Salvação? Dá para usar hidrogênio em bujões como refil nos carros?
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Se os carros a hidrogênio são inviáveis, pois uma bomba de abastecimento custa milhões de dólares e é extremamente difícil extrair o elemento a partir do etanol (ainda que, em breve, os estudos realizados no Brasil deverão apontar uma saída para isso), por que não fazemos como os bujões de gás de cozinha, que são envasados em fábricas? Ninguém nunca pensou nisso antes?
Ideias podem sempre ajudar muito, mas não é toda a vez que fazem sentido, principalmente quando analisadas sob a perspectiva mais técnica. Não seria muito legal chegar no posto de combustível e trocar o bujão do seu carro a hidrogênio? Sem entrar no mérito da segurança do procedimento (pois, a principio, nem toda ideia pede soluções imediatas para todos os problemas), qualquer posto de combustível poderia realizar o serviço.
Levamos esses questionamentos para Ricardo Takahira, engenheiro da SAE que também é especialista na segurança das tecnologias automotivas e do desenvolvimento dos carros eletrificados. De forma muito básica, ele desconsertou essa ideia tão "genial" com explicações simples.
"Hidrogênio pode explodir com muita facilidade, uma vez que ele escapa. Esse é o primeiro grande desafio dessa tentativa. O segundo motivo é que para armazenar o hidrogênio, é preciso utilizar recipientes feitos de materiais muito nobres e caros. Para se ter uma ideia, o hidrogênio pode atravessar muitos dos metais, pelo fato da molécula ser muito pequena", explica Ricardo.
"Além da questão ambiental do descarte ser desafiadora para que se autorize a comercialização de tantos recipientes como esses da hipótese, a ideia continuaria esbarrando na inviabilidade financeira de quem compraria os refis", complementa.
Por que ficamos pensando tanto em saídas para o carro a hidrogênio? Desde 2016, a USP (em parceria com a Nissan, que entrou no meio partir de 2019), estudam a utilização do etanol para a obtenção do hidrogênio. O assunto é tão complexo que, ainda na década passada, a Fiat demonstrava intenções de se envolver com o desenvolvimento, mas acabou desistindo.
Depois de milhões em desenvolvimento, o patamar atual das pesquisas é promissor: com 30 litros de etanol, os protótipos já são capazes de superar os 600 km de autonomia. Atualmente, os testes seguem em evolução conduzidos pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da Nissan no Japão com constante colaboração da equipe brasileira e dos parceiros locais, como o IPEN/CNEN.
Ricardo Takashira, entretanto, ainda acredita que os carros a hidrogênio só irão dominar o mercado de forma efetiva, quando o próprio carro elétrico já tiver "dado o que tinha que dar". Até chegarmos nesse patamar, levaremos longos anos.
"Hoje em dia, nada sai do papel se não se provar o mais ESG possível. Na minha visão, os carros elétricos terão que ter deixado de atender as normas ambientais para que a indústria consiga recorrer ao aperfeiçoamento das alternativas, como é o caso do carro a hidrogênio", afirma.
Depois de quase uma hora de entrevista, aproveitamos para refletir sobre a importância do pesquisador para o desenvolvimento do Brasil. No caso das pesquisas sobre o hidrogênio, o país já virou referência internacional pelos avanços dessas e outras tecnologias.
"Não podemos parar no que já está dando certo, pois ficaremos para trás, a exemplo do negacionismo da indústria nacional para os carros elétricos, que não puderam ser evitados e estão aí entre nós", salienta Ricardo.
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