Carro popular: o que você precisa saber após anúncio do governo
O mercado ficou muito agitado, para o bem e para o mal, após o pronunciamento de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, sobre o plano do governo federal para baratear os veículos novos, introduzido ao público na semana passada.
Há muitos pontos a serem vistos nessa história toda: desde o que já foi dito pelo governo, passando pelos reflexos do pronunciamento, quais foram os impactos e como já estão se refletindo, o que dizem as entidades, e até o que efetivamente deverá acontecer. Tudo tem uma relação direta com o bolso do consumidor e com as tomadas de decisão daqui para frente.
A seguir, veja o que é preciso saber sobre o tudo o que está por trás do pacote de medidas, que visam alavancar a produção de carros populares no Brasil e baratear os preços finais de automóveis zero-quilômetro no Brasil.
Como serão os descontos?
Segundo Alckmin, o governo dará descontos em tributos como IPI e PIS/Cofins que variarão entre 1,5% e 10,96% no valor final do veículo;
Critérios: determinação do mix de quanto desconto será dado contemplarão preço (que seja até R$ 120 mil, abrangendo 47% do mercado brasileiro), eficiência energética (quanto menos consumir e poluir, mais descontos terá) e densidade industrial (o percentual de utilização de componentes fabricados no Brasil. Carros que não são montados no país estão excluídos do programa);
A medida terá tempo limitado, mas o período não foi anunciado. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad afirmou que ação deve durar entre três e quatro meses;
Alckmin disse que o programa será publicado integralmente pelo Ministério da Fazenda 15 dias após a data de realização do anúncio (que foi no último dia 25), com todos os detalhes finais;
Como ficam os financiamentos?
Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, a associação das montadoras, disse que a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, prometeu que haverá uma linha de crédito especial para os consumidores.
O BNDES, por sua vez, anunciou nova linha de financiamento para a indústria como um todo, voltada a exportações em dólar.
Aloízio Mercadante, presidente do banco estatal, informou que essa linha de crédito terá R$ 2 bilhões iniciais, que poderão ser dobrados para R$ 4 bilhões, a depender da demanda.
Segundo ele, a taxa de juros anual dessa linha será de no máximo 7,5% e redução de spread de 1,30% para 0,5%. O chefe da entidade disse, ainda, que deverá destinar, ao todo, para o setor industrial, R$ 11 bilhões de crédito em 2023.
Medida é suficiente para resolver carros encalhados?
Especialistas entrevistados pelo UOL Carros, Ricardo Bacellar (sócio fundador da Bacellar Advisory Boards e conselheiro da SAE Brasil), Cassio Pagliarini (sócio da consultora Bright Consulting) e Milad Kalume Neto (diretor de desenvolvimento de negócios da Jato do Brasil) são unânimes em afirmar que, além da redução da taxa de juros, da facilitação do crédito e dos incentivos fiscais, é preciso discutir medidas estruturantes que proporcionem uma retomada sustentável no crescimento da indústria automotiva.
Pagliarini critica a demora para a publicação do pacote de medidas e a escassez de informações para que o mercado pudesse saber como reagir. Também faz referência aos danos ao mercado, afirmando que houve uma parada repentina e muito impactante nos emplacamentos.
Apesar das ressalvas à forma como tudo ocorreu, afirma que sua consultoria calcula algo em torno de 170 mil vendas incrementais, caso a duração do programa seja de junho a dezembro. Diz ele que isso deverá "arejar a indústria, acelerar a economia mais cedo e repor o mercado de usados com veículos mais novos". Ainda assim, acredita que é importante que, na hora da retirada dos benefícios, "o desmame seja feito aos pouquinhos".
Como se não bastasse, o especialista ainda diz que as fabricantes poderão se sentir encorajadas a reduzirem preços de carros que atualmente passam até mais ou menos R$ 5 mil do teto do benefício.
Independentemente de mera redução nos preços, o que poderá ocorrer também, para que modelos mais equipados aproveitem o boom de descontos, é que as montadoras poderão lançar opções mais simplificadas, a exemplo do que a Volkswagen já fez com o Polo Track.
Já Flavio Padovan, ex-executivo de montadoras como Ford, Volkswagen e Jaguar Land Rover, afirma que as montadoras não têm condições de reduzir muito as suas margens de lucro para baratear seus carros de entrada;
Carros usados ficarão mais baratos?
Para Pagliarini, os descontos dos carros novos obrigarão os usados a reduzirem os preços também, respeitando o mesmo percentual dos zero km ou próximo disso, uma vez que aqueles com até quatro ou cinco anos desde a fabricação ainda competem com os novos na hora do consumidor decidir a compra.
Ainda segundo o especialista, os mais usados, tanto de idade quanto de quilometragem, ainda que também possam acabar sendo obrigados a praticar algum desconto, na prática isso não terá tanta expressividade quanto os mais novos, pois há uma diluição no meio do caminho.
A Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) elogiou a iniciativa, mas deixou apelo ao governo para que o setor de usados não seja deixado de lado.
Como estão as vendas de zero km após anúncio
Concessionárias afirmam que clientes correram para desistir ou cancelar a compra, seja do carro até R$ 120 mil ou de valor superior, e seja ele zero km ou usado.
Muitas delas já estavam com as metas batidas e, de uma hora para a outra, terminaram o mês no vermelho.
O que entidades dizem do anúncio do governo
- Presidente da Anfavea elogiou a medida e afirma que as medidas do governo poderão, sozinhas, ampliar de 200 mil a 300 mil unidades as vendas de veículos neste ano;
- Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) também declarou apoio à medida do governo, mas afirmou que, antes do dia 2 (quando publicará seus resultados), não iria se pronunciar sobre a queda nas vendas, decorrente do hiato entre o anúncio de Alckmin e a publicação das medidas;
Como ficará o preço dos carros mais baratos do Brasil
Apenas com base no percentual máximo previsto pelo governo, o preço de um carro zero-quilômetro ainda ficará acima de R$ 60 mil - aquém da projeção entre R$ 50 mil e R$ 55 mil feita pelo Palácio do Planalto. Assim, os carros mais baratos do Brasil deverão passar a custar:
Fiat Mobi (de R$ 68.990 para valores entre R$ 67.955,15 e R$ 61.428,70);
Renault Kwid (de R$ 68.990 para valores entre R$ 67.955,15 e R$ 61.428,70);
Citroën C3 (de R$ 72.990 para valores entre R$ 71.895,15 e R$ 64.990,30);
Fiat Argo (de R$ 79.790 para valores entre R$ 78.593,15 e R$ 71.045,02);
Renault Stepway (de R$ 79.990 para valores entre R$ 78.790,15 e R$ 71.223,10);
VW Polo Track (de R$ 81.370 para valores entre R$ 80.149,45 e R$ 72.451,85);
Hyundai HB20 (de R$ 82.290 para valores entre R$ 81.055,65 e R$ 73.271,02);
Chevrolet Onix (de R$ 84.390,00 para valores entre R$ 83.124,15 e R$ 75.140,86);
VW Polo MPI (de R$ 86.390 para valores entre R$ 85.094,15 e R$ 76.921,66);
Renault Logan (de R$ 89.560 para valores entre R$ 88.216,60 e R$ 79.744,22);
Obs: Peugeot 208 e Fiat Cronos entrariam nessa lista, mas são fabricados na Argentina e foram excluídos da isenção, válida apenas para veículos feitos em solo nacional.
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