Como chineses estão ensinando Brasil a fazer seu 1º carro elétrico popular

Ainda distantes da realidade da maioria dos brasileiros, os carros elétricos e híbridos começam a apresentar uma queda considerável nos preços no País com a chegada de marcas chinesas como BYD e GWM, que acabam de lançar por aqui modelos bastante competitivos do ponto de vista financeiro.

Ainda importados, automóveis como o compacto 100% elétrico BYD Dolphin, na faixa de R$ 150 mil, e o SUV híbrido GWM Haval H6, por R$ 214 mil iniciais, já causam reduções nos preços anteriormente praticados para carros equivalentes de marcas tradicionais e também das outras montadoras chinesas aqui instaladas - JAC Motors e Caoa Chery.

Mais do que isso, BYD, GWM e Caoa Chery já anunciaram que fabricarão elétricos e híbridos no Brasil, sinalizando que, em um futuro não muito distante, teremos uma nova geração de carros "populares", nacionais, mais acessíveis e eletrificados - e não apenas de marcas chinesas.

Fiat e Jeep farão híbridos e elétricos no Brasil

Chassi exibe sistema de propulsão que irá equipar 1º carro nacional totalmente elétrico da Stellantis
Chassi exibe sistema de propulsão que irá equipar 1º carro nacional totalmente elétrico da Stellantis Imagem: Alessandro Reis/UOL

]Na semana passada, a Stellantis revelou três novos sistemas de propulsão híbrida, combinando propulsão elétrica com motor a combustão flex ou 100% etanol, e essas tecnologias começam a equipar veículos da empresa já em 2024, começando por marcas de maior volume. Até 2030, a empresa lançará seu primeiro veículo totalmente elétrico com fabricação nacional.

Concorrentes como a Volkswagen também preparam o lançamento de automóveis híbridos flex em nosso País.

Segundo Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, os planos são de nacionalizar todos os componentes dos seus carros eletrificados, em nome da redução de custos e do desenvolvimento local dessas novas tecnologias. Isso significa a criação de uma cadeira local de fornecedores de baterias, motores elétricos e inversores.

De acordo com Ricardo Bacellar, da consultoria Bacellar Advisory Boards, as montadoras chinesas não são líderes na produção de veículos híbridos e elétricos por acaso e sua presença no Brasil vai acelerar o desenvolvimento desses automóveis a preços cada vez mais baixos.

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"Enquanto algumas marcas passaram a priorizar a margem de lucro por veículo comercializado, os chineses continuam focados no volume da respectiva produção de veículos e assim será com suas fábricas no Brasil. Além disso, eles já trabalham no desenvolvimento de uma cadeia local de fornecedores para a produção de carros eletrificados, que não atenderá apenas marcas da China", analisa o especialista.

Durante a apresentação das novas plataformas híbridas e elétricas da Stellantis em Betim (MG) no dia 31 de julho, Filosa saudou a chegada da nova fábrica da BYD a Camaçari (BA), possivelmente no mesmo endereço previamente ocupado pela Ford - cuja fábrica na cidade baiana fechou as portas em 2021.

Filosa destacou que, com a saída da Ford, antigos fornecedores de autopeças da montadora norte-americana também deixaram a Bahia e outros ficaram em dificuldades financeiras. Muitos deles atendiam a própria Stellantis, que fabrica em Goiana (PE) os modelos Ram Rampage, Fiat Toro e Compass e Commander, da Jeep.

A expectativa do executivo é de que a BYD traga de volta tais fornecedores e atraia outros, que também poderão atender a unidade da Stellantis em Pernambuco - inclusive para a futura fabricação de veículos elétricos e híbridos.

"Quando a Ford saiu da Bahia, todos os fornecedores começaram a sofrer e pioraram os custos de produção [da Stellantis]", disse Filosa.

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Ele prosseguiu, acrescentando que a Stellantis está interessada na chegada da BYD a Camaçari e que "a revitalização da cadeia de fornecedores trará mais competitividade".

Quanto mais concorrência, melhor

Ricardo Bacellar destaca que a vinda das marcas chinesas vai ajudar a formar uma cadeia local de fabricantes de autopeças de carros eletrificados.

"Os chineses mostram a importância de exercitar a fórmula adotada desde sempre pela indústria como um todo: mais volume para gastar menos na produção de cada veículo. A vinda das montadoras chinesas ajuda sobremaneira nessa estratégia. As marcas tradicionais mais estabelecidas terão de correr atrás. O próprio Filosa disse que o primeiro híbrido da Stellantis no Brasil será de uma marca de volume".

Bacellar destaca que as montadoras chinesas estão mais avançadas do que muitas fabricantes ocidentais em relação a veículos eletrificados, pois apostaram primeiro e investiram muito dinheiro para se tornarem referência nesse tipo de tecnologia.

"A China concentra a produção e o desenvolvimento de baterias, que hoje ainda representam cerca de 50% do custo de um carro elétrico, e também dos semicondutores, muito mais utilizados nesse tipo de veículo na comparação com carros tradicionais a combustão", acrescenta.

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Segundo o consultor automotivo, os fabricantes de autopeças que atenderão as fábricas de BYD, GWM e Caoa Chery (que já anunciou a fabricação de híbridos e elétricos em Jacareí-SP a partir de 2025) vão criar um ambiente para outras montadoras produzirem localmente carros do tipo.

"Quanto mais fornecedores houver para atender diferentes montadoras, melhor. Isso reduz custos e dá maior poder de barganha. Quem sai ganhando é o consumidor".

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