Porsche da Casa Bola: como dono perdeu fortuna para fugir da ostentação
Quem frequenta ou já frequentou o Jardim Europa, na Zona Oeste da capital paulista, provavelmente conhece a Casa Bola. A residência, cujo pavimento superior tem formato esférico, foi projetada e construída na década de 1970 pelo arquiteto Eduardo Longo.
A edificação está localizada entre as ruas Amauri e Peruíbe, bem perto da Avenida Brigadeiro Faria Lima, e até hoje é a moradia do seu criador.
O carro da Casa Bola
Devido à sua arquitetura inusitada, a Casa Bola se tornou um ponto turístico da cidade
Ela já abrigou restaurantes e relojoaria no andar térreo
No passado, dividiu as atenções de pedestres e visitantes com um automóvel: o Porsche 914 do seu proprietário e morador
Estacionado na residência, o carrão não passava despercebido
Ele não chamava a atenção apenas por ser um raro veículo de luxo
Também trazia modificações visuais que nem todo fã da marca alemã de carros esportivos aprovaria
Na publicação de uma foto da Casa Bola em um grupo do Facebook dedicado a imagens antigas de São Paulo, internautas mencionam, nos comentários, a existência do Porsche.
Alguns destacam que Longo, seu dono, chegou a pintar o veículo na cor verde-militar com um rolo e tinta látex, daquelas aplicadas em paredes.
Tem gente que lembra de outro detalhe curioso: em dado momento, o arquiteto modificou o emblema Porsche pela expressão "por que".
Em conversa com UOL Carros, Longo, hoje com 80 anos, lembra bem do seu antigo 914, que ele vendeu na primeira metade da década de 1980.
No começo dos anos 1970, quando comecei a construção do imóvel que mais tarde se tornaria a Casa Bola, eu estava em uma fase hippie, de transformação pessoal e mudança de rumos na carreira. Eu tinha esse carro, que já não combinava com meu novo estilo de vida" Eduardo Longo, arquiteto e criador da Casa Bola.
Conversão hippie e 'dura' da polícia
Foi então que Eduardo decidiu remover a aura glamurosa do seu Porsche. Ele mesmo pintou a carroceria, o painel e os bancos com tinta de parede. No melhor estilo "paz e amor", o capô passou a ser adornado com uma flor.
"Virei hippie e achava o carro muito ostentatório. Enquanto estive com o 914, pintei de várias cores diferentes. Uma delas foi a verde militar. Saí ao volante, bem riponga, com um amigo. Estávamos na Avenida 9 de Julho e um policial nos parou e apreendeu o veículo", relembra.
Eduardo Longo destaca que, naquela época, o Brasil estava em plena ditadura militar e a polícia não permitia que automóveis civis tivessem pintura semelhante à utilizada por veículos do Exército. Essa foi a deixa para trocar novamente a cor, dessa vez por um tom de verde que não remetesse aos militares.
Longo conta que passou a usar o veículo para o transporte de materiais usados na construção de sua casa - ele removeu o teto retrátil e passou a usar o 914 como uma espécie de picape. Os puristas fãs da Porsche torceram o nariz.
Um dia, estacionei o carro no litoral paulista, já com aquele estilo hippie. Quando voltei, tinha outro estacionado logo atrás, igualzinho, mas todo original. Também havia um bilhete no para-brisa do meu 914, provavelmente escrito pelo proprietário do outro exemplar. 'Por que você fez isso com o carro, seu FDP?', estava escrito no papel" Eduardo Longo
Por outro lado, acrescenta, outras pessoas viam com simpatia sua "customização". "Depois de eu pintar o Porsche, em vez de sentir aquela inveja, energia ruim, teve gente que passou a elogiar. Lembro de crianças que vinham dizer 'que jipinho legal'".
Ele diz, ainda, que a fama do Porsche da Casa Bola foi ampliada na época em que havia acesso livre de pedestres, no terreno do imóvel, entre as ruas Amauri e Peruíbe. Segundo o arquiteto, quem passava ali podia ver o bólido estacionado.
"Hoje não há mais essa livre passagem, que considero um ponto alto da minha carreira, ofuscado pela bola e pelo Porsche, que são mais lembrados".
Prejuízo na revenda
Após passar por uma crise financeira, Longo descaracterizou ainda mais seu 914 e trocou o motor original por outro, de Fusca. Acabou vendendo o veículo, que foi reformado de acordo com as especificações de fábrica, para depois ser revendido.
"Vendi por uma ninharia, perdi bastante dinheiro".
Hoje em dia, Eduardo dirige um Mercedes-Benz Classe A nacional, que não pretende pintar com tinta de perde e rolo.
Porsche ou Volkswagen?
Bastante raro hoje em dia, especialmente no Brasil, o Porsche 914 não é exatamente o modelo mais reverenciado da montadora europeia.
Isso acontece por se tratar de um carro de entrada, desenvolvido em conjunto com a Volkswagen
Por isso, os mais radicais não o consideram um Porsche legítimo
Lançado em 1969 como modelo 1970, o esportivo foi vendido tanto pela Volks quanto pela Porsche
Nos dois casos, é equipado com motor central traseiro refrigerado a ar e traz apenas dois lugares
A opção mais em conta, obviamente, era oferecida pela VW - na época do lançamento. trazia propulsor 1.7 de quatro cilindros contrapostos, capaz de render 81 cv.
Já o 914/6, variante oferecida pela Porsche, é equipado com motor boxer de seis cilindros e dois litros de cilindrada, com 111 cv de potência é o mesmo adotado pelo Porsche 911 T naquela época.
Encontramos um exemplar de 1974 anunciado por R$ 290 mil - valor mais baixo do que o cobrado por outros modelos mais conhecidos da Porsche, mas longe de ser uma pechincha.
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