Stellantis aposta no híbrido a etanol para reduzir emissões no Brasil
A Stellantis é a segunda montadora a declarar oficialmente que não apostará, no Brasil, no carro totalmente elétrico (BEV) como principal solução para a descarbonização - a primeira foi a Volkswagen.
Dono de marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot, o conglomerado europeu aposta no veículo bioelétrico como a resposta para reduzir as emissões de dióxido de carbono em seus carros no país.
No Brasil, que tem o etanol como um dos principais combustíveis, a aposta é no híbrido abastecido com o derivado da cana-de-açúcar.
Stellantis preparou, em parceria com a Bosch, um estudo sobre a pegada de CO2 de modelos com três diferentes tipos de propulsão.
Em um simulador, foram medidas as emissões de gás carbônico de veículos a gasolina, a etanol e BEV. No caso do 100% elétrico, foram aferidos dados no ciclo brasileiro, que tem fornecimento de energia proveniente de fontes mais limpas (70% vem de hidroelétricas), e na Europa.
Por lá, a principal fonte é o carvão (termoelétricas), com alta emissão de poluentes.
Resultado do estudo
O resultado destacado pela Stellantis foi que o etanol tem uma pegada de carbono menor que o carro elétrico que roda na Europa. Essa medição é chamada de roda a roda, e inclui o gás carbônico emitido não apenas na rodagem do veículo, mas o correspondente a todo o ciclo de geração e consumo de energia utilizada (incluindo produção).
"Europa, Estados Unidos e China medem apenas as emissões do carro", diz João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis. Por isso, não levam em consideração a compensação de gás carbônico capturada pelo processo de produção da cana-de-açúcar.
Em 240,49 km rodados, o carro a etanol emitiu 25,79 kg de CO2. O número para o veículo elétrico em ciclo europeu foi de 30,41 kg e para a gasolina, de 60,64 kg.
No entanto, o BEV em ciclo brasileiro se mostrou o mais limpo, com 21,45 kg. "Se o etanol já está próximo do BEV em ciclo brasileiro, imagine com a combinação desse combustível com a eletrificação", disse o presidente da Stellantis para América do Sul, Antonio Filosa.
O executivo apresentou os resultados do estudo nesta sexta-feira (31), em São Paulo. Para Filosa, o processo de descarbonização tem de ser pensado regionalmente, considerando as fontes disponíveis e as limitações de custo que um país tem.
A marca não divulga a data exata do lançamento do primeiro híbrido a etanol da Stellantis. Porém, trabalha com os anos de 2026 e 2027 para a difusão da tecnologia. De acordo com a Filosa, a localização da produção desse tipo de carro passará por todas as etapas da tecnologia.
Entre as possibilidades há o híbrido leve (motor elétrico auxilia o a combustão) e o paralelo (bateria recarregada por regeneração proveniente de frenagem e desaceleração, como o Corolla). De acordo com Filosa, os híbridos plug-in também estão nos planos.
Pegada de carbono
Um estudo da SAE publicado por UOL Carros em 2021 já apontava a vantagem que o etanol apresenta na pegada de carbono quando comparado ao BEV que roda na Europa. Para essa associação de engenheiros automotivos, o elétrico recarregado na tomada não resolve o problema, pois tem alta emissão de gás carbônico.
A emissão de gás carbônico não é um problema localizado. O CO2 afeta a camada de ozônio e é um dos causadores do efeito estufa. Porém, pode ser compensada na própria produção. É o caso do etanol, que compensa o carbono na produção da matéria-prima.
Outros combustíveis sintéticos, como a gasolina que começa a ser produzida pela Porsche no Chile (a partir de reação com hidrogênio), faz a compensação no processo de produção.
Nesta semana, a Europa recuou na obrigatoriedade do carro elétrico em 2035. Agora, a partir desta data, modelos a combustão poderão continuar sendo produzidos e vendidos, desde que utilizem combustível sintético.
O etanol é um desses combustíveis. "O etanol pode não fazer sentido para a Europa, pois é necessário área de cultivo (que os países do continente não têm)", diz Filosa. "Por isso, eles estão recorrendo a outras soluções. Mas, para o Brasil, faz todo sentido."
Filosa ressalta que o etanol gera PIB para o Brasil. "O combustível fecha o ciclo, gerando empregos e desenvolvimento social."
Vantagem do BEV
Por outro lado, se o BEV não resolve o problema da descarbonização, ele é adequado para o problema da poluição nas cidades. Isso porque não emite gases nocivos que ficam concentrados em centros urbanos.
Já há cidades na Europa que não permitem a circulação de carros a combustão em algumas áreas, principalmente em seus centros. Por isso, o elétrico é uma boa solução de mobilidade urbana, embora não de descarbonização.
Mundialmente, a Stellantis tem o plano de vender apenas modelos da BEV na Europa até 2030. No mesmo período, 50% da gama nos EUA será 100% elétrica.
A empresa também prevê que, em 2030, 20% de sua gama no Brasil seja BEV. "O carro elétrico é uma das soluções de descarbonização para o País, mas não a única", diz Filosa.
De acordo com o executivo, no futuro chegará o momento em que a Stellantis vai localizar a tecnologia de produção do carro elétrico. Filosa, no entanto, não passou prazo para isso.
No Brasil, a Stellantis é formada pelas empresas Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e RAM. Internacionalmente, há também marcas como DS, Chrysler e Dodge.
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