De helicóptero a conversível: céu é o limite para brasileiros com o Ford Ka

Fora de linha desde 2021, quando a Ford encerrou a fabricação de veículos no Brasil, o Ka ainda é uma figura fácil no trânsito, pois já foi um dos carros mais vendidos do País.

Contrariando a fama de veículo frugal e sem graça, o compacto também é a base para projetos que provam: para a imaginação do brasileiro, o céu é o limite.

Publicações nas redes sociais comprovam isso: dentre outros projetos surpreendentes, merecem destaque o KaLicóptero, versão com hélices do hatch; e o conversível Kaixa d'Água, feito com com partes do famoso reservatório, canos PVC e um cobertor.

UOL Carros investigou os dois memes e conta a seguir detalhes de cada criação, baseada na primeira geração do Ford Ka.

O que é o KaLicóptero

Como não poderia deixar de ser, a invenção tem cauda, cuja extremidade aparenta trazer um rotor - na gravação, a parte traseira está parcialmente encoberta por um plástico preto

O vídeo mostra, ainda, parte do interior do KaLicóptero, equipado com banco central e volante cortado para lembrar o manche de aeronaves ou a polêmica direção do badalado Tesla Model S Plaid

É preciso admitir que a traseira arredondada e inclinada do Ka funcionou bem como a dianteira de um helicóptero

Vale destacar que a primeira geração do compacto é apontada por entusiastas como a mais divertida, sobretudo na versão XR 1.6, equipada com motor 1.6 de 95 cv

Muitos questionam se o KaLicóptero seria capaz de voar. Com a ajuda de leitores, UOL Carros descobriu onde está e como foi fabricado o veículo. A criação hoje está em frente a um condomínio às margens da Rodovia BR-316, no município de Marituba, na Região Metropolitana de Belém, a capital do Pará. Também descobrimos que o vídeo foi gravado há cerca de três anos no mesmo local, pouco antes de o projeto ser finalizado.

O "pai" do KaLicóptero é o empresário Mário Wilson Corrêa Junior, dono de uma empresa de marketing especializada na promoção e venda de condomínios "de alto padrão", como ele descreveu em conversa com a reportagem em 2022.

A ideia surgiu para divulgar o empreendimento imobiliário e atrair possíveis futuros moradores - o local tem heliponto e também uma marina.

Precisava chamar a atenção de alguma forma, pois quem passa defronte a entrada geralmente está em um carro a mais de 100 km/h. Inicialmente, eu queria usar a carcaça de um helicóptero muito grande que um amigo adaptou há alguns anos para usar como lanchonete Mário Wilson Corrêa Junior

Porém, a aeronave sumiu e o jeito foi construir outra "do zero". A essa altura, você já deve ter percebido: o KaLicóptero não nasceu para voar e foi criado como peça decorativa. "Logo pensei em usar a carroceria de um carro. Certo dia, passei em um ferro-velho e me deparei com um Ford Ka. Olhando a traseira arredondada, lembrei-me desses helicópteros pequenos, com cabine em forma de bolha".

Para dar forma ao KaLicóptero, o carro foi virado ao contrário: a traseira do hatch, incluindo as respectivas lanternas, tornou-se a frente da invenção; onde estaria o compartimento do motor do Ford foi instalada a cauda, cujo rotor gira de verdade - se houver vento.

O veículo também recebeu um par de "esquis", que são as barras transversais que mantém helicópteros apoiados no solo, e uma hélice cujas pás são, na verdade, tubos encobertos por chapas metálicas e soldados em um cano preso ao teto. Não existe motor para movimentar a hélice.

Ou seja: o KaLicóptero não voa, mas é capaz de fazer a imaginação sair do chão.

