De Xororó a Faustão: como Mercedes raro foi para garagem de quatro famosos
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
19/08/2023 04h00
Personagens principais da série "As Aventuras de José e Durval", que estreou ontem (18) na Globoplay, os cantores Chitãozinho e Xororó já tiveram dois dos Mercedes-Benz mais raros do Brasil.
Em 1991, quando o governo Collor tinha acabado de reabrir o mercado brasileiro para a importação de veículos, um lote com quatro Mercedes 300 SE 1991/1992 chegou ao País, destinado à garagem de quatro personalidades famosas: o apresentador Fausto Silva, o cantor e compositor Roberto Carlos e a dupla sertaneja.
Idênticos, os carros estavam entre os mais luxuosos que o dinheiro podia comprar na época. Especula-se que cada um custou cerca de US$ 90 mil, sem incluir os elevados custos da importação independente, que praticamente dobravam o preço final.
Quem conta a história é Reginaldo Ricardo, o Reginaldo de Campinas, negociante de carros antigos pouco rodados que hoje é o proprietário do Mercedes com placas CXO-0001 que um dia foi de Xororó.
"Dos quatro famosos, apenas Roberto Carlos mantém o carro até hoje. Faustão já vendeu, enquanto Chitãozinho trocou o dele por gado. O de Xororó, preto, eu comprei do próprio cantor em 1997", diz Reginaldo, segundo o qual os quatro 300 SE 1992 com especificação para o mercado norte-americano são os únicos do Brasil.
Segundo ele, o exemplar que foi de Chitãozinho tem placas CXI-0001 e o de Roberto Carlos traz chapas DRC-2222. Ele não sabe a placa da unidade que esteve com Fausto Silva.
Como o apelido indica, Reginaldo é morador de Campinas, onde a dupla sertaneja também reside. Ele conheceu os irmãos artistas ainda criança, em 1983, quando ganhou deles uma revista autografada em uma emissora de rádio local.
Já adolescente, em dezembro de 1991, ele voltou a ser apresentado à dupla, da qual ficou mais próximo, a ponto de a relação se tornar amizade. Foi quando conheceu - e dirigiu pela primeira vez - o carrão de Xororó.
"Fui na casa do Xororó e nesse dia fui com a dupla para a Festa do Peão de Paulínia [SP]. Levei os dois ao aeroporto no dia seguinte e desde então ficamos mais próximos. Fui com a dupla para os Estados Unidos em 1995 e 1997", relembra.
US$ 70 mil
Foi naquele ano que ele comprou o Mercedes 300 SE do cantor, pelo qual lembra ter pago US$ 70 mil. Mesmo com o dólar então cotado a pouco mais de R$ 1, definitivamente não era um carro acessível.
Três anos depois, Reginaldo de Campinas acabou vendendo o sedã. Passada mais de uma década, bateu o arrependimento e ele decidiu reencontrar o automóvel que marcou sua juventude.
"Vi o carro anunciado em Arujá (SP), mas o proprietário pedia um valor muito alto. Em 2011, ele voltou a publicar anúncio de venda e acabamos fechando negócio no fim daquele ano. Estou até hoje com o Mercedes e não pretendo vender", relata. Hoje o sedã de luxo, agora clássico, está com pouco mais de 70 mil km rodados.
Reginaldo não roda no dia a dia com seu xodó.
Como é o Mercedes 300 SE 1992
O comerciante de veículos destaca que, apesar de ter sido fabricado há mais de 30 anos, o 300 SE até hoje impressiona pela tecnologia embarcada e pelo conforto - afinal de contas, o modelo é equivalente ao Classe S atual, o sedã mais refinado e caro da marca da estrela de três pontas.
"Esse carro é da geração W140 e traz itens como fechamento automático das portas - basta encostá-las que elas fazem o serviço sozinhas. Também traz vidros duplos para maior isolamento acústico, ar-condicionado de duas zonas e airbag duplo".
Outro detalhe interessante é o assistente de estacionamento analógico, que utiliza antenas retráteis, que surgem ao engatar a ré para dar uma noção das dimensões do veículo.
O 300 SE não é pequeno: mede 5,11 m de comprimento, 1,88 m de largura e 3,04 m de distância entre-eixos. Para os padrões atuais, o porta-malas nem é tão grande assim: traz capacidade para 442 litros de bagagens.
Embaixo do longo capô está o motor 2.8 aspirado de seis cilindros em linha, capaz de render 193 cv de potência e 27,5 kgfm de torque. Tudo isso é gerenciado pela transmissão automática de cinco marchas, enquanto a tração é traseira, uma tradição entre os sedãs da Mercedes.
A conexão do carro com a amizade que Reginaldo de Campinas tem com Chitãozinho e Xororó chegou ao ponto de a dupla autografar o documento de porte obrigatório em 2012, quando o mesmo ainda era válido.
Gonçalves guarda com carinho até hoje o papel e sonha um dia reunir os quatro carros originais e seus antigos proprietários - incluindo o de Roberto Carlos, que ainda tem o seu 300 SE - para uma foto. Seria histórico.
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