Manutenção da moto: o que dá para fazer em casa e o que precisa da oficina

Diferentemente dos carros, as motocicletas têm motor, suspensões, rodas e praticamente toda a parte mecânica aparentes. Justamente por isso, muita gente pensa que é mais fácil fazer a manutenção da moto do que de um automóvel. Em partes, isso é verdade: há muita coisa na moto que o próprio motociclista pode arrumar em casa mesmo.

Além disso, muitos motociclistas são apaixonados pelos veículos de duas rodas. Basta perguntar qual o motor da moto para que o proprietário liste uma ficha técnica completa com capacidade cúbica, número de cilindros e outros dados que os motoristas de automóveis costumam não dar muita bola. Com algum conhecimento de mecânica, muitos até gostam de cuidar eles mesmos da manutenção básica da sua moto. Mas, afinal, o que dá para arrumar na sua moto em casa e o que precisa da oficina?

"Em geral, o manual do proprietário da maioria das motos já traz uma lista dos cuidados que podem, e devem, ser feitos em casa regularmente", ensina o experiente mecânico de motos, Alexandre Sauro, proprietário de uma oficina de motos na Zona Sul da capital paulista.

Mais do que um prazer, realizar a manutenção da moto evita problemas futuros, além de garantir mais segurança na pilotagem.

Conversamos com mecânicos e especialistas para ajudar a elaborar uma lista de coisas que devem ser feitas em casa para cuidar da sua moto e outras que exigem uma visita à oficina, pois como diz o famoso meme "quem não tem as manhas não entra não, sem a orientação de um profissional".

Pneus

Uma coisa muito importante que todo motociclista pode fazer em casa é cuidar dos pneus da sua moto. Afinal, são fundamentais para rodar com segurança, pois são os pontos de contato com o solo, e merecem atenção especial.

O fator primordial é a calibragem correta, geralmente indicada em etiquetas coladas na própria moto. Rodar com o pneu murcho aumenta o desgaste, diminui a eficiência - principalmente em curvas - e pode até causar quedas. "Pneus na pressão correta oferecem maior aderência ao asfalto e ajudam a economizar combustível", ensina Gutenberg Silva, instrutor de pilotagem da Honda.

Uma maneira simples de não se esquecer disso é calibrar os pneus toda vez que parar no posto para abastecer. "Por exemplo, quem usa a moto todo dia, geralmente, enche o tanque toda semana. A dica que dou é: 'parou no posto, calibra o pneu", ensina Alexandre Sauro.

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Quando for calibrar, aproveite para fazer uma inspeção visual nos pneus. Caso haja bolhas, rachaduras ou desgaste excessivo, o ideal é trocar o componente - o que deve ser feito na oficina.

Nível de óleo

O lubrificante é muito importante para o bom funcionamento e também para a durabilidade do motor. "Na garagem mesmo, o motociclista pode monitorar o nível de óleo. Muitas motos têm um visor, fácil de encontrar, ou uma vareta para medir o óleo. Confira se está entre os níveis máximo e mínimo sempre antes de rodar", aconselha o mecânico paulistano. Caso esteja abaixo do nível, complete com o mesmo tipo de lubrificante, se for necessário.

A troca deve ser feita nos intervalos recomendados pelo fabricante, que constam no manual do proprietário. "Muitas pessoas trocam o óleo com 1.500 km, mas não há necessidade. É um desperdício de dinheiro e prejudica o meio ambiente. Se utilizar o óleo recomendado e verificar o nível periodicamente, pode seguir as orientações do manual", alerta Alfredo Guedes, engenheiro da Honda.

Entretanto, se for preciso trocar o óleo, procure uma oficina, que poderá também substituir o filtro de óleo, além de fazer o descarte correto do lubrificante antigo.

Corrente lubrificada e ajustada

Outra manutenção que pode ser feita em casa é o cuidado com o kit de transmissão, também chamado de relação final. Composto por pinhão, coroa e corrente, a transmissão final transfere a força do câmbio para a roda traseira. Uma corrente com uma folga maior do que a indicada pode se soltar, enroscar na roda e causar uma queda.

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Por isso, o ideal é verificar a folga da corrente, ao menos, uma vez por semana ou a cada 1.000 quilômetros. A corrente não pode estar muito esticada nem folgada - o ajuste correto está indicado no manual do proprietário da sua moto.

"Alguns modelos trazem essa indicação em etiqueta na balança traseira ou no protetor de corrente", ensina Alexandre. O mecânico, porém, alerta que é preciso ferramentas adequadas e algum conhecimento de mecânica para realizar o serviço. Na dúvida, procure um mecânico de sua confiança para regular o conjunto.

Não se esqueça, contudo, de lavar o kit de transmissão com água e sabão neutro ou produtos específicos para esse fim, mensalmente. Também é importante manter a corrente lubrificada para evitar o desgaste precoce.

Líquido de arrefecimento

Nas motos que têm refrigeração líquida, com radiador, o motociclista deve ficar atento ao líquido de arrefecimento. "As motos também têm um reservatório de expansão que mostra o nível do líquido. Basta verificar se está dentro das medidas recomendadas", explica o mecânico.

