Carne no motor: culinária doida bomba nas redes, só não no sabor e na saúde

Há tantos meios de se preparar comida, inclusive no motor de um carro em movimento. Como assim? Bombou nas redes um vídeo de dois jovens que aproveitaram esse período das férias para preparar um "rango", com carne de boi e linguiça de porco, enquanto dirigiam até o destino final.

"Eu vou viajar. Então, enquanto eu dirijo, eu vou fazer um churrasquinho. Quando eu chegar, estará tudo pronto", disse o "cozinheiro automotivo" que aparece no vídeo.

Deu certo? Para eles até deu, mas se ficou saboroso, saudável, ou se isso está de acordo com os cuidados que se deve ter com o carro, aí a história muda. Mesmo que eles tenham usado papel alumínio para embrulhar os alimentos, especialistas consultados pelo UOL Carros destacam os males dessa culinária maluca.

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A reportagem consultou o médico Antônio Carlos Bossa Graça, o chef culinário e sócio da Montmarttre Rodrigo Macêdo, e Alexandre Barros Pinho, dono da oficina de funilaria e mecânica WTC Express.

Prejudica o carro?

Existem alguns pontos importantes. O primeiro deles é garantir que nem o sal e nem a gordura escapem para algumas partes do motor, como os plugues dos sensores, das bobinas, entre outros componentes. O sal em si é o pior, pois provoca corrosão de qualquer parte que entrar em contato". Alexandre Barros Pinho, dono de oficina.

"Outro ponto que podemos analisar é a passagem de ar em si. Como os componentes de dentro do cofre do motor foram pensados para facilitar a troca de calor, quando se obstrui o ar de qualquer forma, isso poderá manter algumas partes mais aquecidas. Por fim, se o dono do carro não fechar a circulação do ar-condicionado, e quiser ligar o equipamento, poderá impregnar o sistema com esse cheiro de carne queimada e gordura".

Comida fica saborosa?

Durante o cozimento dos alimentos, o aroma do ambiente interfere muito no resultado final. Ainda que não seja um carro antigo (que emite muitos odores fortes), sempre estarão presentes os vapores de óleos sintéticos no cofre do motor. Tudo isso vai para as carnes e o resultado não será nada agradável". Rodrigo Macêdo, chef

"No interior da carne, é preciso que, durante determinado tempo, ela receba temperaturas que variam entre 55°C e 60°C para ficar mal passada, entre 60°C e 69°C para ficar ao ponto, ou entre 70°C e 100°C para ficar bem passada. Já a linguiça de porco crua necessita de algo em torno dos 71°C, só que respeitando um tempo de preparo diferente da carne. Quando mal preparada, ela pode provocar intoxicação alimentar", ensina o chef.

"É muito improvável que se possa controlar a temperatura ambiente dentro do cofre para atingir esses cozimentos, conforme as temperaturas ideais, e sem que ocorram variações. A hipótese mais válida seria colocar a carne temperada em uma embalagem a vácuo e posicioná-la em um local que a mantenha até 65°C. Assim, talvez dê para preparar um sous-vide (prato gastronômico)".

Faz mal à saúde?

Por mais seladas que essas carnes estivessem, os vapores desses óleos sintéticos têm potencial tóxico enorme e podem ter contato com os alimentos. São materiais oleosos derivados do petróleo e, por isso, nem sempre todas as substâncias serão metabolizadas por quem as ingeriu. Entre esses componentes, estão todos os agentes dispersantes, detergentes e antiaderentes que interagem com os metais do motor". Antônio Carlos Bossa Graça, médico.

"Dependendo do quanto for ingerido, a pessoa pode sentir mal estar, mesmo não muito tempo depois. No longo prazo, poderá até desenvolver câncer, mesmo tendo feito esse experimento apenas uma vez. Quanto mais as substâncias tiverem sido ingeridas, maiores as chances desses problemas".

O que aprendemos com a maluquice

• Pode danificar sensores do carro
• Iniciar processo de ferrugem de componentes do veículo
• Impregnar o sistema de ar-condicionado
• Errar o ponto de cozimento
• Sabor desagradável
• Intoxicação alimentar
• Mal estar
• Câncer
• Intoxicação por substâncias derivadas do petróleo

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