'Musk chinês' traz fábrica de carro elétrico à Bahia com exército de robôs
Limpeza, pouco barulho e um exército de robôs. Entrar na fábrica de carros elétricos da BYD em Changzhou, na China, foi uma experiência curiosa.
Vestindo capacete, cobrimos as câmeras dos celulares com adesivo e, por questão de confidencialidade, prometemos não fotografar ou filmar nada. O passeio começou pelo local onde começa a produção dos carros, cheio dos materiais brutos a serem soldados na carroceria.
Mas a soldagem não tinha nada de barulhenta. O lugar era limpo, e o único ruído era da movimentação de um exército de robôs de precisão, que movimentava e unia partes do veículo.
Poucos humanos à vista —contei três soldadores para fazer operações que robôs ainda não conseguem realizar com perfeição.
A planta —que vai inspirar uma parecida em Camaçari, na Bahia— tem "mais moderna tecnologia e um alto grau de automação", diz a empresa comandada por Wang Chuanfu, chamado de "Elon Musk chinês".
Chuanfu deve vir ao Brasil no início de outubro para lançar a pedra fundamental da primeira fábrica da companhia nas Américas.
Robôs são uma constante pelo local —a empresa diz usar pelos menos 450 robôs industriais no processo de fabricação dos carros, a maioria produzidos pela japonesa Fanuc e pela alemã Kuka, além de modelos da ABB..
Cabe aos humanos, e são 12 mil deles em todas as fábricas da BYD, caprichar na instalação dos detalhes do interior, montando painéis e estofamento, e cuidar do processo de teste de qualidade —etapa em que pessoas checam, por exemplo, se as luzes e o carregamento dos veículos estão funcionando.
Ainda que empilhadeiras operadas por humanos circulassem a todo momento pelo local, para trabalhos meticulosos —como montagem do painel— o transporte de materiais até as bancadas dos trabalhadores eram todo feitos por robôs.
Parei na frente de um deles, que seguia trilhas no chão, e pude atestar que eles interrompem o trajeto ao notar que há algum obstáculo. Sem derrubar nada.
Nesta toada, a BYD diz que o processo de produção completa de um veículo dura 4 horas. Em média, a cada 1 minuto sai um carro da linha de montagem.
O que se sabe sobre os investimentos em fábricas da BYD na Bahia
Ao todo, a chinesa tem planos de investir R$ 3 bilhões, para a implementação de três fábricas na Bahia:
- De carros elétricos e híbridos (cuja pedra fundamental será lançada no início de outubro);
- De chassis de caminhões elétricos;
- De processamento de lítio e ferro fosfato (não fabricará baterias, apenas trata matéria-prima para exportar à China).
A fábrica de veículos deve ter uma capacidade anual de produção de até 150 mil veículos, podendo aumentar conforme a demanda. A 'irmã' chinesa consegue produzir 250 mil carros ao ano.
Os modelos escolhidos nesta primeira fase serão o elétrico Dolphin e o SUV híbrido Song — a expectativa é que as primeiras unidades estejam prontas entre o fim de 2024 e o início de 2025.
Quem é Wang Chuanfu
Considerado o "Elon Musk chinês", Wang transformou a BYD de uma empresa que fazia bateria para eletrônicos para uma "green tech". Eles se definem como uma empresa de soluções de energia verde.
Então, além de baterias para os mais diversos fins, fazem painéis solares e veículos elétricos (de carros de passeio a ônibus para transporte público).
Por essa razão, a companhia afirma ter como objetivo reduzir a temperatura do mundo em 1ºC, ao reduzir a emissão de gases poluentes por meio de seus produtos.
No setor de veículos elétricos, a companhia já superou a Tesla de Musk em volume de vendas (mais de 5 milhões de carros já produzidos, enquanto a Tesla soma 4 milhões) e lidera na China, um dos maiores mercados do mundo. A empresa norte-americana, porém, conta com sistemas sofisticados condução autônoma —os carros da chinesa conseguem automação parcial.
Mas, a própria empresa de Musk usa baterias feitas pela BYD em carros da Tesla.
*O jornalista viajou a convite da BYD