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Paralisada após decreto de Lula, blindagem de veículos bateu recorde

Carro recebe blindagem em empresa especializada; blindadoras nunca foram tão requisitadas no Brasil - Murilo Góes/UOL
Carro recebe blindagem em empresa especializada; blindadoras nunca foram tão requisitadas no Brasil Imagem: Murilo Góes/UOL

Fernando Pedroso

Colaboração para o UOL

08/02/2023 04h00

Paralisada temporariamente após decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a blindagem de veículos bateu recorde histórico ao crescer 29,56% em 2022.

De acordo com a Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), 25.916 carros foram blindados no ano passado contra 20.024 em 2021.

A boa performance vai na contramão do mercado: em 2022, as vendas de veículos caíram 0,7% na comparação com o ano anterior, segundo a Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores).

Segundo Marcelo Silva, presidente da Abrablin, a demanda reprimida durante os anos da pandemia explica o recorde, além da costumeira justiticativa: a sensação de insegurança.

Na pandemia, diminuiu o número de blindagens porque havia menos gente circulando nas ruas e, evidentemente, diminuiu a violência" Marcelo Silva, presidente da Abrablin

Silva destaca que a falta de componentes eletrônicos para a fabricação de carros também ajudou a represar as vendas

Em 2020, ápice da pandemia da covid-19, houve apenas 13.837 novas blindagens

"Faltou carro zero no mercado e as pessoas prorrogaram a troca para 2022", complementa o executivo.

Até mesmo por isso, o presidente da associação não espera crescimento em 2023, mas os números devem permanecer no mesmo patamar de 2022.

"Durante a pandemia, o público disposto a blindar seu veículo pela primeira vez ou o público cativo, que sempre blinda quando troca de carro, entendeu a dimensão da crise econômica causada pela pandemia", concorda Marcelo Fonseca, líder do segmento de defesa da DuPont para a América Latina.

Insegurança

O outro fator a alavancar as blindagens é a sensação de insegurança da população, dizem representantes do setor

"Quando você liga a TV, dificilmente deixa de ver notícia sobre violência urbana. [A gente vê] a violência crescendo e a impunidade também. Como não há previsão disso diminuir, infelizmente, eu acredito que os números de 2022 irão se repetir em 2023", afirma Marcelo Silva.

"Toda crise que gera desemprego pode despertar o receio de aumento da criminalidade nos centros urbanos. E isso pode ter motivado mais pessoas a blindar seus veículos", conclui Fonseca, que também não acredita em novo recorde neste ano.

"Além de o Brasil ser o país com o maior número de carros blindados no mundo, boa parte da demanda reprimida já foi atendida", justifica o executivo da DuPont.

Toyota lidera blindagens

Carro recebe mantas balísticas durante o processo de blindagem em empresa especializada - Murilo Góes/UOL - Murilo Góes/UOL
Carro recebe mantas balísticas durante o processo de blindagem em empresa especializada
Imagem: Murilo Góes/UOL
  • A estimativa da associação é de que a frota blindada no país já superou a marca de 310 mil carros
  • A Abrablin afirma que hoje a maior procura é para proteger SUVs
  • A categoria respondeu por 43,84% das vendas gerais de veículos em 2022, segundo a Fenabrave
  • A Toyota é a marca que mais teve carros blindados nos últimos anos
  • Entre 2019 e 2022, 10.743 unidades da marca japonesa receberam proteção balística
  • Na sequência vem a Jeep, com 8.709 blindagens, e a Volkswagen, com 7.970 no mesmo período
  • A blindagem mais praticada no país foi a de nível III-A, que garante proteção contra todos os tipos de armas curtas (pistolas e revólveres)

Blindagens paralisadas

Segundo as próprias blindadoras, registros de carros blindados estão suspensos desde que o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) revogou o decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que retirava a exigência do CR (certificado de registro) para proprietários de veículos blindados.

De acordo com Marcelo Silva, em algumas regiões o Exército interpretou "erroneamente" a revogação e suspendeu os registros.

"Fui até Brasília e entreguei um ofício passando essa informação, mas ouvi que o Exército quer um parecer jurídico antes de liberar novos registros e isso não tem prazo para acontecer".

Segundo Silva, muitas blindadoras estão paradas e clientes que mandaram blindar seus carros - e pagaram por isso - não conseguem receber seus veículos.

"As pessoas estão expostas aos bandidos por não poderem usar seus blindados, graças a uma interpretação errada da lei", complementa.

Procurados, o Exército e o Ministério da Defesa não responderam à reportagem. Tendo uma resposta, este texto será atualizado.

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