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Rachas e etanol: por que combustível é o favorito nas corridas ilegais

Do UOL, em São Paulo

26/04/2023 04h00

Em cinco meses em que ficou infiltrada no universo dos rachas, a reportagem do UOL Carros observou um ponto em comum na maioria dos veículos que aceleram nas madrugadas de São Paulo: o forte odor de etanol que saía dos escapamentos.

Toda a busca pelo aumento da potência dos motores recai sobre o combustível vegetal. Com ele, os preparadores conseguem extrair muito mais desempenho do que com a utilização da gasolina. As diferenças entre ambas as fontes de energia se refletem muito mais nos carros modificados do que nos originais.

Ainda que a injeção eletrônica moderna consiga, sozinha, "destravar" alguns ganhos de potência em qualquer automóvel abastecido com etanol, a otimização é ainda mais gritante naqueles que passam por modificações e recalibração. Isso tem tudo a ver com química e as reações.

Enquanto a gasolina precisa de 15 partes de unidades de massa de ar para cada unidade de massa de combustível, o etanol precisa de nove unidades de massa de ar para cada unidade de massa" Carlos Roberto de Lana, professor e engenheiro químico, em entrevista ao UOL Educação.

Ainda segundo o especialista, o etanol carrega moléculas de oxigênio em sua composição e seu poder calorífico é mais baixo do que o da gasolina. Entretanto, com o combustível vegetal, o motor necessita de um maior volume de líquido para que a mistura com o ar admitido seja perfeita.

Como isso tudo tem a ver com preparação?

Como etanol favorece quem modifica carros para desempenho - Divulgação - Divulgação
Como etanol favorece quem modifica carros para desempenho
Imagem: Divulgação

O etanol é mais vantajoso até do que as gasolinas premium, pois ele resiste ainda mais à pré-detonação - que é a ocorrência da combustão descontrolada - e é mais eficiente para manter a normalidade da temperatura da câmara de combustão por mais tempo" Fernando Henrique Ribeiro dos Santos, especialista em calibração de motores e técnico da Perfect Automotive

Fernando diz que, quando o carro é feito e utilizado para acelerar (inclusive quando a potência original foi multiplicada), fica mais protegido contra quebras catastróficas em três situações, permitindo que:

O preparador utilize componentes de alto desempenho ainda mais agressivos;

O calibrador "abuse" de parâmetros como avanço de ignição, pressão de turbo (quando utilizado) e mistura equilibrada entre ar e combustível;

O condutor utilize o carro mais vezes em regimes que são estressantes para o motor.

Exemplo prático é um Nissan 370Z de drift que foi do piloto João Barion, para o qual fiz a calibração. O carro atingiu determinado nível de preparação que a gasolina premium já tinha chegado no seu limite. Com etanol, conseguimos elevar a pressão de turbo de 1,2 para 1,8 bar, além de acrescentar 12º de avanço de ignição. Isso aumentou muito o rendimento do carro".

  • O especialista ainda diz que qualquer carro pode ser convertido da gasolina para o etanol, inclusive aqueles equipados com sistema de injeção direta;
  • Segundo ele, atualmente, a maior parte dos fabricantes de componentes que funcionam em contato direto com combustível fornece peças com tolerância ao etanol, já que a gasolina brasileira conta com mais de 25% de combustível vegetal;
  • Entretanto, faz a ressalva de que ainda há um ou outro modelo que não resiste à utilização total do álcool hidratado, bem como outros cuja injeção eletrônica original não permite a conversão;
  • Injeções originais necessitam de um hackeamento e de equipamentos que traduzam as informações nela contidas para a modificação do seu conteúdo. Por isso, Fernando diz que calibrar carros com injeção do tipo programável é mais fácil, rápido e eficiente;
  • Além disso, destaca que, durante o processo de conversão de um combustível para o outro, a vazão dos componentes associados ao sistema de injeção deve ser sempre aumentada quando o carro deixa de utilizar a gasolina;
  • Dentro do universo da preparação, o "próximo passo" aos que utilizam o etanol é o metanol, cujas propriedades químicas permitem ainda mais que o preparador a "abuse" das peças de alto desempenho e da calibração.

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