Por que vídeo que ensina a tirar etanol da gasolina é péssimo exemplo

"Carro antigo não foi feito para queimar o 'gasool' de hoje em dia". É o que muitos acreditam por aí. Para além dessa crença, alguns estão até ensinando como separar o etanol da gasolina. Ainda que seja verdade que, antigamente, o combustível tinha maior teor do derivado do petróleo, a prática que circula pelas redes, além de inviável, é criminosa.

Para quem não sabe, a gasolina brasileira tem, por lei, entre 25% de etanol (na linha premium) e 27% (na comum). Ainda que a tenha as mesmas características dos óleos, ao contrário da maioria deles ela é capaz de se misturar com água e etanol, até certa proporção. Por isso que não vemos a presença do álcool na gasolina.

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Nos vídeos, adiciona-se água da torneira (que tem maior afinidade para se misturar com o etanol do que com a gasolina) ao recipiente com o combustível e, na sequência, o "cientista" chacoalha o galão. Após deixar "descansando" por um tempo, nota-se a separação total entre o etanol diluído na água (em baixo) e a gasolina pura (em cima).

Com uma mangueira posicionada no fundo do galão, é feita uma sucção para que o "etanol aguado" saia. Logo antes da gasolina começar a ser escoada para fora, a mangueira é retirada e, assim, o processo é finalizado com a obtenção da gasolina pura.

Como fazer isso acaba "saindo pela culatra"

Como já ensinou o engenheiro químico e professor Carlos Roberto de Lara, ao UOL Educação: "é necessário que a gasolina seja aditivada com substâncias antidetonantes, que funcionam como retardadores químicos da explosão e garantem que esta só aconteça no momento certo do ciclo". Logo, quando o etanol é retirado da gasolina, a combustão fica mais instável e a temperatura da câmara fica mais elevada.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também afirma em seu site que o etanol, além de ser um dos tipos de antidetonante, é um dos mais disponíveis e baratos da categoria, além de figurar entre os menos poluentes e menos prejudiciais para o motor. Isso sem considerar que o etanol também faz a função de retardar a produção de carbonização dentro do motor a gasolina.

Devido a tudo isso, a presença de etanol na gasolina promove maior qualidade de funcionamento, até mesmo para motores antigos.

Por outro lado, vale apenas ficar atento quanto à necessidade de limpeza periódica dos componentes de injeção, como o carburador, que podem sofrer interferências pela característica corrosiva do etanol" Alexandre Barros Pinho, dono da oficina de funilaria e mecânica WTC Express.

O que dizem as leis

Marco Vieira, escritor, especialista em trânsito e transporte, conselheiro do Cetran SP e membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran, separou os principais pontos abordados pela lei e pelo Código de Trânsito Brasileiro, que têm relação com o tema da "purificação da gasolina". São eles:

• A Lei nº 13.033/2014 limitou o percentual obrigatório de adição de etanol anidro à gasolina em todo o território nacional em 27,5%. Esse limite é direcionado aos fabricantes e distribuidores de combustíveis.
• No país, a lei não permite a comercialização de gasolina 100% pura. Embora a conduta de purificação da gasolina para uso próprio não seja proibida, a utilização no veículo pode caracterizar infração de trânsito.
• Isto porque, o inciso III do artigo 231 do CTB, pune com multa de natureza grave (R$ 185,23), cinco pontos no prontuário do proprietário e medida administrativa de retenção do veículo, aquele que transita com veículo produzindo fumaça, gases ou partículas em desacordo com os níveis de emissão previstos na Resolução Contran nº 958/2022.
• Além disso, conforme o inciso IX do mesmo artigo, enquadramento 663-72, há punição, com a mesma penalidade, àquele que utiliza combustível com especificação técnica diferente do especificado pela legislação vigente ou pelo Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE).
• Proconve: programa instituído pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) visando melhorar a qualidade do ar no Brasil por meio da exigência de fabricação e comercialização de veículos em geral.

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