Conheça o Ford Kaixa d'Água

Desde criança, o jovem Kaio Tavares, de 25 anos, é apaixonado por carros - especialmente os modelos conversíveis, com capota retrátil

Há cerca de oito meses, decidiu que finalmente teria um automóvel do tipo na garagem

Contudo, não comprou um automóvel pronto e construiu ele mesmo o seu conversível, na própria casa, com orçamento apertado e materiais inusitados como uma caixa d'água

Morador de Atibaia, no interior de São Paulo, Tavares adquiriu um Ford Ka 2000 por cerca de R$ 1,7 mil e deu início ao projeto

Ele registrou o processo de construção em fotos e vídeos publicados nos seus perfis no Instagram e no Facebook

Com seis anos de experiência na profissão de soldador, mais uma lixadeira e uma máquina de fabricar portões, ele literalmente colocou as mãos na obra.

"Comecei sem nenhum planejamento. Fiz conforme a minha cabeça, fui cortando, soldando e vendo como ficava".

Para a empreitada, a única orientação que diz ter buscado foi em vídeos de outros criadores de conteúdo no YouTube dedicados à transformação "caseira" de veículos.

A capacidade de improviso chama a atenção: cedida pela mãe de Kaio, a caixa d'água citada no início desta reportagem serviu de base para a instalação de um novo forro das portas.

A mãe dele também "emprestou" um cobertor vermelho, usado para revestir as portas, o assoalho e também a parte atrás dos bancos dianteiros - o traseiro foi removido, transformando o Ka em um automóvel para apenas duas pessoas.

No começo, minha mãe achou que eu estava maluco, mas ficou mais tranquila quando viu o carro ganhando forma e o projeto avançar Kaio Tavares, proprietário e idealizador do Ford Ka conversível

Onde ficava o assento traseiro, ele instalou uma nova tampa para cobrir o porta-malas, cuja capacidade original foi bastante ampliada. A forma que ele encontrou para modificar a carroceria também é bastante curiosa.

"A nova tampa do porta-malas é, na verdade, o capô ao contrário com um prolongamento, feito com metal soldado", explica o criador do carro, que apelidamos de "Ford Kaixa D'água".

Outra curiosidade está relacionada ao escapamento traseiro, feito com o cano retirado de um banquinho que tinha em casa.

Já a pintura prata original foi trocada por outra, na cor vermelha, e depois substituída pela atual, na tonalidade preta fosca. A exemplo do restante do veículo, a aplicação da tinta ficou a cargo de Kaio.

A essa altura, o leitor pode e deve questionar: como se trata de um conversível, como foi feita a capota?

Tavares diz que testou várias versões da cobertura do teto, feitas com lona adquirida na internet. Uma dessas tentativas trazia lona na cor vermelha - mas "não deu certo".

Hoje, a capota traz lona preta e estrutura feita com canos de PVC, daqueles usados em instalações hidráulicas de imóveis. Ela é colocada e retirada manualmente.

Para compensar a falta de capota e não deixar o carro "bambo", o youtuber, que também trabalha com compra e venda de veículos que pega para reformar, aplicou reforços estruturais no chassi, soldando tubos metálicos no assoalho e também atrás dos bancos.

Caio diz ter gastado aproximadamente R$ 10 mil para construir seu Ka conversível, dos quais a maior parte saiu do próprio bolso.

Apesar de tanto tempo e dinheiro aplicados no projeto, o Ford Ka não pode rodar em vias públicas - ele circula apenas no condomínio onde Tavares mora, na área rural de Atibaia, e nos seus arredores.

"As modificações teriam de ser feitas por meio de oficina credenciada do Detran [Departamento Estadual de Trânsito], com alteração na documentação do veículo. Porém, isso custaria uma fortuna. Quando iniciei o projeto, não sabia que seria tão difícil de legalizar o veículo".

Kaio diz que não pretende se desfazer do seu Ford Ka exclusivo. A ideia, relata, é levar o carro para eventos e exposições. Além disso, o jovem já pensa no seu próximo projeto: fazer a versão "caseira" de um Tesla.

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