Será que aguenta? Acompanhamos 24h da prova de resistência da Rampage
Fãs de automobilismo certamente conhecem e até já acompanharam alguma edição das 24 Horas de Le Mans. Se esse não é o seu caso, estou me referindo a uma das corridas mais desafiadoras do planeta, na qual equipes e pilotos competem durante um dia inteiro pela vitória no circuito de La Sarthe. Parece loucura? Com certeza. E também é o sonho de muitos esportistas há mais de 100 anos.
Foi essa a inspiração para a Ram ao realizar as 24h de Rampage. A diferença é que aqui não se tratava de uma corrida, e sim um desafio de resistência. Afinal de contas, um veículo de competição é concebido para suportar condições bem mais extremas do que um automóvel de passeio (ou melhor, uma picape) como a Rampage. De toda maneira, seria uma prova de fogo para o primeiro projeto desenvolvido pela marca no Brasil - e também o primeiro fora dos Estados Unidos.
Decidi, portanto, pedir à assessoria de imprensa da Stellantis (dona da marca Ram) para acompanhar, na íntegra, cada hora desse desafio que, se cumprido à risca, resultaria em um recorde mundial homologado pela CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo). A boa notícia é que eles toparam. A ruim é que eu precisaria ficar um dia inteiro acordado. Haja café e energético.
O começo da prova
O desafio iniciou pontualmente às 15h do dia 23 de novembro, uma sexta-feira. Coube a alguns jornalistas veteranos realizarem as primeiras voltas com a Rampage. A maioria dos convidados permaneceu por 20 minutos na pista, tempo suficiente para completar aproximadamente oito voltas. Como a ideia era poupar ao máximo o veículo para assegurar sua chegada ao fim, a orientação era pegar leve. Frenagens bruscas e velocidades altas demais eram fortemente desaconselhadas.
Eventualmente, alguns funcionários da Stellantis e pilotos também contribuíram para o recorde. Um dos mais presentes na pista foi Ricardo Dilser, gerente de imprensa do grupo que gerencia seis marcas no país (Fiat, Jeep, Ram, Citroën, Peugeot e Abarth). Ex-piloto com importantes participações no currículo, Dilser foi o idealizador do desafio e deu valiosas contribuições ao longo do evento.
Quatro Rampages originais de fábrica foram escaladas para a missão, todas com o motor 2.0 turbo a gasolina de 272 cv e quase 41 kgfm de torque máximo. Nenhuma modificação foi realizada para o evento, sendo que até a calibragem dos pneus seguiu o padrão recomendado para o cliente final.
A meta era que cada veículo completasse pelo menos mil milhas (aproximadamente 1.600 km) na pista que fica dentro do campo de provas e testes de desenvolvimento da Pirelli. O traçado do Circuito Panamericano possui 3.400 metros de extensão e sua reta principal tem 700 metros. A empresa é proprietária do complexo situado na pequena cidade de Elias Fausto, ao lado de Itu, no interior paulista.
Foram montadas quatro estações de trabalho que funcionaram mais de 30 horas seguidas. Além da área dedicada à equipe de cronometragem e auditagem da CBA (responsável por validar os números da prova), havia uma segunda estação para inspeção e manutenção das picapes, uma terceira área para troca dos pneus e a última unidade de trabalho cuidava do abastecimento das picapes, com devido monitoramento dos bombeiros.
Pausas eram permitidas apenas após o fim do período de cada participante na pista. Durante a parada, uma equipe de engenheiros e mecânicos verificavam o estado de cada picape. Quando necessário, os carros eram reabastecidos e pastilhas de freio e pneus poderiam ser substituídos.
Frio e falta de iluminação
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Quero receberAs atividades entraram noite adentro, quando a ausência de iluminação pelo circuito (foi o primeiro evento noturno realizado no local) resultou em um novo desafio. Como a pista raramente funciona após o pôr do sol, apenas a área externa possui luzes adequadas para operações noturnas. Nem a pequena área destinada aos boxes tinha iluminação adequada para as operações da equipe de manutenção.
Com isso, os pilotos enfrentaram um desafio extra: enxergar as marcações dentro e fora do asfalto. Algumas horas depois, as picapes continuavam intactas e rodando ininterruptamente sem ocorrências. O mesmo não pode ser dito de alguns pobres cones de sinalização espalhados pelo traçado, que acabaram sendo atingidos, mas sem danos aos carros.
Além do cansaço e da falta de iluminação, o clima resolveu entrar na brincadeira. Se a temperatura beirou os 30 graus na sexta-feira, houve uma queda expressiva na madrugada do sábado.
Por volta das 3h da manhã, os termômetros registraram 17 graus, mas a sensação térmica era abaixo de 10 graus por conta dos ventos. Essa variação térmica também serviu como teste (ainda que involuntário) para a durabilidade dos componentes da Rampage, que enfrentou calor e frio em um intervalo curto de horas.
Chegou a minha vez!
Os primeiros raios de sol surgiram no céu duas horas depois. O tempo ensolarado veio juntamente com a reta final do evento, quando chegou a minha vez de assumir o volante de uma das Rampage.
Escolhi a versão Laramie Turbo Gasolina, justamente a configuração mais vendida da picape da Ram. Foram 20 minutos divertidos nos quais decidi pegar leve para poupar os freios e os pneus. Afinal, eu que não queria ser responsável por atrapalhar o desafio depois de tantas horas.
Felizmente tudo deu certo e conduzi o carro de volta aos boxes com a sensação de dever cumprido. Até certificado eu ganhei para atestar minha contribuição no recorde.
Pode comemorar
Alguns vários litros de gasolina depois, o desafio se encerrou às 15h33 do dia 25 de novembro. A prova teve duração exata de 24 horas, 1 minuto, 22 segundos e 507 milésimos, de acordo com as medições da CBA.
Os registros mostraram que uma das quatro picapes percorreu mais de 1.850 quilômetros, sendo que a quilometragem somada de todas as Rampage passou de 5 mil quilômetros. Essa distância, de acordo com a Ram, seria a mesma completada por um cliente após cerca de seis meses de uso.
Ao todo, cada picape trocou dois pares de pneus dianteiros e um par traseiro. Dois jogos de pastilha de freios foram consumidos por cada veículo, sendo que cada um teve vida útil de 12 horas.
"Essas trocas não tiveram ligação direta com o consumo dos componentes, mas sim à segurança, ou seja, após a análise dos nossos fiscais e técnicos, mesmo que os pneus ou pastilhas de freio ainda estivessem em condições reais de uso, eram preventivamente trocados para garantir segurança aos pilotos", afirmou Dilser.
Mais de 200 pessoas participaram do desafio, entre pilotos, técnicos, equipes de manutenção e profissionais de logística. Sob a liderança de Sérgio Berti, experiente diretor de provas de competição, uma equipe de profissionais da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) acompanhou cada momento para chancelar a iniciativa.
Ao final das 24 horas, o cansaço dividia as atenções com a euforia da missão cumprida. Fim da maratona para todos que participaram do evento. Ou quase todos, já que as quatro Rampages ainda precisavam realizar uma última tarefa: voltar rodando até São Paulo para serem submetidas a uma revisão preventiva. Vai pensando que vida de carro é fácil...
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