Caso esteja abaixo do nível, não complete com água de torneira. "O ideal é usar água desmineralizada que pode ser encontrada em lojas de motopeças", Alexandre dá a dica. Já para trocar todo o líquido, o ideal é ir a uma oficina, pois se trata de um serviço trabalhoso. "Varia de modelo para modelo e também de acordo com o uso, mas recomendo aos meus clientes trocarem a cada 24 meses", diz o mecânico.

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Sistema de iluminação em ordem

Farol, lanterna traseira, luz de freio e piscas são fundamentais para você rodar com segurança e dentro da lei. A legislação, inclusive, obriga as motos a rodar com o farol aceso, mesmo durante o dia. Entretanto, é comum ver motociclistas com a lanterna ou a luz de freio queimadas. Está aí outro serviço que pode, e deve, ser feito pelo proprietário da moto.

Antes de sair de casa, ao dar partida, enquanto deixa o motor esquentar, aproveite para verificar o funcionamento de farol, piscas, lanterna e luz de freio. "Além de ser perigoso rodar sem uma lâmpada acesa, é infração de trânsito. A multa será mais cara do que trocar a lâmpada", avisa Gutenberg Santos Silva, instrutor de pilotagem do Centro Educacional de Trânsito Honda.

Mas se o farol queimar, esse reparo pode ser complicado, ainda mais nas motos carenadas. Nesse caso, o recomendável é levar sua moto na oficina. "Se usar LEDs então, não tem o que trocar. Se der defeito, o que é raro, vai ser necessário trocar todo o conjunto", alerta Alexandre.

Ajustes e regulagens

Outros serviços que podem ser feitos na sua garagem são os ajustes dos manetes de embreagem, espelhos e até mesmo do pedal de freio. A maioria dos manuais, inclusive, ensinam como fazer esses ajustes de forma bastante simples. Geralmente, o kit de ferramentas que acompanha sua moto traz as ferramentas necessárias para se fazer esse ajuste.

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"É muito importante ficar atento à folga do manete de embreagem. Tem que ter ali uns 2 mm de folga entre você apertar o manete e a embreagem começar a funcionar", explica Alexandre. Cuidado, contudo, para não deixar a embreagem muito justa, pois poderá causar desgaste prematuro do componente. "Se ficar sem folga, é como se você pilotasse com a embreagem acionada", alerta.

Muitas motos de baixa cilindrada ainda têm freios a tambor na roda traseira. A regulagem do tambor de freio é bastante simples. Aperta-se o varão que aciona as sapatas internas - porém apenas até o final de seu curso. Se chegar no fim e o freio ainda estiver fazendo barulho ou com pouca eficiência, será preciso trocar as lonas (ou sapatas). Tarefa para um profissional da área.

No caso dos freios a disco, presentes na dianteira da maioria das motos, fique atento a ruídos metálicos ou perda da eficiência de frenagem. Pode ser indício de que as pastilhas "acabaram". Também verifique o nível do fluido de freio, que deve ser trocado a cada 10.000 km, ou anualmente, de preferência em uma oficina.

"O melhor é trocar todo o fluído, e não apenas uma parte (a sangria), quando se substitui a pastilha. O custo é baixo, e o resultado, garantido", explica o mecânico Alex Bongiovanni, de São Paulo (SP).

Barulho no motor

Com 35 anos de experiência com motocicletas, Alexandre Sauro afirma que é comum os motociclistas chegarem à sua oficina reclamando de barulho no motor. Geralmente, nesses casos, o ideal mesmo é levar para o mecânico.

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"Tem gente que esquece de verificar o nível ou de trocar o óleo. Aí, o lubrificante evapora, se desgasta e o motor começa a bater. Essa batida já é um sinal de que vai ser preciso 'fazer' o motor", conta ele. A falta de óleo causa superaquecimento e dilata peças como pistão, anéis e cilindros que terão de ser trocadas. Aí não tem jeito: só uma retífica em uma oficina especializada vai salvar sua moto.

Moto 'fraca ou falhando'

Também é comum os clientes reclamarem que o motor está falhando, ou seja, o motociclista acelera e a moto não anda. "Nesses casos é mais complicado. Em geral, há algum defeito na injeção eletrônica. O jeito é passar o scanner para identificar o problema e trocar o sensor queimado", diz Alexandre. O equipamento, que se conecta à parte elétrica da moto, custa caro e só pode ser encontrado em oficinas especializadas.

Outra queixa frequente é que a moto está falhando e com desempenho abaixo do normal. "Quando chegam aqui reclamando isso já pergunto: 'onde você abasteceu da última vez?', pois geralmente o problema é combustível ruim", brinca Alexandre.

Segundo Alexandre, combustível de má qualidade, em especial com resíduos ou solventes, costuma ser o vilão nesses casos, pois ataca injetores, borrachas de vedação e a precisão dos sensores da injeção. O jeito é drenar o combustível adulterado e abastecer com outro de qualidade. Em algumas motos, até é possível fazer isso em casa, mas seria preciso ter o conhecimento necessário para identificar o problema.

Por isso, na dúvida, leve sempre sua moto para uma oficina de confiança, aconselha o experiente mecânico, vendendo seu peixe.

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