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'Recém-habilitada, loira de farmácia': ela apelou em bilhete para ter paz

Miranda, de 41 anos, encontrou uma maneira de se sentir mais segura no trânsito - Arquivo pessoal
Miranda, de 41 anos, encontrou uma maneira de se sentir mais segura no trânsito Imagem: Arquivo pessoal

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

12/02/2023 04h00

Com medo de dirigir e cansada de lidar com motoristas imprudentes, a gestora de tráfego Miranda Navarro, de 41 anos, decidiu pendurar um bilhetinho no vidro traseiro do carro pedindo distância.

Ela teve de apelar até para o estereótipo pejorativo da "loira burra" na tentativa de se sentir mais segura ao volante.

"Recém-habilitada, loira de farmácia. Perigo! Afaste! Mantenha a distância, fico nervosa e o carro apaga. Grata pela compreensão!", escreveu na placa.

Segundo ela, a intenção era conscientizar as pessoas no trânsito de uma forma descontraída. Parece que deu certo.

"Você precisa ver a paz que eu tenho agora. O condutor de trás vê a placa e desvia, se distancia."

Uma foto do bilhete no carro viralizou nas redes sociais. A motorista não imaginava que a atitude teria tanta repercussão, mas acredita estar colaborando com o debate sobre um trânsito mais seguro.

O carro é uma arma e as pessoas precisam entender que por trás de um volante existe um ser humano. Fiz isso para as pessoas se colocarem no meu lugar porque todo mundo já foi recém-habilitado e teve medo em algum momento

Medo no volante

Ela, na verdade, não tirou a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) agora, mas se sente uma novata na direção.

Em 2010, conseguiu a habilitação — já o medo de dirigir nunca foi superado. Miranda chegou a pagar 30 aulas adicionais, mas não foi suficiente.

"Eu olhava para o carro e passava mal, mas sabia que tinha de vencer isso com coragem e responsabilidade." A alternativa de andar em carros de aplicativo começou a pesar no bolso, e Miranda precisou encarar o volante.

No ano passado, começou a ler sobre como vencer o medo e a ouvir músicas instrumentais enquanto estava no volante. Funcionou e, em outubro, ela dirigia confiante pelas ruas de Goiânia, onde mora.

"Ia para a igreja, para o trabalho. Antes, só pegava o carro para ir à panificadora ou à casa da minha sogra", lembra.

Um episódio violento, no entanto, acabou tirando Miranda do eixo novamente.

"Estava indo para casa e tinha um rapaz buzinando. Tinha uma caçamba na minha frente e eu precisava desviar. Dei seta, ele não me deixava passar. Peguei meu carro e passei mesmo assim, mas meu retrovisor foi embora. Fiquei no prejuízo e muito chateada."

Foi então que surgiu a ideia de colocar o bilhete no carro.

As pessoas não respeitam o limite do outro. Aqui, eles passam em cima de calçada. Ninguém tem paciência. Mesmo que você dê seta, as pessoas não respeitam

Amaxofobia

O medo de dirigir é comum na sociedade. Quando atinge proporções graves, pode ser considerado uma fobia. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 6% da população brasileira é afetada pelo transtorno que tem até nome: amaxofobia.

Não existe apenas um motivo de pânico ao volante. Algumas pessoas se envolveram em acidentes em algum momento de sua vida, o que acaba resultando no medo de assumir o controle de um veículo.

Outros motoristas deixam de dirigir após traumas com xingamentos no trânsito.