Carro popular: por que anúncio pode derrubar vendas nos próximos dias
O anúncio do pacote de medidas do governo federal feito ontem (25) para baratear o preço de carros zero-quilômetro e alavancar a produção e as vendas da indústria automotiva deixou ainda muitas questões em aberto.
Enquanto o mercado esperava informações sobre financiamento com juros mais baixos e até o uso do FGTS para a aquisição de veículos novos, as iniciativas já confirmadas ficaram restritas ao corte de IPI e PIS/Cofins para modelos com preço de até 120 mil.
Segundo Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o pacote completo será detalhado dentro de aproximadamente duas semanas, após análise do ministro da Fazenda Fernando Haddad, e publicação de medida provisória e decreto para implementar as novidades.
Especialistas consultados por UOL Carros avaliam que esse anúncio a conta-gotas pode ser prejudicial para o mercado automotivo e pode frear as vendas durante esses cerca de 15 dias - devido justamente às muitas indefinições que restam ser esclarecidas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pontos fundamentais que vêm sendo comentados pelo próprio governo nas últimas semanas nem foram mencionados ainda, como a oferta de crédito mais barato. Havia essa grande expectativa e muita coisa continua indefinida. Muita gente aguardava o anúncio para fechar negócio e agora vai esperar até a divulgação de todas as informações" Ricardo Bacellar, sócio fundador da Bacellar Advisory Boards e conselheiro da SAE Brasil
Bacellar avalia que o anúncio de ontem feito por Alckmin foi "morno" e destaca que o próprio vice-presidente deixou claro que as medidas de incentivo ao consumo e à produção serão temporárias.
Geraldo Alckmin afirmou que o corte no IPI e no PIS/Cofins vai resultar em uma redução entre 1,5% e 10,96% no preço de veículos, dentro do teto de R$ 120 mil, ao consumidor final.
O percentual do desconto será estabelecido com base em três critérios: preço, eficiência energética e nacionalização de componentes.
Apenas com base no percentual máximo previsto pelo governo, o preço de um carro zero-quilômetro ainda ficará acima de R$ 60 mil - aquém da projeção entre R$ 50 mil e R$ 55 mil feita pelo Palácio do Planalto.
Hoje os carros zero-quilômetro mais baratos do mercado são Renault Kwid e Fiat Mobi, com preço inicial em torno de R$ 69 mil.
Seguramente, qualquer desconto é bem-vindo. Mas resta saber se será suficiente para atingir o objetivo pretendido. Além disso, ainda desconhecemos o que as montadoras pretendem fazer para oferecer automóveis mais acessíveis, considerando que a margem de lucro de carros de entrada já é baixa e não dá para retirar itens de segurança obrigatórios nem aumentar o nível atual de emissões" Ricardo Bacellar
Para o especialista, a recuperação da indústria automotiva brasileira, que há três anos sofre com baixas vendas e elevada capacidade ociosa das fábricas, não passa apenas por corte de impostos e linhas de financiamento mais acessíveis: é preciso recuperar o poder de compra dos cidadãos.
"Apenas subsídio não resolve o problema. Precisamos de projetos estruturantes, que incluem aumento na renda média, mais empregos e menos tributos".
'É preciso reduzir taxa de juros'
Por sua vez, Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato do Brasil, vê o anúncio do governo federal como um "alento", com a ressalva de que os preços não deverão cair tanto quanto o Palácio do Planalto projetava inicialmente.
"O lado positivo é que não teve mudança de conteúdo, os carros continuam com os mesmos níveis de segurança e de eficiência energética, esse era um receio muito grande que tínhamos", pontua o executivo.
Milad faz coro a Bacellar no que se refere à necessidade de medidas estruturantes que proporcionem uma retomada sustentável no crescimento da indústria automotiva.
"O grande foco que a gente deve ter é na competitividade interna, que precisa aumentar, e outras medidas que fortaleçam o mercado interno. Também é necessário reduzir as nossas taxas de juros e facilitar o crédito para a compra desses veículos cujo preço eles estão reduzindo", defende o especialista.
Anfavea: 'Vai ter taxa diferenciada"
Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea (associação das montadoras), recebeu o anúncio do governo federal com otimismo - embora reconheça que ainda falte definir todas as regras do jogo.
"O ideal seria que pudéssemos ter as regras definidas hoje [ontem]. Só que as coisas aconteceram de forma muito rápida, toda a discussão. Foi positivo", elogiou o executivo.
Quanto aos 15 dias que faltam até a costura dos demais pontos do pacote, Leite não acredita que isso resulte em grande impacto negativo nas vendas.
"O mercado já deu uma recuada. A gente espera uma retomada para breve, temos condições de fazer negócios e finalizá-los quando as regras forem publicadas, dentro de duas semanas".
O chefe da Anfavea diz, ainda, que haverá uma linha de crédito especial para os consumidores.
"Vai ter taxa diferenciada. Hoje, estava presente a presidente do Banco do Brasil [Tarciana Medeiros] na reunião com o presidente Lula em Brasília e ela falou que vai anunciar uma linha específica para esse mercado de carros novos com preço de até R$ 120 mil, juntamente com a Caixa Econômica Federal. Mas não sabemos detalhes ainda".
A Anfavea projeta que as iniciativas já confirmadas de corte em impostos poderão elevar em até 300 mil unidades as vendas anuais de veículos no mercado brasileiro.
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