'Resto de rico': comprar carro de luxo com anos de uso é bom negócio?
A jogadora de vôlei e ex-BBB Key Alves ostentou ontem sua mais nova aquisição: um Porsche Cayenne S, vendido no Brasil até 2017 e avaliado em R$ 310 mil. Veículos como esse, com mais de 80 mil km rodados, são conhecidos popularmente como 'resto de rico' e costumam parecer tentadores ao primeiro olhar, já que custam bem menos do que modelos similares zero km. Seria então um ótimo negócio?
Do ponto de vista de conforto, nível de equipamentos e diversão ao dirigir, pode ser uma maravilha ter na garagem o carro dos sonhos que seria inalcançável em uma versão mais nova, mas a realidade pode ser dura: devido aos equipamentos e tecnologias, a manutenção desse veículo será, pelo menos, três vezes mais cara do que a de um modelo generalista. Se esse for o único carro da família, a fantasia pode virar uma imensa cilada.
O presidente da Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores), Enilson Sales, explica que tem uma afirmação pessoal sobre o assunto: quanto mais caro é um carro, mais cara será a manutenção dele. E é exatamente por isso que esses modelos de luxo desvalorizam tanto com o passar dos anos, a ponto de ficarem "acessíveis": fica pesado mantê-los.
"É algo básico: o número de equipamentos faz o carro ficar mais caro. Para muitos, os olhos brilham quando veem um veículo desse ao seu alcance, mas esquecem que a revisão e as inevitáveis trocas de peças demandam muito dinheiro, no mínimo, três vezes mais, dependendo do conserto", diz Sales.
E não adianta tentar se convencer com a ideia de que "carro bom não quebra". Existem itens de desgaste natural que demandam uma substituição, como pneus, pastilhas de freio, filtros, entre outras. E, é claro, quanto mais rodado o modelo estiver, mais peças terá que trocar.
Além da manutenção
Outra questão é o seguro, que pode custar até o dobro de um carro "comum" mais novo e de mesmo preço. Para se ter uma ideia, um BMW X1 2.0 2013 custa em torno de R$ 75 mil, o mesmo que um HB20 Evolution 1.0 Manual 2020, os valores do seguro completo desses carros - que cobre colisão e danos de terceiros - são de R$ 12.060 e R$ 7.824, respectivamente.
E não é um caso isolado: comparamos outra situação em que os modelos têm o mesmo preço, mas idades e padrões bem diferentes. Por R$ 75 mil o consumidor também pode escolher entre um Audi A1 Sport 2013 e um Volkswagen Polo 200 TSI 2018. É preciso levar em consideração, no entanto, que o seguro do primeiro sai por R$ 11.747, enquanto o do segundo custa R$ 8.016.
Em alguns casos, como o Porsche Cayenne 2017, é difícil até achar uma empresa que assuma o risco de assegurá-lo. A Youse, por exemplo, plataforma utilizada para as simulações, não aceita modelos da marca.
Combustível
Depois de colocar o custo da manutenção e do seguro na ponta do lápis, é necessário considerar o consumo de combustível. É preciso lembrar que, na maioria dos casos, quanto mais potente um carro é, mais combustível ele precisará para se locomover.
É por isso que modelos como Porsches costumam percorrer apenas 3,7 quilômetros com um litro de combustível na cidade, enquanto carros generalistas e mais novos, que precisam atender aos requisitos da legislação quando o assunto são emissões de poluentes, percorrem, pelo menos, 10 km/l.
Para quem vale a pena?
Há casos em que dinheiro não é a única questão. Algumas pessoas passaram a vida sonhando com um carro e, anos depois, com uma situação financeira mais confortável, podem realizar o desejo antigo.
Para esse grupo, pagar mais caro em combustível, seguro e manutenção não é grande coisa perto do prazer de dirigir o seu sonho de consumo. Por isso, ninguém melhor para assumir um "resto de rico" do que outro rico.
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