Mesma peça, preços diferentes: itens de veículo 'popular' servem em carrões
Julio Cabral
Colaboração para o UOL
09/03/2024 04h00Atualizada em 11/03/2024 14h51
Comprar um carrão sempre pode ser um risco em termos de despesa, afinal, os valores das peças vão bem além do esperado para um automóvel normal.
Mas há maneiras de contornar isso. Uma delas é buscar itens que são compartilhados entre marcas de luxo e generalistas. Não são raros os casos de importados que têm itens de reposição em comum com outros fabricantes, muitas vezes do mesmo grupo automotivo. E não estamos falando de gambiarras.
Por questões de economia de escala, utilizar o máximo possível de componentes compartilhados aumenta a eficiência e diminui o custo da produção. A maioria dos fornecedores também é comum entre os fabricantes.
É assim até com Porsche. Os motores mais sofisticados são compartilhados com outras marcas do grupo Volkswagen, exemplo da Audi, mas modelos mais "acessíveis" possuem muito em comum com os carros da própria VW.
O próprio motor EA888 2.0 turbo do Porsche Macan é compartilhado com modelos mais simples e baratos do conglomerado automotivo - a diferença está no posicionamento longitudinal, enquanto no VW Passat e no Golf, também da Volks, o propulsor é transversal, o que não impede o uso de componentes.
"Não é apenas isso, freios, alguns amortecedores, braços de suspensão, coxins e outros pontos também podem ser usados. As peças têm o mesmo número de série", afirma Sérgio Carvalho, consultor mecânico independente.
Economia possível
Rico em marcas, o grupo Volkswagen também traz o mesmo compartilhamento de componentes entre os VW e Audi. Baseados na mesma plataforma MQB, o A3 e o Golf, por exemplo, têm parentesco muito forte, então vale o esforço de buscar mecânicos independentes e marketplaces. A mesma coisa acontece com o A4 e família, quase todos com peças semelhantes às do Passat.
Não há dúvidas de que o uso de peças parecidas é mais comum entre marcas do mesmo conglomerado.
Ou até que foram no passado, exemplos da Volvo, Land Rover e Jaguar, fabricantes que pertenceram ao grupo Ford.
"Parte de polia, ignição, comando e escape têm uma familiaridade com a Ford. A parte de corrente de sincronismo você consegue usar também. Parte de suspensão como bucha são as mesmas. Estamos falando de quase 30% de economia entre uma peça e outra", explica Adriano Fernandes, responsável pela área técnica da Elibell, oficina especializada em Jaguar, Land Rover e Volvo. O 2.0 turbo da Ford era um caso comum, tendo sido utilizado pelo Fusion, Evoque, XC60, todos com manutenção onerosa, mas não no mesmo nível.
A economia é possível mesmo quando se troca a peça de um modelo de luxo por a de um automóvel também premium, mas de valor inferior.
"Eu não costumo colocar peça similar nos carros, mas temos um coxim hidráulico de Freelander que está por R$ 800, mas, se for no ele Evoque, o valor está mais alto, sendo que se trata da mesma peça", completa Adriano.
Outros fabricantes têm compartilhamento de alguns motores, caso do motor 1.3 turbo que equipa carros da Renault, tais como o Duster e a Oroch, e também está nos Mercedes-Benz menores. Embora com diferenças, não é raro a comunalidade, uma vez que o quatro cilindros foi criado em uma parceria entre a marca francesa e a alemã. Vale ressaltar que nem todos os componentes têm tudo em comum.
Um dos casos mais famosos da utilização em família de um propulsor é o Citroën DS3, Peugeot 208 GT e o MINI Cooper de duas gerações atrás.
O motor 1.6 turbo muda em detalhes de periféricos (exemplo do turbo) e afins. O Mini Cooper é da mesma família, mas tem coisas diferentes. Algumas peças podem ser compartilhadas, especialmente as periféricas. É o caso da bomba de alta pressão."A bomba N18 do Peugeot 208 GT custa R$ 5.849. Essa peça se aplica aos Peugeot e Citroën. O valor deve estar próximo do dobro no Mini. Tudo fica mais caro", exemplifica Eric Faria e Silva, sócio-proprietário da 3M Motors.
Utilizar os mesmos fornecedores está longe de ser algo incomum. Um bom caso é o câmbio ZF 8HP, caixa de transmissão que está em BMW, VW e outras. É importante lembrar que relações e outros pontos costumam mudar de modelo para modelo, no entanto, alguns componentes internos não variam da mesma maneira.
"Se uma montadora decidiu usar o câmbio 8HP em um carro mais em conta, ele é compatível com um carro premium. O dono consegue fazer também um reparo fora da concessionária, sairia bem mais barato. São montadoras diferentes, mas tem câmbio em comum", ensina Diego Inoue, da Oficina Garage 87.
O especialista também destaca carros que já foram de luxo, mas sofrem para encontrar alternativas de peças mais baratas após tantos anos de mercado. "Outros exemplos são os câmbios dos Hyundai 2.0, que podem ser compatíveis com as transmissões dos modelos nacionais 1.6. Cerca de 90% das peças internas são compartilhadas, muda a programação e algumas coisas".
Isso vale até para peças de acabamentos. Há carrões que têm botões parecidos com os modelos mais baratos do mesmo grupo, caso dos Maserati e as demais marcas da Stellantis, exemplo dos Jeep.
Para evitar furadas, é melhor conferir o número serial das partes, assim, é mais fácil ter a certeza que aquele componente foi feito de fato para o seu automóvel. "Tem que verificar o chassi, porque tem que ser feito de acordo com o catálogo", recomenda Erick.
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