Como chineses estão ensinando Brasil a fazer seu 1º carro elétrico popular
Ainda distantes da realidade da maioria dos brasileiros, os carros elétricos e híbridos começam a apresentar uma queda considerável nos preços no País com a chegada de marcas chinesas como BYD e GWM, que acabam de lançar por aqui modelos bastante competitivos do ponto de vista financeiro.
Ainda importados, automóveis como o compacto 100% elétrico BYD Dolphin, na faixa de R$ 150 mil, e o SUV híbrido GWM Haval H6, por R$ 214 mil iniciais, já causam reduções nos preços anteriormente praticados para carros equivalentes de marcas tradicionais e também das outras montadoras chinesas aqui instaladas - JAC Motors e Caoa Chery.
Mais do que isso, BYD, GWM e Caoa Chery já anunciaram que fabricarão elétricos e híbridos no Brasil, sinalizando que, em um futuro não muito distante, teremos uma nova geração de carros "populares", nacionais, mais acessíveis e eletrificados - e não apenas de marcas chinesas.
Fiat e Jeep farão híbridos e elétricos no Brasil
]Na semana passada, a Stellantis revelou três novos sistemas de propulsão híbrida, combinando propulsão elétrica com motor a combustão flex ou 100% etanol, e essas tecnologias começam a equipar veículos da empresa já em 2024, começando por marcas de maior volume. Até 2030, a empresa lançará seu primeiro veículo totalmente elétrico com fabricação nacional.
Concorrentes como a Volkswagen também preparam o lançamento de automóveis híbridos flex em nosso País.
Segundo Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, os planos são de nacionalizar todos os componentes dos seus carros eletrificados, em nome da redução de custos e do desenvolvimento local dessas novas tecnologias. Isso significa a criação de uma cadeira local de fornecedores de baterias, motores elétricos e inversores.
De acordo com Ricardo Bacellar, da consultoria Bacellar Advisory Boards, as montadoras chinesas não são líderes na produção de veículos híbridos e elétricos por acaso e sua presença no Brasil vai acelerar o desenvolvimento desses automóveis a preços cada vez mais baixos.
"Enquanto algumas marcas passaram a priorizar a margem de lucro por veículo comercializado, os chineses continuam focados no volume da respectiva produção de veículos e assim será com suas fábricas no Brasil. Além disso, eles já trabalham no desenvolvimento de uma cadeia local de fornecedores para a produção de carros eletrificados, que não atenderá apenas marcas da China", analisa o especialista.
Durante a apresentação das novas plataformas híbridas e elétricas da Stellantis em Betim (MG) no dia 31 de julho, Filosa saudou a chegada da nova fábrica da BYD a Camaçari (BA), possivelmente no mesmo endereço previamente ocupado pela Ford - cuja fábrica na cidade baiana fechou as portas em 2021.
Filosa destacou que, com a saída da Ford, antigos fornecedores de autopeças da montadora norte-americana também deixaram a Bahia e outros ficaram em dificuldades financeiras. Muitos deles atendiam a própria Stellantis, que fabrica em Goiana (PE) os modelos Ram Rampage, Fiat Toro e Compass e Commander, da Jeep.
A expectativa do executivo é de que a BYD traga de volta tais fornecedores e atraia outros, que também poderão atender a unidade da Stellantis em Pernambuco - inclusive para a futura fabricação de veículos elétricos e híbridos.
"Quando a Ford saiu da Bahia, todos os fornecedores começaram a sofrer e pioraram os custos de produção [da Stellantis]", disse Filosa.
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Quero receberEle prosseguiu, acrescentando que a Stellantis está interessada na chegada da BYD a Camaçari e que "a revitalização da cadeia de fornecedores trará mais competitividade".
Quanto mais concorrência, melhor
Ricardo Bacellar destaca que a vinda das marcas chinesas vai ajudar a formar uma cadeia local de fabricantes de autopeças de carros eletrificados.
"Os chineses mostram a importância de exercitar a fórmula adotada desde sempre pela indústria como um todo: mais volume para gastar menos na produção de cada veículo. A vinda das montadoras chinesas ajuda sobremaneira nessa estratégia. As marcas tradicionais mais estabelecidas terão de correr atrás. O próprio Filosa disse que o primeiro híbrido da Stellantis no Brasil será de uma marca de volume".
Bacellar destaca que as montadoras chinesas estão mais avançadas do que muitas fabricantes ocidentais em relação a veículos eletrificados, pois apostaram primeiro e investiram muito dinheiro para se tornarem referência nesse tipo de tecnologia.
"A China concentra a produção e o desenvolvimento de baterias, que hoje ainda representam cerca de 50% do custo de um carro elétrico, e também dos semicondutores, muito mais utilizados nesse tipo de veículo na comparação com carros tradicionais a combustão", acrescenta.
Segundo o consultor automotivo, os fabricantes de autopeças que atenderão as fábricas de BYD, GWM e Caoa Chery (que já anunciou a fabricação de híbridos e elétricos em Jacareí-SP a partir de 2025) vão criar um ambiente para outras montadoras produzirem localmente carros do tipo.
"Quanto mais fornecedores houver para atender diferentes montadoras, melhor. Isso reduz custos e dá maior poder de barganha. Quem sai ganhando é o consumidor".
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