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"Órfãos automotivos": como é ter um carro cuja marca já saiu do Brasil

Do UOL, em São Paulo

25/11/2022 04h00

O Brasil não é um país para qualquer um empreender. A realidade é que, aqui, as empresas enfrentam um conjunto de dificuldades burocráticas, trabalhistas e econômicas muito acima da média.

Por mais bem sucedidas que sejam no exterior e apesar do tamanho do mercado nacional, isso não garante a vida delas no Brasil. Marcas como Ssangyong, Daihatsu, Mazda, Seat, Alfa Romeo, Lada, Lifan, Geely e outras, que o digam.

Algo que chama atenção é que, como era de se esperar, encontramos muitos anúncios antigos desses carros nos classificados. Mas como ficam aqueles que compraram eles? Com a saída das marcas, os "órfãos automotivos" ficam dependentes da sorte.

Para as peças de reposição, resta encontrar "achados" que restaram das redes, ficar amparados pelo que a indústria de autopeças ainda produz ou garimpar nos desmanches legalizados. Algo que se assemelha com ganhar na loteria é quando o carro compartilha componentes de outras marcas.

Há uma peculiaridade dentro desse tema. Quanto mais antigos são os carros (sejam eles de marcas que saíram do Brasil, ou não), mais eles tendem a apresentar dificuldades de manutenção características da idade (quanto ao conserto, oferta de peças, entre outros aspectos).

Logo, para não mascararmos tanto essa questão, encontramos alguns donos "órfãos" de carros fabricados há não tanto tempo atrás para descobrir como é a vida deles na prática. Considerando que a suposta lei que obriga os fabricantes a manterem as peças em produção por um tempo determinado não passa de um boato, fomos às entrevistas. O primeiro é Junio Rodrigues, dono de um Lifan X60, ano/modelo 2018/2019.

"Precisava de um carro alto e, pelo bom preço, optei por ele. Não conhecia a marca, mas super indico e compraria de novo, pois é bom e bastante confortável. A dificuldade de manutenção depende da oficina que vai cuidar, mas deu tudo certo até hoje. As peças não são tão fáceis de achar. Estou vendendo para comprar uma caminhonete, mas a procura é baixa e só me oferecem troca", diz.

Outro que encontramos é Marcos do Santos Silva, dono de um Geely EC7 2014. "O primeiro dono foi o meu irmão, que me vendeu faz seis meses. O carro é espaçoso e está com kit gás, o que o deixou bastante econômico. Porém, a manutenção é a parte mais complicada. Não é fácil achar as peças. O último componente que precisei foi o coxim do motor e só tinha nos desmanches", afirma.

Em nota ao UOL Carros, o Grupo Gandini (que hoje cuida da parte de assistência), diz que está "à disposição para auxiliar os clientes Geely na resolução de problemas de assistência técnica e peças de reposição, podendo ser contato no número 0800 721 5400".

A relação custo-benefício desses carros costuma ser sempre mais atrativa do que a média. Mas não há almoço grátis: os donos enfrentam dificuldades adicionais. Ainda que não sejam antigos, a manutenção deles está longe de poder ser comparada com modelos fabricados no mesmo período. Isso complica a vida de quem quer trocá-lo por outro.

Nem os carros nacionais da Ford se enquadram nessa realidade, já que a grande quantidade de unidades emplacadas motiva a continuidade da produção dos componentes pelas marcas independentes. Logo, é inevitável que se tornem potenciais "micos". Isso mostra como sempre há riscos envolvidos na hora de se escolher um carro.

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