Sem infraestrutura, donos de carro elétrico recorrem a recarga 'caseira'

Ansiedade de autonomia ou alcance. O sentimento talvez não esteja (ainda) em livros de psicologia, mas já é conhecido pelos donos de carros elétricos.

Dificuldade para encontrar um ponto de recarga é algo comum, dada a infraestrutura ainda incipiente, e faz qualquer um suar frio, pois ninguém quer ficar em "pane seca" - no caso, com a bateria descarregada.

Por isso mesmo, ter um carregador doméstico é quase uma necessidade para aqueles que moram longe de redes de recarga ou simplesmente querem aliviar o estresse, aproveitando o período em que estão na residência para dar aquela "abastecida".

Porém, ainda persistem muitas dúvidas justificadas, uma vez que os carros elétricos chegaram há poucos anos no mercado nacional.

Até hoje, muitos veem a instalação doméstica como algo restrito às casas, sejam elas de condomínio ou não. Porém, muito pelo contrário, prédios novos e antigos também podem ser equipados com carregadores.

Prédios novos com pontos de recarga

Segundo a construtora Eztec, já há lançamentos de edifícios com pontos de recarga, algo que não é uma novidade.

O que chama atenção é o fato de alguns prédios novos já terem o recurso em todas as vagas de estacionamento, como é o caso de empreendimento lançado no bairro paulistano do Brooklin, na zona sul. O movimento não se limita mais a um espaço ou outro, o que denota uma clara evolução.

Essa tendência (ainda) não é observada em prédios mais acessíveis, a exemplo da Tenda, construtora especializada 100% em projetos do Minha Casa, Minha Vida. Nada impede adaptações futuras.

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"Em edifícios modernos, que já contemplam a recarga de veículos elétricos, é comum a vaga de garagem ser tratada como mais um recinto da residência. Dessa forma, o medidor original de consumo de eletricidade permanece sem alterações", diz Clemente Gauer, diretor de assuntos corporativos da Tupi Mobilidade e diretor do grupo de trabalho e segurança da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico).

Argumento de vendas

Não se trata apenas do fato de os novos moradores exigirem a tecnologia como algo necessário na realidade atual deles.

O fato é que ninguém quer comprar algo que fique datado amanhã.

"É um argumento de vendas, sempre explico aos interessados que isso é o futuro, que um prédio sem isso ficará defasado rapidamente. Ninguém quer comprar um imóvel caro que desvaloriza em pouco tempo", ressalta uma corretora de imóveis, que não quis se identificar.

Nem sempre é uma questão de exigência do consumidor. Em Salvador (BA), uma lei municipal obrigará os novos empreendimentos a virem com pontos de recarga em 2025 - a regra não inclui condomínios subsidiados ou criados como política pública de moradia.

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O mesmo está sendo discutido no Rio de Janeiro - não será obrigatório colocar um ponto por vaga de garagem, mas já é um grande avanço.

Demanda somente cresce

Independentemente se são condomínios novos, prédios antigos ou casas, a demanda é crescente.

"A demanda está crescendo exponencialmente. A condução de um carro elétrico é contagiante e a conveniência de dispor de um veículo 100% carregado todos os dias, por uma fração do valor anteriormente despendido em combustível, é uma experiência muito desejada. Muitos países têm leis que obrigam os condomínios a permitir a instalação de estações de recarga, em um movimento conhecido como "right to plug" - em português "o direito de plugar" ou, simplesmente, o direito de recarregar", explica Clemente.

E os prédios mais antigos?

Muitos podem se perguntar se terão de trocar de prédio para ter acesso aos pontos de recarga individuais ou coletivos, mas não há dúvidas de que a maioria dos edifícios antigos pode ser adaptada, salvo problemas técnicos.

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"Com exceção de raros entraves administrativos, hoje dispomos de todos os recursos necessários para instalar estações de recarga em qualquer tipo de condomínio com máxima segurança. Seguimos as mais rígidas normas de segurança internacionais, além das nacionais definitas por Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia] e ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas]. Com isso, mesmo que não tenhamos a carga elétrica desejada, conseguimos através da inteligência de nossa plataforma gerenciar ativamente a potência das estações de forma a contemplar o condomínio com uma estação de recarga segura e eficaz", afirma Gauer.

Há algum risco de incêndio?

A suscetibilidade a incêndio de baterias, tais como as de íons de lítio utilizadas nos carros elétricos que ainda são as mais comuns, deixa alguns usuários preocupados com possibilidades de incêndio.

"Foi uma justificativa dada pelo meu síndico para impossibilitar a instalação desses equipamentos aqui no meu condomínio", diz Rodrigo Carvalho.

Morador do Rio de Janeiro, ele afirma que também já foi alegado que a rede elétrica do prédio não permitiria a instalação de um carregador - mas, de acordo com especialistas, o impacto de voltagem seria pequeno, uma vez que estamos falando de carregadores domésticos, não aqueles de altíssima voltagem para recarga rápida.

"Diferentemente do que se imagina, segundo a agência de pesquisa sueca Rise, não há qualquer correlação entre o processo recarga e os raríssimos episódios de incêndio envolvendo os carros elétricos. Os sistemas de recarga dos carros elétricos são tão seguros que, na menor constatação de eventual pane, a recarga é imediatamente interrompida. Também há um rigoroso controle do isolamento elétrico do veículo, prevenindo choques elétricos e também promovendo desligamento imediato caso se observe uma falha elétrica na estação de recarga ou no veículo", tranquiliza Clemente.

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Atraso no Brasil é de uma década

Os problemas de infraestrutura para veículos elétricos e eletrificados incentivam os brasileiros a buscarem a instalação doméstica como uma solução, conforme já falamos.

Esse movimento representa o atraso do país em relação aos investimentos para a massificação dos pontos de recarga.

"Os países que adotaram a mobilidade elétrica já suplantaram todas as questões relacionadas à infraestrutura e à sua segurança. O Brasil ainda está aproximadamente dez anos atrasado em relação ao que já é realidade na Europa, na China e até mesmo em alguns países vizinhos, como a Colômbia e o Chile. No momento, observamos ainda muitas dúvidas, incertezas e até algum medo e inverdades relacionadas aos veículos elétricos", conclui Clemente Gauer.

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