Carro camaleão: conhecemos o BMW que muda de cor e tem até sentimentos
A BMW apresenta oficialmente o conceito i Vision Dee nesta quinta-feira, em Las Vegas. É na maior feira de tecnologia do mundo, a CES, que o público e a maior parte da imprensa começam a ter contato com a novidade. Afinal, o protótipo exibe tecnologias que a montadora planeja implementar em seus futuros modelos com foco na digitalização e na integração pessoa-carro, a partir da Neue Klasse, nova geração que chega em 2025.
Nossa equipe de reportagem já testou os sistemas do i Vision Dee há cerca de mês. A prévia foi realizada para um grupo selecionado de jornalistas na sede da marca, na Alemanha, antes do transporte do protótipo para os EUA.
O i Vision Dee surpreende primeiro porque estreia um avanço na tecnologia E Ink. Um time de engenheiros da BMW desenvolveu a aplicação da película de leitores digitais, como o Kindle, na carroceria de veículos e formas de controlar os padrões visuais, em parceria com a E Ink. Na CES do ano passado, a marca apresentou o iX Flow, com uma carroceria que alternava padronagens em variados tons de cinza. Já o Dee pode exibir 32 cores diferentes na carroceria e nas rodas.
"Os componentes da película se realinham quando é aplicada uma carga elétrica na película. Para o full color, temos mais camadas e nódulos elétricos, mas o que define a cor é a voltagem que é aplicada. Então, trabalhamos uma série de perfis de voltagem para gerar o efeito que queremos. As possibilidades são infinitas. E o consumo de energia é baixo, já que a carga elétrica e necessária apenas para gerar as cores, não para mantê-las", explica Stella Clark, engenheira pesquisadora da BMW que lidera o projeto.
No entanto, a principal novidade está no interior. O i Vision Dee não tem uma tela no painel. Toda área do para-brisa se transforma em um painel que integra informações do trânsito, indicadores do veículo, navegação e as funcionalidades do telefone do motorista, incluindo mensagens, ligações e redes sociais.
"Não se trata de uma tela maior ou mais linhas de código. É entender o que é importante para o consumidor, o que os faz sorrir, o que eles querem", explica Nicolai Giles, vice-presidente de vendas e tecnologia. "O i Vision Dee é uma experiência digital emocional. Não é um carro. É o próximo nível de interação humana", completa. O nome Dee é uma referência a esta descrição, ou, Digital Emotional Experience, em inglês.
Um dispositivo na parte traseira da cabine projeta as informações no vidro, que se transforma em um enorme head-up display. Isso só é possível porque todo o para-brisa é revestido com um material que tem o ajuste exato de reflexo e transparência para exibir as imagens com alta definição sem impedir que o motorista veja o mundo real. A composição da película é mantida em segredo pela BMW.
A promessa da marca é uma integração completa da vida digital do motorista com o veículo, mas de forma suave e imperceptível de tal forma que não se perceba a atuação desta estrutura. O ponto central do sistema é o que a BMW chama de Mixed Reality Slider (controle deslizante de realidade misturada, em uma tradução livre). O motorista pode escolher quanto conteúdo digital quer ver no para-brisa deslizando o dedo no painel.
O sistema conta com cinco modos, que vão do analógico, informações de direção, conteúdos de comunicação/entretenimento, projeção de realidade aumentada, até a entrada em mundos virtuais. Neste último, janelas reguláveis podem ser usadas para gradualmente desvanecer a realidade, até a transição para uma experiência puramente virtual
O Dee também é capaz de 'falar' com as pessoas e expressar emoções como alegria, surpresa ou aprovação. Sensores no exterior e uma inteligência artificial como a Alexa, da Amazon, geram saudações personalizadas. Os faróis e a grade formam uma peça única onde mensagens são exibidas usando a tecnologia E Ink. Um avatar do condutor pode ser criado e projetado nas janelas para uma experiência ainda mais pessoal.
"Hardware e software se fundem com inteligência artificial para fornecer a experiência de condução perfeita", resume Olivier Pitrat, gerente de projeto para interface de design da BMW e um dos reesposáveis pelo Dee. "Sempre existiu um laço emocional forte com o carro. A digitalização pode amplificar isso e torná-lo o companheiro definitivo", afirma.
Dirigindo em Pandora
UOL Carros acompanhou uma demonstração do sistema completo no interior do Dee, mas com o protótipo parado. A reportagem também dirigiu um BMW M4 que simula a imersão da realidade misturada, mas ainda com a ajuda de óculos de realidade virtual. A sensação de estar imerso e o nível de integração impressionam como poucas tecnologias já testadas por este repórter.
No modo realidade aumentada, informações de navegação, como setas, limites de velocidade e distâncias, literalmente desenhadas no caminho e integradas ao 'mundo real' tornam algo de um passado muito distante aquela errada de quem tem um olho na estrada e outro no Google Maps. Já com o sistema a 100%, o caminho corresponde a estrada física com precisão, mas as paisagens se transformam e é como dirigir em Nárnia ou Pandora.
O sistema, porém, fascina tanto quanto sobrecarrega o motorista. A BMW destaca que o consumidor sempre estará no controle do quanto quer ver. De fato, no modo analógico, quase não se percebe a presença do Mixed Reality Slider. A cabine tem linhas e materiais modernos, mas sem exageros. É clean e, estranhamente, quase low tech.
"O high tech aparece quando você precisa. É como a TV da sua casa. Quando ela está desligada, você quer que ela suma. Ninguém gosta daquela tela preta enorme e sem função", explica Kai Langer, chefe de design dos BMW i, o que chama de design centrado no ser humano.
A montadora ressalta ainda que o protótipo tem o objetivo de mostrar o que é possível fazer com a tecnologia e que recursos serão ajustados de acordo com regulações de trânsito e até as condições da estrada. Ou seja, mensagens de WhatsApp pulando pelo para-brisa ou a BR-101 transformada em paisagem de Avatar podem funcionar apenas em uma condução autônoma ou até mesmo nem estarem disponíveis nos primeiros modelos.
Segundo a BMW, a Neue Klasse começará com uma "versão padrão de produção" do "advanced head-up display" em 2025, e não deu datas concretas para eventual implantação do sistema de realidades misturadas.
Precisamos? A real necessidade de alguns destes recursos ainda escapa a muitos de nós, mas a marca está de olho no cliente do futuro, que tem preferências diferentes de um jornalista de meia-idade.
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