Consumido pelo fogo: carro elétrico em alagamento é sinônimo de problema?
Do UOL, em São Paulo
07/04/2024 04h00
Até que algo muito desfavorável aconteça para os carros elétricos, eles vieram para ficar. Claro que muitos ainda são caros, mas à medida que os modelos a combustão também vão subindo de preço e que a tecnologia dos eletrificados vá barateando com o tempo, a tendência é de fazerem parte cada vez maior na vida das pessoas.
Mas algo chamou atenção. Voltou a viralizar imagens de um Lucid Air, supercarro elétrico, que pegou fogo ao passar em uma enchente nos EUA. Será que, enfim, descobrimos algo que impactará os carros elétricos que já circulam no país?
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Conversamos com Ricardo Takahira, engenheiro da SAE (Sociedade de Engenheiros Automotivos) que também é especialista na segurança das tecnologias automotivas e do desenvolvimento dos carros eletrificados. O especialista diz que cada caso deve ser analisado de forma isolada e com envolvimento de peritos. Mas ele tranquiliza, quando falamos do âmbito mais geral.
"Água e eletricidade não combinam. Uma vez que entra água ou ar com excesso de umidade nas baterias, isso pode facilmente ser o bastante para começar um incêndio. E carros elétricos, quando pegam fogo, é complicado controlar, pois toda a energia armazenada nos componentes químicos da bateria vai alimentar as chamas", diz Ricardo.
"Por outro lado, os projetos dos carros elétricos são muito seguros, inclusive quanto à infiltração de água. As grandes fabricantes (o que pode ou não incluir a Lucid, que é menos tradicional) seguem normas rigorosas. Inclusive, uma delas exige que o carro passe em um teste onde fica completamente submerso em água por determinado tempo", complementa.
O engenheiro destaca, portanto, a importância das borrachas presentes no sistema elétrico dos carros e todo o estudo de estanqueidade, que evitam que casos como esses ocorram. Mas ele faz, ainda, uma interessante relação com os aviões, quanto aos sistemas de segurança que os motores elétricos e as baterias trazem consigo.
"Tal como um Airbus, os carros elétricos de última geração trazem um sistema de gerenciamento nas baterias chamado de BMS. O recurso monitora ininterruptamente as condições de funcionamento delas".
"No primeiro instante que ele identifica uma alteração anormal no funcionamento das baterias, que poderia ser consequência de água ou até mesmo de alguém inexperiente que colocou a mão em um dos polos, ela corta a circulação de energia imediatamente. Só isso já é o bastante para se evitar um incêndio, como o que ocorreu com o Lucid".
"Isso tudo leva a crer que vários acontecimentos comprometeram esse carro que pegou fogo nos EUA, parecido com os fatos sucessivos que desencadeiam um acidente de avião", reflete.
Tentamos fazer um paralelo do ocorrido quanto aos fatos já registrados de carros elétricos que já pegaram fogo durante as recargas. Mais uma vez, Ricardo tira as nossas dúvidas.
"Outro fenômeno que pode desencadear um incêndio é o superaquecimento. Uma célula que esquenta aquece a seguinte, e a seguinte, e assim sucessivamente. Chamamos isso de avalanche térmica. Há outro dispositivo, similar ao BMS, que monitora a temperatura das baterias, mas, dependendo da ocasião, ele também pode não ser o bastante".
"O maior problema do superaquecimento é a passagem rápida e intensa da energia. Quando o carro acelera muito, ou se regenera carga com muita intensidade (seja durante as desacelerações, ou em carregadores muito rápidos), isso gera muito calor".
"Por isso a calibragem do carro tem que respeitar muito bem a temperatura, bem como ajuda a explicar o motivo pelo qual é impossível haver um carregador que seja mais potente do que os que existem. Mas nada disso é grande preocupação nos dias de hoje. A tecnologia ficou muito segura para prevenir esses acontecimentos", conclui.
Ou seja, se algum dia virmos um Nissan Leaf, Renault Kwid E-Tech, Caoa Chery iCar ou qualquer BYD ou JAC pegando fogo, algo bem pontual pode ter ocorrido. Ainda não há motivos para se ter medo dos carros elétricos. "Eles vieram para ficar", diz o engenheiro da SAE.
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*Com informações de matéria publicada em 13/12/2022