Poupança contra inflação: por que caminhão 0 km ficou 30 anos guardado

Nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil sofria com os efeitos da hiperinflação. A desvalorização do dinheiro era tanta e tão rápida que as pessoas recorriam a estratégias hoje consideradas estranhas para manter ao menos parte do poder aquisitivo - e isso incluía comprar carros zero-quilômetro e mantê-los guardados por muito tempo, praticamente sem uso, para posterior revenda.

Muitos anos já se passaram desde então, mas volta e meia esses veículos já antigos, mas com hodômetro quase zerado, aparecem à venda. Foi o que aconteceu com um caminhão da Mercedes-Benz adquirido novo em 1990 e que, desde então, permanecia guardado e cheio de poeira em um depósito na cidade de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo.

Com apenas 40 km rodados, o Mercedes 1618 com caixa reduzida na cor azul foi parar nas mãos do comerciante de carros antigos Reginaldo Ricardo, o Reginaldo de Campinas - especializado em comprar e revender automóveis e utilitários originais e com baixa quilometragem.

Hodômetro do Mercedes-Benz 1618 guardado desde 1990 marca apenas 40 km rodados
Hodômetro do Mercedes-Benz 1618 guardado desde 1990 marca apenas 40 km rodados Imagem: Arquivo pessoal

Reginaldo conta ao UOL Carros que descobriu a existência desse caminhão zerado por meio de um amigo, que também é próximo do proprietário original.

"O primeiro dono ofereceu o Mercedes a esse amigo, que não tinha interesse e me avisou em 2021 que o 1618 estava à venda. Fui ver o veículo, ainda coberto por uma lona e todo empoeirado. A quilometragem anunciada bateu e logo fechamos negócio", conta, sem revelar o valor que pagou pelo utilitário da marca alemã, que já revendeu.

Volante e painel não exibem marcas de uso no veículo, que tem mais de 30 anos de idade
Volante e painel não exibem marcas de uso no veículo, que tem mais de 30 anos de idade Imagem: Arquivo pessoal

Reginaldo diz ter ouvido do antigo dono que o Mercedes-Benz foi comprado juntamente com outro caminhão, idêntico, exceto pela pintura branca. Esse veículo até hoje pega no batente, enquanto o "irmão" azul foi preservado como uma espécie de poupança.

Já devidamente higienizado, o 1618 preserva os plásticos nos bancos de tecido xadrez, como se tivesse acabado de sair da concessionária. Volante e painel não têm marcas de uso e também dão a impressão de se tratar de um exemplar novinho - não fosse o fato de ter sido produzido há 33 anos.

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Cereja do bolo: cabine exibe bancos de tecido xadrez ainda cobertos pelo plástico da fábrica
Cereja do bolo: cabine exibe bancos de tecido xadrez ainda cobertos pelo plástico da fábrica Imagem: Arquivo pessoal

De acordo com Reginaldo, apesar de ter ficado tanto tempo parado no mesmo lugar, o caminhão azul foi bem cuidado e está em condições operacionais. Isso inclui a caixa de transmissão reduzida, acionada eletronicamente por meio de um botão na alavanca do câmbio manual de cinco marchas.

"Quando peguei o caminhão, era bater o arranque e sair rodando. O dono tinha trocado a bateria havia pouco tempo e ligava o motor regularmente".

Novo e antigo ao mesmo tempo: caminhão exibe boa forma após ser cuidadosamente higienizado
Novo e antigo ao mesmo tempo: caminhão exibe boa forma após ser cuidadosamente higienizado Imagem: Arquivo pessoal

Segundo Reginaldo, existe público para esse tipo de produto e ele é de colecionadores.

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"Não vale a pena pagar muito por um caminhão antigo zero-quilômetro para sair rodando com ele. Fosse assim, o veículo perderia o que tem de especial para virar apenas um exemplar de segunda mão pouco rodado".

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