Criança pede, e caminhoneiro se dá mal em manobra que virou moda perigosa
Há publicações de caminhoneiros nas redes sociais exibindo manobras perigosas que acumulam milhares de visualizações.
A mais comum dentre elas é a chamada "quebra de asa", na qual o motorista vira o volante de um lado para o outro com o intuito de desequilibrar a carreta do veículo e, até mesmo, provocar o seu levantamento lateralmente.
Em um vídeo que circula no Facebook, que na data desta reportagem já tem mais de 1,3 milhão de visualizações, crianças estavam na beira de uma rodovia quando uma carreta se aproxima. Na gravação, elas pedem, movimentando os braços, para o motorista executar a manobra "quebra de asa". O caminhoneiro atende o pedido, mas perde o controle e o veículo acaba tombando.
Não sabemos a data nem o local da postagem, mas podemos dizer, sem risco de errar, que se trata de acidente com alto risco de letalidade.
Ainda que o veículo não se envolva em um desastre, os movimentos de chicote e de projeção lateral provocam uma forte torção estrutural. Com isso, diversos componentes se desgastam de forma extrema, como pneus, suspensão e pino-rei, que é o principal responsável por engatar a carreta na quinta roda do caminhão. Além de tudo isso, é grande a possibilidade causar desalinhamento e danos às mercadorias.
O que diz a lei
Segundo o advogado Marco Fabrício Vieira, membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), os maus caminhoneiros que aderirem à prática desrespeitam as leis de trânsito e também estão sujeitos e penalidades nas esferas penal e civil
"Trata-se de infração gravíssima prevista no Artigo 174 do CTB [Código de Trânsito Brasileiro], que pune o condutor que exibir ou demonstrar manobra sem permissão da autoridade de trânsito com multa multiplicada por 10 vezes, totalizando R$ 2.934,70, mais suspensão do direito de dirigir e remoção do veículo", afirma o especialista.
No campo criminal, caso a conduta atinja terceiros, prossegue Vieira, o motorista poderá responder pelos crimes de homicídio culposo na direção de veículo automotor, previsto no Artigo 302 do CTB, com pena de 2 a 4 anos de detenção, ou lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, com pena de detenção de 6 meses a 2 anos.
Na esfera civil, acrescenta o especialista, a "quebra de asa" pode causar grande dano patrimonial ao proprietário do caminhão que, além do próprio prejuízo, arcará com os danos materiais e morais causados eventualmente a terceiros.
Acidentes e fatalidades nas estradas só aumentam
Rodolfo Rizzotto, fundador da entidade de vítimas Trânsito Amigo e do SOS Estradas, afirma que os veículos pesados estão envolvidos em quase 50% das mortes nas rodovias brasileiras.
Segundo o ele, muitos dos condutores desse tipo de veículo usam drogas para se manter acordados. Rizzotto cita levantamento da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), segundo o qual quase 1,5 milhão de motoristas das categorias C, D e E (que representa 10% do total) ainda estavam com o exame pendente no começo de 2024.
Em 2021, estipulou-se que, até 2023, o Brasil deverá cumprir a meta de reduzir os acidentes fatais pela metade, sob o nome de 'Década da Segurança viária'. Entretanto, conforme o Painel CNT de Acidentes Rodoviários, a quantidade de ocorrências só aumentou Rodolfo Rizzotto, do SOS Estradas
Foram 67.620 acidentes em 2023 (versus 64.547 em 2022), nos quais 78.294 pessoas ficaram feridas em 2023 (em 2022 foram 72.971) e 5.605 foram a óbito no ano passado (mais do que os 5.439 em 2022).
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