Carros batidos: como preços convidativos podem esconder joias ou roubadas
O mercado de veículos batidos não para de crescer. Hoje em dia, há muitos classificados que anunciam apenas esse tipo de produto. Há diversos exemplares com preços muito abaixo do mercado regular, alguns, inclusive, com quilometragem bem inferior à média.
É possível encontrar carros, motos e até caminhões de tudo quanto é jeito: com sinistros de variadas proporções, mecânica que funciona ou não, carro que roda ou não, com IPVA em dia ou com pendências, entre outros. E agora? Basta garimpar os pátios desses vendedores para encontrar verdadeiras joias que precisam apenas de peças novinhas? Ou será que, independentemente do caso, só há ouro de tolo?
O ponto de partida para essa discussão é o seguinte: se é sempre aconselhável levar um usado recém-adquirido a uma oficina de confiança (ainda que, a princípio, não haja nada fora dos conformes), a necessidade de checagem e manutenção de um veículo batido é imprescindível e imediata. Aliás, dependendo do caso, não é nem possível garantir a sua regularização.
Antes mesmo de contatar os vendedores desses veículos, os próprios classificados já costumam esclarecer algumas informações sobre cada um dos produtos anunciados. De fato, isso ajuda a nortear e a filtrar opções antes de partir para a primeira visita (que nem com os usados convencionais). Entretanto, especialmente no caso dos carros batidos, expectativas jamais devem ser criadas após a leitura de qualquer descrição de venda.
Não é mercado para amadores
Não é aconselhável que um leigo vá atrás de um carro desses sozinho. Por mais que o comprador saiba como avaliar um automóvel corretamente, o acompanhamento de um profissional qualificado é indispensável para desvendar as inúmeras variáveis que podem estar ocultadas em decorrência da batida. Qualquer um pode ser facilmente enrolado na visitação e, justamente por isso, a maior parte dos que fecham negócio acabam ficando arrependidos depois" Alexandre Barros Pinho, proprietário da oficina mecânica e funilaria WTC Express.
Segundo o especialista, quase sempre uma batida que afeta a parte estrutural já inviabiliza a compra automaticamente. Os motivos vão desde o comprometimento da segurança e da integridade do carro até a negativa de qualquer vistoria veicular. Nesses casos, o profissional que estará acompanhando o cliente na visitação entenderá que qualquer tipo de orçamento para conserto seria em vão.
O que muitos ainda tentam fazer é a utilização do ciborgue para trazer a estrutura de volta ao local de origem, mas Alexandre diz que, por mais impecável que esse serviço possa acabar ficando visualmente, nunca será o suficiente para escapar das aferições dos laudos cautelares - vistorias aprofundadas que são importantíssimas antes de fechar qualquer negócio.
Entretanto, apesar do alerta, o especialista não nega que há exceções, justamente pelo fato de que, quando o assunto é carro acidentado, cada caso é sempre diferente um do outro. Logo, com exceção de quando há comprometimento à parte estrutural (decorrente de incidentes com danos às longarinas, por exemplo) a compra de um carro batido pode valer a pena se:
For um modelo cujas peças não sejam difíceis de encontrar
Tiver sido afetado principalmente em peças de encaixe e de aparafusamento
Os preços das peças de reposição (ainda que sejam paralelas ou usadas, desde que tenham qualidade e boa procedência) não forem tão elevados relativamente ao valor de mercado do veículo
A soma do orçamento total do reparo (incluindo mão-de-obra) com o preço de compra do veículo e seus débitos (se existirem) não chegue perto do valor de mercado do modelo. A compra de um carro batido só fará mais sentido ante o íntegro se, no final das contas, sobrar mais dinheiro - ainda que, decorrente dos maiores riscos inerentes a esse tipo de veículo, acabe sendo necessário direcionar parte da reserva durante quebras imprevistas futuramente
Não forem identificados tantos problemas ligados à mecânica, pois são sempre mais caros de arrumar e costumam sempre esconder mais vícios ocultos
O impacto não tenha atingido áreas revestidas com material balístico (em caso de veículos blindados), pois o reparo é sempre muito caro de executar
Outros pontos de discussão naturais, segundo Alexandre, são polêmicas como o acionamento do airbag e os casos de colisão traseira. Segundo o especialista, ao contrário do que ocorre com modelos mais antigos e/ou com menores quantidades de eletrônica embarcada, o acionamento do airbag, sozinho, não é mais fator determinante para julgar se o impacto foi tão comprometedor assim ao veículo, tampouco que é motivo para se decretar perda total.
Além disso, explica que outro mito é o de que as batidas traseiras são sempre menos danosas do que as frontais - entre os motivos, estaria o fato de que é no cofre do motor onde está a maior concentração de componentes mecânicos.
No caso, Alexandre explica que partes como o painel traseiro e o assoalho estão mais próximos da carroceria e, por isso, são mais vulneráveis na hora do impacto. Na frente, por sua vez, regiões mais "vitais" para a integridade estrutural do carro ficam melhor isoladas das colisões.
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