o mundo passa, algo que afeta até as operações e construção de bases militares. Pode ser por causa do calor, tempestades e afins, o que importa é que esse movimento é definitivo.

De acordo com documento, o Exército sozinho comprou 740 milhões de dólares, o equivalente a quatro bilhões de reais, de energia da rede nacional a cada ano, o que jogou na atmosfera 4,1 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, além de metano, óxido nitroso e outros gases prejudiciais. Olha que essas emissões diminuíram 20% desde 2008.

Os planos atuais são de usar somente energia gratuita até 2030, além de investir também em instalações para armazenar essa energia toda. A ousadia vai além e contém o objetivo de emissões zero em todas instalações militares até 2045. Somente o exército norte-americano gerencia 13 milhões de acres de terra ao redor do mundo, proteger esses biomas também está na agenda.

O movimento não se restringe aos veículos de transporte universais ou aos de combate leve, um espaço que o Hummer (ou Humvee, como ele é conhecido pelas forças) já ocupou antes de ficar defasado para os parâmetros atuais.

Falando nele, a GMC - braço comercial da General Motors - já está pensando em adaptar o abrutalhado Hummer EV para a vida de caserna. Não é apenas um plano, o grupo está avançando rapidamente para se tornar um dos maiores fornecedores da nova onda de eletrificação do governo estadunidense.

Recentemente, a companhia começou a vender a ideia de equipar outros veículos com a plataforma de baterias Ultium EV, a mesma da nova picape Hummer. Tudo se acelerou após a GM Defense - a parte militarista do grupo - ter ganhado o contrato de fornecimento de veículos de infantaria, um marco que aconteceu em 2020 e, agora, está em fase mais avançada.

Não é algo restrito ao grupo General Motors. Embora tenha uma elevadíssima patente militar no nome - sabemos que a referência é outra -, companhias rivais andam a passos de marcha forçada.

Um exemplo barra pesada é a Oshkosh, companhia americana que fabrica maquinários de vários tipos, mas é mais conhecida internacionalmente pelos seus veículos militares. O seu protótipo híbrido oferece 20% a mais de economia e não precisa ser plugado em uma rede. A recarga fica a cargo do motor a diesel, que é capaz de completar as baterias de íons de lítio em cerca de meia hora.

A gigantesca BAE Systems está usando o Bradley, seu clássico veículo blindado de transporte de tropas, como plataforma de testes para sua nova tecnologia híbrida. Versátil, o blindado pode levar três tripulantes e seis passageiros - a capacidade muda de acordo com a versão -, em geral soldados com todos os equipamentos necessários para descer e entrar no cenário de combate na mesma hora.

Uma parte dos veículos utiliza propulsão inteiramente elétrica e sistemas plug-in, ou seja, são híbridos que podem ser plugados na eletricidade. Ter um diesel que recarrega as baterias não significa que os demais modelos tem baixa autonomia no modo elétrico. É bem diferente de um Toyota Corolla e Corolla Cross Hybrid, uma vez que eles rodam poucos quilômetros no modo EV. Um pack de baterias mais do que grande permite rodar bastante apenas na eletricidade.

Nem sempre será necessário um novo projeto, há a solução dos kits de eletrificação, uma tecnologia que pode reduzir o consumo em cerca de 25%. Em adição é possível aumentar o fornecimento de energia. No mundo militar, mais energia significa ter margem para aprimoramentos, algo que inclui novas armas e equipamentos de defesa e monitoramento.

Até tanques estão se tornando híbridos, caso do General Dynamics Abrams, um clássico da Guerra Fria, um modelo que mostrou tudo que sabe na Operação Tempestade no Deserto e outros cenários de combate. Agora, o mega conglomerado militar apresentou um protótipo do AbramsX.

É uma versão muito atualizada do clássico M1 Abrams, o principal tanque do Exército local. O consumo 50% menor é um dos pontos mais atrativos. Vale citar que o modelo original tem quase 2 mil litros de combustível nos tanques e, a despeito disso, tem alcance de pouco mais de 400 km nas versões mais novas. E você reclamando do consumo do seu carro.

Quanto ao modelo híbrido, a nova geração não apenas se tornou mais letal, como também usa um motor elétrico associado ao convencional - com direito a um conjunto parrudo de baterias.

