Por que carros têm dado cada vez mais perda total após acidentes banais

Por mais banal que uma colisão entre um ou mais carros possa ser, a 'perda total' é sempre o maior risco para o bolso dos motoristas. O termo é quase autoexplicativo e indica uma situação na qual o veículo perde qualquer possibilidade ou viabilidade de conserto. Mas por que há cada vez mais casos com esse tipo de diagnóstico, até mesmo em acidentes banais?

Alguns fatores determinarão se o carro virou 'PT' ou não. Seja o custo das peças (ante o valor do bem), a disponibilidade dos componentes de reposição, ou até mesmo se o reparo será o bastante para que a segurança original do automóvel possa ser restaurada.

Se, por exemplo, partes estruturais forem afetadas, o veículo será reprovado em qualquer vistoria técnica de seguro ou na hora de tirar um laudo cautelar. Isso ficará marcado para o resto da "vida" daquele chassis e, consequentemente, afetará o valor de revenda do carro. Por isso que, sempre na hora de comprar um novo carro, é importante ver esses detalhes.

Quando não há envolvimento com partes como longarinas, assoalho, colunas, ou outros cantos cruciais do monobloco, entra uma das avaliações mais objetivas que, por exemplo, as seguradoras podem realizar. Empresas como a Suhai, Creditas e outras decretam a perda total quando o custo do reparo atingiu ou ultrapassou a marca dos 75% do valor contratado na apólice.

Casos práticos

Um episódio que ficou famoso por meio das redes sociais foi a colisão entre dois Chevrolet. No caso, uma Spin se chocou contra a traseira de um Opala. O resultado do acidente evidencia o que décadas significaram ao projeto dos automóveis - mesmo quando tratamos apenas da mesma marca.

Enquanto a minivan teve danos severos - como se fosse até feita de papel - o clássico - comparável a uma muralha - só teve a lanterna quebrada. Ainda que o vídeo não tenha esclarecido se a Spin levou perda total, a julgar pelas imagens, se não pegou a parte estrutural (o que a condenaria de vez), foi por um triz.

O assunto também foi levantado recentemente por Felipe Hill, do canal Opinião Sincera no YouTube, cuja esposa colidiu seu Renegade com um Nissan Versa. Mesmo que o fato tenha ocorrido em baixa velocidade, o sedã japonês - que era de um motorista de aplicativo - e o SUV da marca norte-americana tiveram perda total.

Carros modernos são mais frágeis e piores do que os antigos?

Quando paramos para analisar todas essas informações, nos deparamos com o questionamento central: por que qualquer batida, por mais besta que seja, pode ser o suficiente para que o carro seja considerado PT? Além disso, a julgar pelo que ocorreu no exemplo do Opala mencionado, é possível afirmar que os carros de antigamente tinham mais qualidade?

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Carros modernos têm o que é chamado de célula de sobrevivência. As estruturas em torno da cabine são feitas de aços mais resistentes, enquanto frente e traseira são projetadas para deformar. Com a tecnologia que tinha na época do Opala, o carro era inteiramente um rígido compartimento de segurança. Em compensação, cada batida que você dava, era jogado contra o pára-brisa. Pedro Luiz Scopino, responsável técnico da Scopino Auto Club.

Isso quer dizer que a relação entre o quanto o carro deforma em uma colisão e as chances dos condutores se machucarem é relativamente complexa. Se a carroceria torcer demais, ele pode não isolar os ocupantes da forma mais eficaz e, com isso, a proteção será insuficiente. Se o veículo não degradar nada, quer dizer que nem uma parte da energia do impacto terá sequer sido absorvida pela estrutura - logo, os passageiros também correrão perigo.

A construção dos carros modernos com diferentes materiais é o que rege os projetistas encarregados da segurança veicular. Uma fórmula de sucesso é a utilização de aços mais maleáveis onde as batidas serão absorvidas e mais resistentes nos locais em que deve proteger as pessoas que ocupam o veículo.

Isso pode até comprometer o isolamento de partes estruturais do monobloco (o que aumenta a vulnerabilidade do veículo para sofrer perda total após acidentes). Em contrapartida, os ocupantes terão maior garantia de segurança a bordo.

Para que o estudo da segurança automotiva aponte na direção correta, as fabricantes, atualmente, seguem regras mais rígidas de segurança. Além do acompanhamento de institutos que realizam testes de impactos (como é o caso do NCAP), as leis brasileiras obrigam a oferta de itens como cintos de segurança de três pontos em todos os lugares, freios ABS e airbags duplos - sendo que grande parte dos modelos à venda no país hoje já oferecem bolsas laterais de série e de cortina como opcionais.

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