Carro chinês: por que é tão barato e iniciou guerra de preços no Brasil

A China está no centro das atenções do mercado automotivo do Brasil. Com foco nos carros híbridos e elétricos, duas marcas do gigante asiático recentemente confirmaram fábricas para a produção desse tipo de veículo no País, que já vendem aqui, ainda importados, a preços muito competitivos.

Acabam de chegar modelos como o compacto 100% elétrico BYD Dolphin, na faixa de R$ 150 mil, e o SUV híbrido GWM Haval H6, por R$ 214 mil iniciais. Mais baratas, essas e outras novidades já causam reduções nos preços de automóveis equivalentes de marcas tradicionais e também de outras montadoras chinesas aqui instaladas.

Nessa verdadeira guerra de preços, carros como o SUV elétrico Peugeot e-2008 ficaram mais baratos - nesse caso, houve um corte de R$ 50 mil no valor cobrado. O mesmo aconteceu com vários modelos eletrificados da Caoa Chery, que já produz aqui, e da JAC, outras marcas de origem chinesa.

Segundo análise do consultor Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards, essa nova "invasão chinesa" é bem diferente daquela que aconteceu há quase 15 anos no Brasil, quando as primeiras montadoras do país asiático chegaram ao País - e muitas delas acabaram indo embora após pouco tempo.

Fábrica da GWM em Iracemápolis (SP) foi comprada da Mercedes-Benz e começa a produzir em 2024
Fábrica da GWM em Iracemápolis (SP) foi comprada da Mercedes-Benz e começa a produzir em 2024 Imagem: Divulgação

De acordo com Bacellar, ao longo dos últimos anos a indústria automotiva chinesa avançou enormemente em termos de qualidade dos respectivos produtos e de eficiência produtiva, especialmente no que se refere a veículos híbridos e elétricos. Isso tem feito toda a diferença agora em nosso país, quando montadoras chinesas voltam a investir fortemente em nosso mercado.

"A China parou há muito tempo de simplesmente copiar o design e a tecnologia de marcas ocidentais e começou a desenvolver conhecimentos e capacidade próprios na produção de veículos, contratado os melhores profissionais do mundo. Essa coisa de carro chinês de baixa qualidade e 'copiado' ficou no passado", avalia o especialista.

Para Ricardo Bacellar, o incentivo do governo chinês ao desenvolvimento de tecnologias para carros eletrificados, com política de incentivos e direcionamento de investimentos, tornou o país oriental uma grande referência e liderança nessa área - enquanto o Ocidente "demorou muito a acordar" e ficou para trás nessa corrida tecnológica.

Os chineses apostaram primeiro e investiram muito dinheiro para chegar nesse ponto. A China hoje concentra a produção e o desenvolvimento de baterias, que hoje ainda representam cerca de 50% do custo de um carro elétrico, e também dos semicondutores, muito mais utilizados nesse tipo de veículo na comparação com carros tradicionais a combustão" Ricardo Bacellar, consultor da Bacellar Advisory Boards

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Por que o carro chinês consegue ser tão mais barato?

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Até os lançamentos recentes do BYD Dolphin e do GWM Ora 03, ambos começando em torno de R$ 150 mil e recheados de tecnologia e de algum luxo, esse valor era cobrado por elétricos menores e bem mais simples no Brasil.

Mas como a China é capaz de ser tão competitiva em relação a marcas ocidentais já estabelecidas em nosso mercado?

Conforme Bacellar, os seguintes fatores explicam esse fenômeno:

Alto volume de produção dilui os custos; enquanto no Brasil foi comercializado cerca de 1 milhão de veículos no primeiro semestre de 2023, no mesmo período a BYD sozinha vendeu 1,2 milhão de unidades no mundo, contra 715 mil da Chery e 520 mil da GWM

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Eficiência produtiva elevada, que também barateia o custo por carro montado

Liderança no desenvolvimento e na fabricação de baterias e microchips, o que proporciona um custo "imbatível"

Mão de obra qualificada e mais barata

O que o Brasil ganha com isso?

Sob o ponto de vista de Bacellar, a chegada de montadoras chinesas tem tudo para acelerar a oferta e o desenvolvimento de carros elétricos no Brasil

A política agressiva de preços, combinada com a qualidade dos produtos, estimula a competitividade

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Isso, segundo ele, beneficia não apenas o consumidor, mas a indústria automotiva local como um todo

"Sem dúvida, a concorrência sempre é benéfica e o consumidor ganha com isso. A concorrência também é beneficiada, devido à necessidade de oferecer produtos melhores e mais acessíveis", analisa.

De fato, os efeitos dos lançamentos recentes já são sentidos quanto à redução nos preços.

Ele acrescenta que a perspectiva é de ainda mais competitividade com o início da produção local de marcas como BYD, GWM e outras chinesas que devem chegar nos próximos anos.

Bacellar lembra que as fábricas da GWM em Iracemápolis (SP) e da BYD, prevista para Camaçari (BA), cujo início da produção está previsto para 2024, miram não apenas o Brasil, mas serão polos exportadores para outros mercados - possibilitando maior volume produtivo e menos custos.

"Os chineses estão começando a oferecer veículos em diferentes faixas de preço. Com o início da produção local e a chegada de outras marcas do país asiático, a outra boa notícia será a geração de empregos e a qualificação da mão de obra local. A vinda das montadoras da China traz benefícios sob todos os aspectos".

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97 comentários

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Salvador Rodrigues de Lima

A vinda dos carros chineses vai desmascarar as montadoras brasileiras. Se o carro teve o preço rapidamente diminuido em 50 mil, então cai por terra o argumento dos impostos, custo brasil, etc. Está aí a prova que as carroças nacionais poderiam ser muito mais baratas sem afetar os ganhos da industria automobilistica. Enquanto isso, temos o cortador de grama Kwid sendo vendido por 70 mil. Pode isso Arnaldo?

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Jean Carlo Walvy Ferreira

R$ 150 MIL por uma casquinha de ovo com motorzinho elétrico e a imprensa chama esse absurdo de opção BARATA ? Em que mundo estamos vivendo ??? Que maluquice... 

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Horacio Avelino Lourenco Rodrigues

Vamos às contas... Como exemplo vamos nos basear no Kwid Outsider 0 km (O mais completo) que custa 74.990,00 e a versão elétrica custa R$149.990,00.  Essa diferença basicamente é por volta de 65% com o custo das baterias já que o elétrico não tem motor, cambio/diferencial, e todos os componentes associados aos motores à explosão. Então o preço estimado das baterias deve ser aproximadamente R$90.000 e só dura uns 10 anos dependendo do uso. Isso nos leva a um custo de R$9.000,00 ao ano com as baterias, sem levar em conta que essa diferença de R$90.000,00 renderia em torno de R$10.800,00 (numa aplicação rendendo 12% ao ano.), que dá para comprar 2.160 Litros de gasolina a R$5,00 o Litro (180 L/mês). Alguma dúvida? Vale considerar também que depois de 10 anos o Kwid à gasolina se bem conservado ainda retorna um dinheirinho, já o elétrico com baterias gastas à R$90.000, acho que só vendendo para desmanche

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