Golpe do Uber fantasma: como motoristas fazem corridas caras sem passageiro
A ferramenta da Uber que gera senhas de segurança para corridas, chamada de 'U-Código', tem virado polêmica entre os usuários da plataforma. Trata-se de um recurso que obriga o motorista a registrar a credencial que foi gerada ao passageiro. Só dessa forma, a corrida poderá ser iniciada.
A lógica é similar ao que ocorre dentro do iFood, antes de permitir que o entregador libere a encomenda. Entretanto, ainda que, por um lado, a funcionalidade tenha sido pensada para ajudar na garantia de que o mau motorista não inicie a viagem sem que o passageiro tenha embarcado no veículo, por outro, o próprio mecanismo de segurança acabou virando ferramenta para capturar desavisados no golpe das "corridas fantasmas".
O mais curioso é como, em alguns casos (como o que está acima, que foi postado no Twitter), as vítimas relatam que os golpistas chegam a concluir a viagem rapidamente. Isso quer dizer que, independentemente da distância total do trajeto, a corrida pode ser finalizada até mesmo poucos minutos após a partida. Nos comentários do post, a Uber comentou que havia contatado a usuária para resolver o ocorrido.
Como agem os golpistas
A fraude só funciona com os passageiros que habilitaram a função nas configurações do aplicativo
Os motoristas de app com intenções maliciosas perguntam ao passageiro qual é o código que, a ele, foi originado pela plataforma. Dessa forma, as corridas podem ser iniciadas
Em tese, nunca ocorrerá problema algum se o passageiro se negar a informar o código antes de se sentar no veículo
Entretanto, não custa nada capturar a tela do código e a que mostra os detalhes da corrida, para garantir provas na hora de contatar a plataforma ou, até mesmo, gerar um boletim de ocorrência
Outro golpe conhecido (e que tem certa similaridade) é aquele onde o motorista não finaliza a corrida após o desembarque do passageiro. Ao invés disso, segue viagem com a corrida ainda "rodando", mesmo sem mais ninguém no carro
O que diz a empresa
Veja abaixo a nota completa enviada pela Uber à redação do UOL Carros:
Os esquemas de fraude estão em constante evolução e é por isso que a Uber está comprometida em atualizar e fortalecer os seus processos internos para proteger a plataforma e os seus usuários.
Nossas equipes de detecção de fraudes usam análises manuais e sistemas automatizados de aprendizado que analisam mais de 600 tipos de sinais diferentes à procura de comportamentos fraudulentos.
Estamos permanentemente implementando novos processos e tecnologias para evitar fraudes e aprimoramos o treinamento dos nossos agentes, enquanto seguimos trabalhando para ficar à frente dos golpes mais recentes.
A empresa esclarece ainda que possui uma ferramenta chamada U-Código, que consiste em uma senha de quatro dígitos, criada pelo app para cada viagem, que deverá ser fornecida verbalmente pelo usuário ao motorista ao entrar no veículo, para que então ele consiga iniciar a viagem.
Reforçamos em comunicados que, para que o código de verificação cumpra seu papel, é importante que a pessoa não compartilhe os 4 dígitos com o motorista antes que ele chegue ao ponto de embarque. Isto é, o código não deve ser compartilhado pelo chat ou pelo telefone em nenhuma hipótese, apenas pessoalmente, no momento em que há o encontro com o motorista. O código serve para confirmar que tanto usuário quanto o parceiro estão na viagem correta e para que o motorista possa começar a viagem.
Caso a pessoa acredite ter sido vítima de crime cometido pela outra parte, a empresa encoraja que sejam acionadas as autoridades competentes. A Uber possui uma equipe formada por ex-policiais e um time de resposta a autoridades prontos a colaborar com as investigações, na forma da lei.
Será que a ferramenta é útil mesmo?
Tão polêmico quanto o fato em si é a real utilização do recurso de segurança. Não só a contradição entre a razão de ser da ferramenta e a utilização ilegal que chama atenção, como também o fato de que não é exatamente algo que assegure os usuários, no final das contas - ao menos da forma como os desenvolvedores devem ter idealizado.
Ainda que esse tipo de golpe tenha ocorrido de forma mais isolada, não vejo muita vantagem nesse código. Ele é aleatório. A cada três ou quatro corridas que um passageiro faz, vai aparecer só em uma. Para o motorista, o código não muda nada. Quando o passageiro entra com o código em mãos, beleza. Mas quando o passageiro não se dá conta, o início da corrida leva mais tempo e isso serve para comprometer a segurança tanto do passageiro quanto do motorista. Dependendo do lugar em que se está, ficar parado nunca é uma boa ideia Eduardo Lima, presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (Amasp)
"Além disso, se um criminoso rouba o celular de alguém para chegar até um motorista com a finalidade de assaltá-lo, terá o código do mesmo jeito. Por isso que o que defendemos é a criação de um sistema de reconhecimento facial, onde o passageiro só tem a aprovação da sua solicitação de viagem quando o escaneamento do seu rosto bater com aquele que está cadastrado no seu perfil, dentro do sistema da plataforma. Infelizmente, desde 2016 tentamos convencer a empresa a criarem isso, mas eles alegam que esse tipo de ferramenta requer muito investimento", finaliza o presidente da entidade.
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