Por que Fiat e Jeep receberam quase metade dos incentivos do governo
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
21/06/2023 04h00
Cerca de duas semanas após o início do programa de benefícios fiscais para reduzir os preços de veículos, o governo federal divulgou, nesta segunda-feira (19), o ranking das montadoras que mais consumiram recursos até então.
Dos de R$ 500 milhões em créditos fiscais concedidos pela União às fabricantes para a venda de carros de passeio com desconto, R$ 320 milhões já tinham sido requisitados no início desta semana.
Sozinhas, apenas duas marcas dentre todas as participantes do programa "gastaram" 40% do montante: Fiat e Jeep, que, juntas, requisitaram R$ 130 milhões em incentivos para a venda de carros mais baratos.
Se incluirmos Citroën e Peugeot, as outras duas marcas de automóveis do Grupo Stellantis no Brasil, o total chega a R$ 170 milhões, valor que corresponde a mais da metade (53%) dos R$ 320 milhões em créditos liberados pelo governo.
A predominância de Fiat, Jeep e Stellantis no geral chama a atenção, pois outras fabricantes, incluindo marcas de carros campeões de venda, ficaram bem abaixo: Volkswagen requereu R$ 50 milhões em créditos fiscais, ante R$ 30 milhões da Renault e R$ 20 milhões da General Motors.
Honda, Nissan e Toyota solicitaram R$ 10 milhões cada em créditos.
UOL Carros consultou dois especialistas no mercado automotivo para saber a razão de o Grupo Stellantis estar tão na frente dos seus concorrentes.
Segundo as fontes, as principais causas do sucesso da Stellantis são as seguintes:
Política agressiva de preços, com descontos acima do concedido pelo governo
Agilidade na aplicação dos novos preços após o anúncio do programa de incentivos
Maior oferta de carros elegíveis aos descontos, com preço até R$ 120 mil antes de o programa entrar em vigor
Quantidade de emplacamentos: as fabricantes que mais venderam são as que mais se habilitaram ao recebimento dos créditos tributários
É bom lembrar que o abatimento de R$ 2000 a R$ 8.000 liberado pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é condicionado a três critérios: preço, percentual de componentes fabricados localmente e eficiência energética.
Quem mais emplacou, recebeu mais créditos para aplicar os descontos. Neste sentido, a Stellantis está na frente, sem dúvida. Nos primeiros 15 dias de junho, aproximadamente 24% dos emplacamentos foram de veículos da Fiat e da Jeep. Se adicionarmos todas as marcas da Stellantis, chegamos a 26,67% de participação de mercado" Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato do Brasil
Milad acrescenta, especificamente no caso da Fiat, que grande parte dos emplacamentos da montadora italiana desde o início do programa, anunciado em 5 de junho, é de veículos mais baratos, que têm justamente direito a um incentivo fiscal maior.
"Além disso, Fiat, Jeep e as demais marcas da Stellantis atuaram de forma competente na divulgação de seus descontos, levando o público para as respectivas concessionárias e fechando vendas. Este mérito é encontrado em outras marcas", destaca Milad.
Outras marcas têm menos carros elegíveis a desconto
O consultor da Jato lembra que muitas marcas têm poucos modelos elegíveis ao benefício, como a Honda, com o City, a Toyota, com o Yaris, e a Nissan, com o Kicks. Já a Volkswagen concentrou os descontos no Polo e no T-Cross, ao passo que a GM tem maior concentração em Onix e Onix Plus.
Cassio Pagliarini, da consultoria Bright Consulting, faz coro ao colega. "Nissan, Toyota e Honda hoje têm pouquíssimos veículos com preço abaixo do limite de R$ 120 mil. Já a Stellantis traz uma percentagem consideravelmente maior de carros dentro desse teto".
Pagliarini também cita como vantagens das marcas da Stellantis a "agressividade comercial e a velocidade da empresa". O consultor da Bright, no entanto, faz uma ressalva.
"Veja que os valores divulgados pelo governo federal não são dinheiro gasto e, sim, dinheiro requisitado. Os emplacamentos ainda não começaram a subir, estão represados. Pode ser que a Stellantis tenha pedido tudo na confiança de vender, pois os emplacamentos ainda não aconteceram para comprovar".
Como funcionam os créditos fiscais
Vale destacar que os R$ 500 milhões citados acima não significam uma desoneração direta de impostos e sim créditos para as montadoras futuramente abaterem tributos devidos à União, após a venda de veículos com preços mais em conta.
No total, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços liberaram R$ 1,5 bilhão em créditos, dos quais R$ 500 milhões são referentes a veículos leves, outros R$ 700 milhões irão para a venda de caminhões e R$ 300 milhões serão destinados à comercialização de vans e ônibus mais baratos.
Quando esses créditos se esgotarem, o programa de incentivo à venda e à produção de veículos deverá ser encerrado, a menos que haja uma mudança nos planos da administração federal.
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