O lado tático tem extrema importância, entretanto há outras vantagens que são repartidas com modelos civis elétricos e híbridos: o desempenho. A propulsão elétrica entrega torque instantâneo, logo consegue lidar melhor com o peso desses mimosos tanques e veículos de transporte/ataque.

Um Abrams atual tem na ordem de 60 toneladas de peso. Já o híbrido terá 10 toneladas a menos, o que vai ajudar ainda mais no objetivo de arrancar mais rápido e, se possível, escapar de uma enrascada fatal.

A tecnologia não está sendo aplicada apenas para reduzir consumo e emissões. Tal como é o caso de um veículo híbrido convencional, o tanque se beneficia pelo consumo menor, mas há pontos táticos em que o uso de um propulsor elétrico ajuda muito. Há dois associados: o ruído e calor menores.

Em miúdos, um tanque que tem ruído mecânico menor é mais fácil de passar despercebido por inimigos à distância pequena ou média, apenas o barulho das esteiras/lagartas denunciaria ele. Somado a isso, com o desligamento do motorzão convencional, a assinatura de calor também é igualmente menor.

O que isso significa na prática? Fontes de calor são usadas para guiar mísseis e outras formas de ataque associados à temperaturas elevadas. É o que eles chamam de menor assinatura de calor, algo também usado por caças e bombardeiros stealth, ou furtivos.

É um ponto que beneficia todo tipo de veículo militar. Vamos pegar a invasão ucraniana como exemplo. Por lá, os invasores russos falharam na manutenção de linhas de logísticas, algo fundamental para manter as forças em movimento.

O esgotamento de combustível é algo que ameaça todo tipo de mobilidade, mas é ainda pior para os beberrões tanques, veículos que chegam a consumir 1 km/l de diesel - se tanto. Ter uma linha logística menos detectável e com maior autonomia é algo mais do que desejável e, felizmente, isso é algo que a Rússia não possui.

A chefe do departamento de defesa americano, Kathleen Hicks, fez um discurso no qual afirmou:

Veículos elétricos são silenciosos. Eles têm uma assinatura de calor baixa, e porque eles tendem a ter menos peças móveis e menor manutenção, eles têm potencial para reduzir os requerimentos de logística. Todos esses atributos podem ajudar as nossas tropas para ter vantagem no campo de batalha".

Como os EUA costumam compartilhar tecnologias com países parceiros, como é o caso do Japão, as tecnologias não devem demorar muito para serem usadas em outros países. Podemos esperar por movimentos semelhantes em outros países que fazem parte de alianças militares, em especial a Organização do Tratado do Atlântico Norte, mais conhecida pela sigla OTAN.

Outros países estão apresentando veículos militares híbridos e elétricos. A Austrália é um deles. O país apresentou o veículo blindado Bushmaster, um clássico que é utilizado por várias nações. A sua nova geração tem capacidade de usar um motor elétrico com até 100 km de autonomia, um alcance que será aprimorado para 300 km antes dele se alistar nas forças. Uma opção híbrida pode levá-lo a mais de 600 km, uma quilometragem suficiente para ficar próximo de fontes de abastecimento.

Levar energia até uma base distante é um empecilho e tanto. Se já é difícil encontrar uma tomada para carregar nas grandes cidades, imagina só no meio da guerra. Para isso, os novos geradores de energia a diesel estão sendo modernizados e oferecem 20% a mais de eficiência. É pouco, mas já é uma evolução para uma tecnologia que abastece postos e bases avançadas em territórios sensíveis. Uma forma de atenuar essa sede por petróleo é adaptar esses geradores ao micro grid, assim, a energia pode ser armazenada em baterias.

Há uma outra solução que as forças militares não comentam muito, até por conta da polêmica: pequenos geradores nucleares. É uma tecnologia que permitiria energia abundante e que está sendo pesquisada por vários países, entre eles os EUA e China.

Mas no caso dos EUA, a informação não é apenas pública. O projeto sairá do papel no ano que vem e cada mini gerador nuclear tem custo previsto de 40 milhões de dólares, pouco mais de 200 milhões de reais. Parece que os elétricos e eletrificados estão com toda energia mesmo.

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