Carro de enchente: como detalhes entregam se foi "maquiado" para vender
As fortes chuvas estão aterrorizando vários brasileiros em março. Os alagamentos têm preenchido partes baixas das cidades todos os dias, transformando carros em submarinos. Muitas vezes, das enchentes, os veículos vão direto para oficinas e lava-rápidos, antes de serem revendidos. Por isso é inevitável o questionamento sobre como fazer para identificar um automóvel que sofreu danos causados pelas águas.
Questões mais óbvias, como o cheiro ruim que fica no interior ou até sobre os males da água suja nas diferentes partes do carro, todos sabem. Mas esses pontos são só uma parte pequena do todo.
Há uma série de pormenores para que se possa tirar as devidas conclusões. O principal deles, que derruba as análises mais generalistas, é que maquiar um carro de enchente é bem mais fácil do que se imagina.
Alexandre Barros Pinho, proprietário da oficina de funilaria e mecânica WTC Express, explica que é complicado identificar um carro de enchente quando ele recebe um "banho de loja", e que as maiores esperanças surgem nos detalhes e, principalmente, quando revendedores se esquecem de eliminar absolutamente todas as evidências.
Uma lavagem completa e bem feita já pode remover o cheiro ruim e devolver a boa aparência do carro. Entretanto, nem mesmo elas vão acessar pontos específicos, como por exemplo atrás do painel, borrachas das portas, dentro das lanternas e faróis, das tubulações do ar-condicionado, entre outros. A não ser que se desmonte tudo, mas isso poucos fazem" Alexandre Barros Pinho
"Além disso, nem todos os carros que sobrevivem às enchentes vão às oficinas na sequência. E, destes, uma parcela ainda menor passa por averiguação detalhada dos componentes da parte elétrica, como a própria caixa de fusíveis. A água suja fica retida e deixa rastros dentro de compartimentos, de plugues e de contatos elétricos em geral", afirma.
O especialista faz uma observação para que se tome cuidado ao lavar dentro do carro, quando o assunto é o receio dos carros de enchente. Diz que tem casos onde os procedimentos do lava-jato não são os mais adequados e, até mesmo um carro que não pegou alagamento, pode acabar ganhando o cheiro desagradável depois da secagem (mesmo sem nunca ter passado perto da água suja).
Outro ponto a se salientar, segundo Alexandre, é que um carro com certa idade e/ou quilometragem e com carpetes muito novos também tendem a levantar suspeita, já que não são componentes que se substituem normalmente.
Até mesmo o cinto de segurança pode entregar, isso porque há lavadores que não realizam a limpeza deles por completo. Bastaria puxá-lo para que se desenrole até o fim. É possível que se encontre barro e sujeira mais pegajosa, por exemplo (que só pode ser de enchente).
Sobre os danos que "lavam" a conta bancária
Alexandre diz que a situação fica complicada quando se analisa as partes mecânicas e elétricas, que são as que podem deixar o dono na mão e custar mais caro. Mas a chave da questão continua sendo a análise dos detalhes. Entre os citados pelo especialista, estão:
- Oxidação em porcas, arruelas e parafusos, especialmente os que estiverem em partes mais altas do carro.
- Sujeira e oxidação dentro de módulos com carcaças plásticas, que tendem a ter menor nível de blindagem do que os de metal.
- Manchas em vidros, oriundas de água ácida que ficou em contato por tempo mais prolongado, só podendo ter sido de enchente (pois o carro fica "de molho" na água). Alexandre diz que nem thinner tira isso, só com produtos bem específicos e depois de esfregar muito.
- Se o carro apresenta panes intermitentes em componentes elétricos, sejam eles atrelados ao motor, aos sistemas de iluminação e/ou aos de infotentimento.
Perguntamos se o resfriamento súbito do motor (ao mergulhar na água) poderia gerar trincas no bloco, mas o especialista disse que é improvável de ocorrer.
Quanto aos danos no motor, eles costumam ocorrer logo que o carro mergulha na água. Muito dificilmente o prejuízo ficará para o dono seguinte".
Ainda que a estanqueidade do câmbio seja inferior à do motor (Alexandre diz já ter visto câmbios com bastante água misturada ao fluido do componente), destaca que o calço hidráulico é o principal problema que o motor pode apresentar ao admitir água em seu interior.
"Teve um caso uma vez de um carro que, segundo o que o dono me relatou quando trouxe o carro de guincho até a oficina, até aparentava estar okay depois de o motor admitir água. Mas na primeira aceleração, quebrou de vez".
"Quando o carro veio, havíamos analisado o interior do motor e constatamos que as bielas já estavam milimetricamente tortas logo após o incidente e que bastou apenas um pouco mais de esforço nas peças para que elas cedessem de vez", finaliza.
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