Ford deve receber R$ 100 mi por entregar fábrica ao governo da Bahia
A Ford anunciou na semana passada a devolução do terreno em Camaçari, onde ficava localizada sua fábrica, para o governo da Bahia - abrindo caminho para que a BYD assuma o local. Em evento hoje, em São Paulo, o governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT) explicou como ocorreu o acerto e por que a empresa norte-americana não chegou a um acordo diretamente com a rival chinesa.
De acordo com Rodrigues, a negociação contou com a intermediação do governo federal. O governador afirmou que uma avaliação sobre o terreno e os demais investimentos que a Ford fez à planta de Camaçari ainda será feita, mas é estimado algo em torno de R$ 100 milhões, ao todo. A empresa norte-americana será indenizada no valor referente ao que foi investido no local.
Na presença de Alexandre Baldy, conselheiro da BYD no Brasil, Rodrigues afirmou que o governo estadual só não interferiu nos primeiros momentos de negociação entre Ford e a marca chinesa pelo fato de que, segundo ele, "não cabia ao estado se intrometer em uma negociação entre privados".
Da parte da BYD, por sua vez, o governador da Bahia disse que ainda é preciso o informe de quantidade de veículos a serem produzidos, bem como datas e prazos. Para que o acordo seja finalizado e a empresa chinesa assuma a fábrica, o governador afirmou que o processo ainda contará com a participação o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o do BNDES Aloizio Mercadante. "Após isso, aí sim veremos o andamento", diz.
O próprio porto de Camaçari (um dos ativos de grande atratividade para quem for assumir as operações fabris) também será utilizado para outras finalidades. Entretanto, entre a localização da fábrica e da zona portuária, as condições com a qual se encontra a infraestrutura rodoviária ainda é ponto a ser considerado pelo poder público.
Nova história a beira de se iniciar no Brasil
Com esse anúncio da venda do complexo industrial ao governo do estado, a BYD poderá acelerar a implementação das três fábricas previstas para o estado nordestino
Uma dedicada à produção de chassis para ônibus e caminhões elétricos. A outra vai produzir automóveis híbridos e elétricos, com capacidade estimada em 150 mil unidades ao ano na primeira fase, podendo chegar a 300 mil unidades. A terceira, voltada ao processamento de lítio e ferro fosfato, atenderá ao mercado externo, utilizando-se da estrutura portuária existente no local
O investimento total do grupo chinês na Bahia será de R$ 3 bilhões. Nesse valor já devem estar inseridos os custos com a compra do complexo, que deve gerar mais de 5 mil empregos diretos e indiretos e entrar em funcionamento no segundo semestre de 2024
A empresa de tecnologia chinesa, maior fabricante de automóveis elétricos do mundo, produzirá cinco veículos no complexo baiano, entre eles o Dolphin, o híbrido Song, uma picape e o elétrico subcompacto Seagull, de 3,78 m de comprimento, 2,50 m de distância entre-eixos, 1,71 m de largura e 1,54 m de altura. O Seagull tem o porte do Ford Ka, feito no país até 2021. O quinto produto seria um modelo inédito
A meta da BYD é participar como grande player do mercado no segmento dos veículos urbanos e entregar carros como o Seagull, 100% elétrico, ao preço entre R$ 100 mil e R$ 110 mil. Ele começará importado e será comercializado a partir do primeiro trimestre de 2024
O polo de Camaçari estará pronto para receber um outro investimento, nova fase, na categoria dos "pesados" para produção dos chassis de ônibus e caminhões elétricos, assim como a divisão de baterias
A BYD está no Brasil desde 2015. A empresa tem fábricas em Campinas, onde faz chassis de ônibus elétricos, e módulos fotovoltaicos para painéis solares e, em Manaus, montou em 2020 uma fábrica para produzir baterias de fosfato de ferro-lítio
Incentivos
A contribuição do Estado da Bahia para viabilização do empreendimento inclui a concessão de incentivos fiscais até 31 de dezembro de 2032, de acordo com a legislação tributária estadual
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O que sobrou da fábrica em Camaçari?
Pátios vazios, grama cortada e nenhuma placa de identificação, resumidamente, esse é o cenário que a reportagem encontrou durante uma visita ao Complexo Industrial Ford Nordeste, em Camaçari, na Bahia. A coluna esteve no local em janeiro deste ano e, para a nossa surpresa, o espaço, que no passado empregou mais de 4 mil pessoas diretamente, estava em ótimo estado de conservação após quase dois anos sem produzir carros.
No estacionamento, que um dia foi abarrotado de carros de funcionários, havia apenas nove veículos, praticamente o mesmo número de pessoas que conseguimos ver durante o período que estivemos nas redondezas, entre seguranças e funcionários de manutenção. Um deles, inclusive, mantinha a grama baixa com um pequeno trator.
O sinal do tempo e do esquecimento estão em pouquíssimas placas que restaram sinalizando que aquela é uma propriedade particular da Ford Company. As maiores identificações foram retiradas e a moldura aguarda a chegada de novos donos para que a vida volte a pulsar na região.
A fábrica da Ford foi sendo desmontada, aos poucos, entre janeiro e dezembro de 2021. De acordo com um engenheiro que preferiu não ser identificado, 90% das máquinas foram direcionadas para a fábrica de General Pacheco, na Argentina, ou para serem vendidas em leilões para reaproveitamento do aço ou até mesmo como sucata.
"A empresa que assumir a planta terá que construir uma nova linha de produção. O que existe hoje em Camaçari é a infraestrutura base, ou seja, um lugar adequado para instalar máquinas e robôs, galpões. Mas a linha de produção não existe mais. Até os parceiros, em sua maioria, desmontaram o maquinário", conta o técnico, que atualmente trabalha no Centro de Desenvolvimento de Produtos da Ford, que fica no Senai-Cimatec, onde seria instalada a fábrica da Jac Motors no passado.
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