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Carros de concessionária VW 'fantasma' do RS continuam 0 km 25 anos depois

Quantum 1996 verde é um dos dois carros zero que integravam showroom da concessionária Comercial Gaúcha, em Estrela, e hoje estão à venda; esta foto tirada em 2012, quando a loja ainda existia, exibe perua no respectivo showroom Imagem: Reginaldo de Campinas

Julio Cabral

Colaboração para o UOL

01/05/2024 04h00

A concessionária Comercial Gaúcha em Estrela, no interior do Rio Grande do Sul, ficou conhecida no Brasil inteiro na década passada.

Por ter ficado fechada por muito tempo, mas com o acervo intacto, a loja que integrou a rede autorizada da Volkswagen guardou muitos tesouros da época em que ainda estava ativa - dentre eles, os dois carros desta reportagem: um Santana 1999/2000 com apenas 49 km rodados e a sua opção perua, uma Quantum 1997/1997 com impressionantes 21 km no hodômetro. Colocados à venda pelo especialista em carros clássicos Reginaldo Ricardo, o Reginaldo de Campinas, ambos os carros foram símbolos dos anos 80 e 90, período em que eram os modelos mais luxuosos da VW no mercado brasileiro - com exceção do Passat importado.

O status de zero-quilômetro ajuda a justificar o valor pedido por cada um dos automóveis: nada menos que R$ 185 mi cada.

VW Santana em foto de 2012, quando ainda estava no showroom de concessionária no interior do RS Imagem: Reginaldo de Campinas

O montante pode ser suficiente para comprar um Jeep Compass. No entanto, diferentemente do utilitário, a dupla é de uma raridade única, uma vez que cada integrante rodou o apenas o suficiente para ser classificada como 0 km. Para um colecionador ávido por Volks, são "moscas brancas", como dizem os interessados quando se referem aos grandes achados automotivos.

O estado dos Volkswagen é como se eles tivessem saído da linha de montagem de São Bernardo do Campo, São Paulo, graças à cápsula do tempo da concessionária pertencente ao senhor Otmar Essig, que teria falecido em 2022. É um legado automotivo e tanto. Os carros em questão foram adquiridos por um colecionador diretamente de Otmar em 2012 e agora são anunciados para um potencial novo proprietário.

O próprio Reginaldo esteve no local em 2012, conheceu pessoalmente o antigo dono e tirou as fotos que ilustram este texto - inclusive do Santana e da Quantum, ainda na loja.

Foto da concessionária Comercial Gaúcha tirada há 12 anos por Reginaldo de Campinas, ainda com carros na vitrine Imagem: Reginaldo de Campinas

A "concessionária fantasma" foi fechada em 2001 e permaneceu intacta pelo menos até 2020, quando UOL Carros publicou reportagem a respeito - naquela época, o senhor Essig já não frequentava mais o local devido a uma enfermidade, segundo relatos de vizinhos do estabelecimento. Atualmente, o prédio e o respectivo terreno estão à venda, protegidos contra vandalismo, contam comerciantes do entorno. Os demais carros do antigo showroom, muitos ainda zero-quilômetro e em perfeito estado, ainda estariam guardados, em local desconhecido, sob os cuidados de parentes de Otmar.

Sedã e perua de luxo

Santana 1999 em foto recente, no showroom de Reginaldo de Campinas, à espera de um novo dono Imagem: Reginaldo de Campinas

Lançado no Brasil em 1984 como o primeiro sedã de luxo da VW, o Santana passou por várias modificações até 2006, quando saiu de linha. O Santana da Comercial Gaúcha e já traz a reestilização de 1999, mudança que retirou os quebra-ventos e introduziu para-choques mais arredondados. Foi o último retoque que o sedã e a perua Quantum receberam antes de saírem de linha.

A reestilização tentou adequar o Volks para enfrentar uma concorrência mais atual, entretanto, o projeto já era antigo e ficou mais restrito aos taxistas e pessoas que buscavam a receita de confiabilidade e preço relativamente acessível do Santana. De qualquer forma, ter um modelo clássico das últimas fornadas é algo que deve ser valorizado, ainda mais no tom cereja metálico.

Foto tirada em 2024, no showroom de Reginaldo de Campinas no interior de SP, exibe emblema da Comercial Gaúcha na traseira da Quantum Imagem: Reginaldo de Campinas

O interior do sedã se diferencia da perua por ter acabamento em dois tons - preto na parte superior do painel e cinza na parte de baixo.

Já a Quantum foi introduzida no Brasil em 1985. O modelo à venda traz pintura verde-escura que reluz de tão bem mantida. Até o tampão sanfonado do porta-malas está em perfeito funcionamento.

Os dois carros contam com o igualmente clássico motor AP 1.8 8V longitudinal, venerado pelos fãs da Volkswagen até hoje. O propulsor a gasolina gera 100 cv a 5.500 rpm e 15,5 kgfm de torque a 3.000 rpm, sempre casado com um câmbio manual de cinco marchas.

Em foto recente do respectivo anúncio de venda, Quantum 1997 exibe no painel a impressionantemente baixa quilometragem Imagem: Reginaldo de Campinas

Ambos estão com plásticos no interior e outros detalhes que reforçam o grau de conservação extremo. Como atestado do carinho, há todos os manuais e chave reserva. Os pneus também são originais, cobertos por calotas integrais.

O emblema da concessionária na traseira é outro detalhe saudosista, sem falar dos adesivos com códigos de produção. Como conta Reginaldo em um vídeo no seu canal no YouTube, somente os apliques de tecido nos painéis de porta do sedã estão um pouco descolados, uma característica dos VW de então, não por descuido, mas por terem sido prensados a quente. É algo facílimo de arrumar, contudo, o atual proprietário dos carros preferiu mantê-los originais.

A perua e o sedã têm ar-condicionado e direção hidráulica, itens valorizados até hoje. No caso do Santana, há também toca-fitas original de época. Curiosamente, não há vidros elétricos em nenhum deles, uma característica comum em versões de acesso daquele período.

Quando ainda estava montada e 'congelada' no tempo, há 14 anos, Comercial Gaúcha exibia um Fusca Última Série 1986 zerado Imagem: Reginaldo de Campinas

Nem por isso o acabamento é depauperado, como bem provam os revestimentos aveludados dos bancos, um tecido que dá vontade de pentear antes de sentar.

São tantos pontos interessantes que fica difícil citá-los. O mais importante é que os carros representam uma viagem no tempo para uma época em que Fernando Henrique era presidente do Brasil, a internet era discada e de péssima qualidade e os celulares ainda eram para poucos. Quanto aos preços, ter uma máquina do tempo nunca foi barato.

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