Por que fábrica da BYD na Bahia vai baratear produção de Fiat e Jeep
A decisão da BYD de instalar um complexo de fábricas em Camaçari (BA) para a produção de veículos híbridos e elétricos, anunciada no início do mês passada, é bem-vinda por um futuro concorrente da montadora chinesa.
Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, saudou anteontem (31) a chegada da nova unidade fabril à Bahia, possivelmente no mesmo endereço previamente ocupado pela Ford - cuja fábrica em Camaçari fechou as portas em 2021.
Filosa destacou que, com a saída da Ford, antigos fornecedores de autopeças da montadora norte-americana também deixaram a Bahia e outros ficaram em dificuldades financeiras. Muitos deles atendiam a própria Stellantis, que fabrica em Goiana (PE) os modelos Ram Rampage e Fiat Toro, além dos Jeep Renegade, Compass e Commander.
A expectativa do executivo é de que a BYD traga de volta tais fornecedores e atraia outros, que também poderão atender a unidade da Stellantis em Pernambuco.
"Quando a Ford saiu da Bahia, todos os fornecedores começaram a sofrer e pioraram os custos de produção [da Stellantis]", disse Filosa.
Ele prosseguiu, acrescentando que a Stellantis está interessada na chegada da BYD a Camaçari e que "a revitalização da cadeia de fornecedores trará mais competitividade local".
De fato, a BYD mantém conversas da definir os futuros parceiros na produção de componentes para seus veículos em Camaçari - que inclui a fabricação local de componentes para a fabricação de sistemas híbridos e elétricos para seus veículos.
Ex-executivo da Ford, o consultor Cassio Pagliarini destaca a importância de reforçar a presença de fornecedores no Nordeste brasileiro.
"Na minha época de Ford, eram 28 fornecedores no parque de Camaçari, que fizeram investimento em instalações. Não é surpresa que esses fornecedores precisem buscar volumes na Stellantis. A produção no Nordeste é prejudicada por fatores logísticos inbound e outbound, tanto de componentes quanto de veículos prontos. Quanto mais produtos puderem ser escoados dentro da região, melhor para o fornecedor e montadora".
Não foi por acaso que Antonio Filosa comentou a ida da BYD para a Bahia. As declarações aconteceram durante evento em Betim (MG) no qual a Stellantis apresentou as novas tecnologias de carros elétricos e híbridos a etanol que a companhia vai lançar no Brasil em 2024.
No mesmo evento, ele informou que até 2030 a empresa fará o primeiro carro totalmente elétrico no Brasil e que 20% do respectivo mix de vendas em nosso mercado corresponderão a veículos totalmente movidos a baterias.
Filosa destacou o foco em nacionalizar o máximo possível os componentes desses sistemas híbridos e elétricos.
Reportagem da Autodata publicada no dia 24 de julho, com base em outra entrevista do presidente, já adiantava os planos da Stellantis de dobrar dos atuais 50 para cerca de cem o número de fornecedores da fábrica de Goiana, considerando Bahia, Pernambuco e Paraíba.
Na ocasião, ele mencionou a importância de acelerar o processo de "localização" de componentes, jargão utilizado para designar a nacionalização de peças, com foco na redução de custos e na competitividade.
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Outro aspecto envolvendo a ida da BYD à Bahia que está diretamente relacionado à fábrica da Stellantis em Pernambuco é a concessão de benefícios fiscais federais.
No início de julho, logo após a BYD anunciar que produzirá veículos em Camaçari, a Câmara dos Deputados derrubou emenda da reforma tributária que estendia até 2032 esses benefícios para montadoras como a Stellantis e a própria BYD no Nordeste.
O texto foi para o Senado, que poderá trazer a emenda de volta. Caso isso não aconteça, as vantagens fiscais na região serão extintas em 2025.
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