Gasolina do futuro: como é o novo combustível que governo Lula propõe
Alessandro Reis
Do UOL, em São Paulo (SP)
06/01/2024 04h00
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou em setembro ao Congresso o Projeto de Lei do Combustível do Futuro, um pacote de iniciativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a emissão de gases de efeito estufa, com previsão de investimento de R$ 250 bilhões.
Dentre as propostas do projeto, em tramitação na Câmara dos Deputados, está a criação de um marco regulatório dos combustíveis sintéticos no Brasil, que já são fabricados em pequena escala, inclusive pela Petrobras. Trata-se da gasolina ou do diesel fabricado sem petróleo, também conhecido como e-fuel. Além da Petrobras, essa gasolina é produzida por empresas como a Porsche e será usada para abastecer os carros da Fórmula 1.
Esse cenário surge em meio à crescente popularidade dos carros flex movidos a etanol. "Precisamos pensar em aspectos tributários. Os tributos devem desincentivar o uso de combustíveis que geram externalidades negativas e incentivar aqueles que ajudam o meio ambiente", afirma o analisa político Sergio Balaban, chefe de gabinete do senador Fernando Farias (MDB-AL).
Quais são as vantagens da gasolina sem petróleo?
Sua produção utiliza como matéria-prima hidrogênio e dióxido de carbono - um dos maiores causadores do efeito estufa
Assim, encerraria a dependência do petróleo, recurso natural que inevitavelmente irá acabar e tende a ficar cada vez mais caro
Por ser líquido, o e-fuel pode aproveitar a infraestrutura atual de abastecimento
Além disso, pode ser fabricado na forma de diesel e não exige alterações nos motores que utilizam a versão fóssil desses combustíveis
Da mesma forma que a gasolina convencional, o combustível feito sem petróleo emite poluentes
Porém, ele traz a vantagem, como o etanol, de neutralizar na respectiva produção o carbono resultante de sua queima - ao retirar dióxido de carbono da atmosfera
Para a neutralização acontecer, a fabricação da gasolina sem petróleo precisa utilizar necessariamente fontes "limpas" e renováveis de energia, como hidrelétricas, eólicas e solares, explica o engenheiro Everton Lopes
Gasolina sem petróleo já é fabricada no Chile
A Porsche já fabrica no Chile a gasolina sem petróleo, ainda em pequena escala
O governo alemão, além de marcas como Audi e Bosch, também têm investido nessa tecnologia
A perspectiva de benefícios econômicos e ambientais é alentadora, porém sua produção ainda é cara ante a gasolina tradicional, destaca Everton Lopes
O desafio, afirma, é reduzir o custo da extração do hidrogênio necessário para fazer a gasolina sintética, a partir de um processo conhecido como eletrólise
"É grande a quantidade de eletricidade utilizada para separar o hidrogênio presente na água e isso eleva bastante o custo de produção", pontua.
O combustível sintético já era usado pela Alemanha na época da Segunda Guerra Mundial e, desde então, as pesquisas têm evoluído. Porém, o petróleo ainda é muito mais fácil e barato de ser obtido e refinado" Everton Lopes, engenheiro
Além de servir para sintetizar combustível líquido, o gás também é visto como opção às caras e pesadas baterias de veículos a propulsão elétrica.
Por meio das chamadas células de combustível, incorporadas a automóveis, o hidrogênio gera eletricidade para impulsionar as rodas.
Modelos como o Toyota Mirai já trazem essa tecnologia e são abastecidos com hidrogênio.
Fórmula 1 vai adotar e-fuel
A Fórmula 1 vai adotar o e-fuel a partir de 2026, quando ira entrar em vigor o novo regulamento de motores, mantendo a propulsão híbrida já adotada, porém com o novo combustível e mais eletrificação.
Esse seria o caminho para a mais importante categoria do automobilismo mundial não migrar, ao menos por ora, para motores totalmente elétricos.
A expectativa é de que a novidade, quando chegar aos consumidores, garanta a sobrevida dos motores a combustão interna, seja de forma "pura" ou com algum nível auxílio elétrico. Hoje, tudo indica que propulsores convencionais estão com os dias contados por conta dos limites cada vez exigentes dos governos em relação às emissões de poluentes.
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